Terrenos agrícolas sobre-utilizados na Praia da Vitória, ilha Terceira, Açores
Foto: F Cardigos ImagDOP
Nos últimos tempos tenho ouvido
vezes sem conta aqui pelos “corredores” da Europa mencionar-se que a
agricultura da União terá de se esverdear. Na realidade, este é um discurso
“bonito” que já oiço desde 2006, quando assumi pela primeira vez responsabilidades
na área do ambiente. A verdade é que, com mais ou menos legitimidade, a grande
maioria das verbas que eram destinadas ao ambiente foram usadas para aumentar a
produção ou incluídas em medidas de bondade ambiental muitíssimo duvidosas.
Ao falar com os agricultores,
muitas vezes oiço argumentos que poderiam ser ambientalmente legítimos. Por
exemplo, os produtores de gado bravo reiteram que estão a defender a
diversidade genética ou, pelo menos, fenotípica de uma espécie. É verdade. No
entanto, a que preço isso é feito? Não estou a considerar a componente
tauromáquica, mas sim e apenas a diversidade genética. Se para criarmos gado
bravo retirarmos uma área significativa de floresta Laurissilva ou de pântanos
de altitude, estaremos a reduzir muito significativamente a biodiversidade
genética geral.
Há uns meses houve uma enxurrada
que produziu alguns estragos na ilha Terceira. Felizmente, as consequências
humanas foram nulas e as materiais não foram elevadas, mas as imagens que
circularam através da RTP/Açores e doutros meios de comunicação chegaram a
fazer recear o pior. No entanto, aquilo a que poucos ligaram foi à cor da água
que escorria pelas ruas do concelho de Angra do Heroísmo. Era castanha! Uma cor
castanha proveniente do solo que as águas que escorriam estavam a decapar a
montante. Isto é muito grave, economicamente desastroso e consequência de uma
agricultura que terá de ser diferente, também, nos Açores. Há que voltar a
promover a biodiversidade de altitude que retenha as águas de enxurrada e que liberte
essas mesmas águas, vagarosamente, durante as estações mais secas (contrariando
assim as secas que periodicamente assolam os Açores).
Perguntam-me por vezes porque há
tanta água na ilha das Flores. Na realidade, cai sobre a ilha das Flores
praticamente a mesma água que nas restantes ilhas. A diferença é que o planalto
central daquela ilha é uma enorme turfeira que retém as águas, que assim não
desaparecem com a tormenta, ficando disponíveis para, calmamente, regarem a
ilha durante a primavera e verão e alimentar a central de produção de
eletricidade da Fazendas das Lajes. Só benefícios.
Ao vermos os nossos prados verdes
de erva importada podemos pensar que estamos perante uma agricultura
ambientalmente saudável. Não é verdade! A agricultura saudável, aquela que
produz leite e carne de altíssima qualidade, resulta de prados agradavelmente contaminados
com outras espécies para além da erva. O melhor mesmo é quando essa diversidade
conta com espécies autóctones dos Açores. Aquilo que não pode acontecer de
todo, e isso é ainda pior do que os prados monoverdes, é vermos prados
castanhos-lama que resultam do sobre-encabeçamento. Ainda acontece nos Açores e
tem de acabar. Claro que tem de acabar!
Phil Hogan, o Comissário Europeu
para a Agricultura, no último Conselho Europeu para a Agricultura e Pescas
lançou o repto aos Estados Membros de usarem os seus Planos Estratégicos para
premiar os agricultores que contribuam para a eliminação da pegada carbónica da
União. Não podia ser mais claro. A agricultura mudou. Acabaram-se os exageros
de produção, os fertilizantes em excesso, os pesticidas que provocam cancros
através das águas que contaminam, as gigantes alfaias agrícolas emissoras de
gases com efeito de estufa e que compactam e deterioram o solo, e outros pecados
do passado. Acabou-se. Caso não se tenha acabado, na realidade, ir-se-á acabar
a própria humanidade. Simples, não é?
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