Uma das coisas que me preocupa é o bem-estar de quem tem a obrigação laboral de manter e melhorar os serviços públicos de que todos usufruímos (p. ex. órgãos de soberania e governo, autarquias, escolas, unidades de saúde, forças armadas, ou finanças). É evidente que pagamos impostos e, portanto, também temos o direito de exigir que se preste um bom serviço. No entanto, quer seja por uma questão de empatia, de humanismo, de bom senso ou de simples reconhecimento por quem nos apoia, os funcionários públicos merecem-me, mais do que respeito, um constante agradecimento. Particularmente, quando me encontro com funcionários públicos que desempenham tarefas que me desagradariam e, adicionalmente, são mal pagas, sinto um indominável ímpeto para lhes agradecer.
Há uns dias, na Commune
de Strassen (“Commune” é o equivalente a câmara municipal no Luxemburgo), tinha
de tratar na de um ato burocrático simples. Neste país, é escusado ir
diretamente à autarquia. É sempre mais conveniente agendar a reunião
previamente através da internet. Nesse agendamento, declara-se logo à partida
qual é o assunto e, no email que recebemos com a confirmação de agendamento,
podemos encontrar uma relação de todos os documentos que devemos ter connosco e
algumas ferramentas úteis, incluindo uma ligação internet que, através do
telemóvel, nos leva até ao local da reunião. Simples e simpático.
À porta da Commune não
nos deixam entrar nas instalações um minuto antes da hora de início de
funcionamento mesmo que estejam a cair bátegas de água, faça um frio arrepiante
e todos os funcionários estejam a postos. Já testei… Mas quando finalmente chega
a hora marcada, entramos num mundo que apenas podemos desejar a todos os
funcionários públicos a quem queremos bem.
O espaço é amplo,
espaçoso, arejado, confortavelmente aquecido, com indicações claras e precisas
e uma pessoa (agora) agradável dá-nos as últimas indicações antes da reunião. Sendo
o Luxemburgo um dos países mais ricos do mundo e vivendo-se em democracia, as
pessoas que decidem podem e tendem a tratar bem os restantes.
De repente, tudo pareceu
mudar e não para pior, mas para muito diferente! Quando ia a entrar no
gabinete, senti que estava num separador tipo “And Now for Something Completely
Different” dos “Monty Python's Flying Circus”, para quem for desse tempo.
A receber-me estava um
cão! A funcionária que iria tratar do meu assunto tinha realmente… um cão!? Como
quem tem um pisa-papéis em forma de escultura em cima da secretária, a senhora tinha
um cão e vivo! Felizmente não em cima da secretária…
A funcionária estava
muito bem-disposta e descontraída e o cão era mesmo simpático, vindo ter comigo
pedindo festas, e, depois de devidamente festejado, deitou-se preguiçosamente
ao meu lado, como se estivesse interessado no meu conforto. Que ideia
fenomenal!
Adorei a iniciativa e, ao
mesmo tempo, perguntei-me como reagiriam as pessoas em Portugal se fossem
recebidas no gabinete autárquico de apoio ao cidadão por um funcionário
juntamente com o seu cão… O certo é que muitas vezes não é um aumento no
ordenado que faz a diferença entre o funcionário sentir-se bem ou mal. Coisas
simples, imaginativas e imprevisíveis, como ter um cão no gabinete de
atendimento ao público, podem fazer diferença e, no final do dia, não custam
nada a ninguém!
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.
Sem comentários:
Enviar um comentário