sexta-feira, 25 de março de 2022

Voo do Cagarro - 21: Ainda a Ucrânia, sempre a Ucrânia!

Postites de todo o mundo demonstrando solidariedade pela Ucrânia na Expo Dubai 2020. Detalhe de uma mensagem de Portugal.
Foto: F Cardigos

Há uns dias atrás, na Exposição Universal do Dubai, tive a oportunidade de visitar o Pavilhão da Ucrânia. Aproveitando estar naquela feira em trabalho, mesmo que modestamente, queria aliar o meu respeito e a minha solidariedade ao povo daquele magnífico país que, como todos sabemos, está a ser vítima de uma inqualificável invasão.

Pensei que iria entrar num espaço expositivo como os habituais neste tipo de encontros: Uns painéis explicativos, um filme e umas esculturas mais ou menos tecnológicas, aquilo que é o normal num pavilhão-nacional.

Não foi isso que encontrei no Pavilhão da Ucrânia. Depois do início da invasão, houve uma metamorfose. O Pavilhão da Ucrânia foi pacificamente tomado por pessoas de todo o mundo que aqui quiseram deixar uma palavra de alento e de solidariedade perante a barbárie.

Ao longo das paredes interiores, acotovelam-se muitos milhares de postites com palavras em todas as línguas e grafias, exibindo palavras como “paz”, “força”, “não à guerra” e tantas outras expressões de repúdio pela ação do Governo Russo, algumas mesmo vernaculares, e de solidariedade pelo país de cores azul e amarela. É como uma ode ao que deveria ser o humanismo! Fiquei com aquele aperto na garganta... É impossível não ficar comovido com tal demonstração de carinho.

Numa das salas interiores, a única sem postites e onde, possivelmente, antes estaria um filme a 360 graus, está agora um apelo estático à doação para as ações humanitárias. Um código QR indica como fazer as eventuais transferências.

Entristece-me que, em Portugal, alguma extrema-esquerda continue à procura de justificações para não estar claramente ao lado do povo oprimido da Ucrânia. Às palavras de tímido suporte, acrescentam sempre um “mas…” que tem tanto de inoportuno como de indelicado.

No último artigo que li e que seguia nesta linha, o autor acusava as pessoas que agora se revoltavam de antes terem sido complacentes com a invasão do Iraque e outras que tais. Apesar do Iraque ser então liderado por um ditador sanguinário, o que não é o caso da Ucrânia, muitos se juntaram, também na Horta, para censurar aquela invasão, tal como censuram esta. Guerra é guerra! E lá estavam amigos oriundos do país agora invadido e do país do governo agora invasor.

Neste caso, da invasão da Ucrânia, sinto acrescidamente por ter amigos ucranianos e russos e partilhar a sua dor. Sim, porque todos os cidadãos russos que vivem no exterior e com quem tenho falado estão contra esta guerra. Não há “mas”. Estão contra!

Vou observando nas notícias a evolução da invasão. Vejo como, todos os dias, morrem crianças e adultos. Tudo motivado pela ambição de um ditador que agora diz que irá purgar o seu próprio país de quem o contesta. Como é possível isto estar a acontecer no século XXI? Como foi possível chegar até aqui? Quais as soluções? A meu ver, há que ampliar as sanções por parte dos países livres e os cidadãos russos que vivem na Rússia têm que se revoltar. A guerra tem que parar.

Ainda no espaço internacional da Expo Dubai, falei um pouco com pessoas de muitos países sobre a situação na Ucrânia. Mais uma vez, todos demonstraram repúdio pelo que o Governo da Rússia está a fazer. Sem “mas”.

Para minha surpresa, diversas pessoas foram-me referindo que conheciam alguém que tinha ido à Polónia buscar refugiados de guerra e transportado para os seus países. Tal como tem acontecido em Portugal, a solidariedade expressa-se também a este nível. Para as pessoas de bem, é muito difícil ficar indiferente.

Porque as boas ações merecem visibilidade, para quem não sabe, informo que há uma empresa sediada na Horta cujo pessoal se envolveu numa destas ações de salvamento de refugiados. Bravo, Flying Sharks!

O Governo da Rússia, com as suas sangrentas armas, tem demonstrado a face do mal. O resto do mundo, com a sua generosidade e empatia, tem demonstrado a belíssima face do bem.

Há esperança!

Postites de todo o mundo demonstrando solidariedade pela Ucrânia na Expo Dubai 2020.
Foto: F Cardigos

sexta-feira, 11 de março de 2022

Voo do Cagarro - 20: Claro que tenho de falar da Ucrânia

Foto: F Cardigos

Para os meus amigos ucranianos, para os seus familiares e para o povo da Ucrânia em geral, toda a minha solidariedade. Os meus pensamentos estão convosco.

Claro que tenho de falar da Ucrânia. É imprescindível. E hoje, no dia em que escrevo estas palavras, falar da Ucrânia implica falar da Rússia e da Bielorrússia, essas nações dirigidas por ditadores desprovidos de bom senso, de empatia e de bondade que invadiram um país soberano e iniciaram uma guerra contra amigos e familiares dos seus próprios povos.

Escrevo estas palavras porque é necessário, na minha opinião, repetir ad nauseam que os dirigentes russos estão a proceder com maldade infinita. Estão a matar pessoas, seres humanos inocentes, incluindo crianças. Não está certo. Não está certo!

Tenho observado alguma animosidade para com russos e bielorrussos que vivem em Portugal e em outros países livres. Está errado. Obviamente, estes cidadãos não têm qualquer culpa do desnorte dos seus dirigentes.

Dito isto, os russos e bielorrussos estão numa posição privilegiada para ajudar a acabar com esta guerra. Por exemplo, podem enviar notícias livres para a Rússia. Adicionalmente, podem demonstrar descontentamento. Sei que é necessária uma dose de coragem que tem que ser bem medida, para não se tornarem alvos das ditaduras que desgraçam os respetivos países, mas, até onde for possível, indignem-se publicamente. É importante para os ucranianos e para os povos livres e mais, é determinante para a pressão que tem que se fazer sentir nos vossos países, particularmente na Rússia. Lembro uma frase de uma música do Sting que voltou a estar em voga: “Believe me when I say to you, I hope the Russians love their children too”.

Os dirigentes do Partido Comunista Português, que nos últimos dias se têm recusado a condenar a Rússia, como fizeram recentemente no Parlamento Europeu, têm todo o direito de o fazer. Parece-me caricato tentar colocar no mesmo patamar os países da NATO e a Federação Russa, mas aqui, na Europa livre, podem expressar-se à vontade. Graças à liberdade que, no passado, ajudaram a construir, hoje podem até faltar à verdade. Mas eu posso, também com liberdade, afirmar e escrever que estão a faltar à verdade. Se se sentirem injustiçados pelas minhas palavras, processem-me. Aqui, na União Europeia livre, podem fazê-lo. Já na Rússia e na Bielorrússia…

A humanidade talvez nunca tenha estado tão perto da sua própria autodestruição. As grandes potências bélicas mundiais têm acesso a armamento que pode aniquilar a humanidade e grande parte da vida em pouco tempo.

É estranho pensar no que será o nosso planeta sem esta estranha e fascinante espécie a que todos pertencemos. O vento continuará a soprar, o mar a revoltar-se, os vulcões continuarão ocasionalmente a demonstrar a sua força e, depois de passado o inverno nuclear, o pôr-do-Sol continuará maravilhoso, mas o pintor não o poderá imortalizar porque não haverá pintor. Os animais que sobreviverem e os que, entretanto, especiarem continuarão a nascer, a alimentar-se, a multiplicar-se, correndo pelo meio das florestas ou a nadar no mar imenso. Apenas ninguém lá estará para os estudar porque não haverá cientistas. Os dias e as noites perpetuar-se-ão até ao fim do sistema solar e não haverá um ser humano para se espreguiçar ao acordar ou aconchegar-se ao adormecer.

Durante mais de quatro mil milhões de anos o planeta Terra viveu sem nós. Por causa dos Putins da nossa espécie, 200 mil anos depois do aparecimento dos seres humanos, poderemos estar à beira de partir. Tenho pena. Tenho muita pena… I hope the Russians love their children too…