As redes sociais na internet nunca foram sítios propriamente recomendáveis. Desde o início, foram mais propensas a fomentar os desaguisados e menos a promover ligações felizes entre as pessoas.
Dito isto, reconheço aspectos
positivos nas redes sociais, como seja o combate à solidão, particularmente
importante para os menos jovens e para os que se encontram isolados, permitindo
encontros e reencontros. Através das maiores redes sociais é também possível
restabelecer contactos há muito perdidos ou, como aconteceu também comigo, esclarecer
vil desinformação. A promoção de atividades de algumas pequenas organizações,
que não têm meios para aceder aos grandes meios de comunicação social (como
jornais, televisões e rádios), também é um aspecto positivo.
Inicialmente, sentíamos que
estávamos, de forma gratuita, a diversificar e a intensificar a nossa vida
social pelo facto de interagirmos através destes portais. Mas, descobrimos
depois, não era um sistema assim tão abnegado. As redes sociais tipificaram os
nossos comportamentos colectivos e, a troco de dinheiro, transmitiram essa
informação a empresas que, desta forma, puderam ajustar os seus serviços para
mais nos vender. Como afirmou com clarividência o jornalista Andrew Lewis, “se
não estás a pagar, tu não és o cliente, mas sim o produto”.
Para melhor nos conhecerem, as
redes sociais encontraram formas de nos prender ao ecrã e isso incluiu técnicas
de polarização e de incitação ao conflito. Estamos a ser manipulados para nos
mantermos em linha, a ser estudados, avaliados… A partir do momento em que este
modelo económico foi conhecido e divulgado, apenas se manteve em linha quem o
desejou. É uma decisão informada, consciente e livre e, portanto, nada há a
dizer.
Aquilo que menos perceberam e
ainda é motivo de discussão é o nível de desinformação a que, sorrateiramente,
são expostos os utilizadores das redes sociais. São públicos os processos de
manipulação em massa que influenciaram o Brexit e as eleições norte-americanas
de 2016, mas serão os únicos casos? E qual o nível da consequência? Terá sido
suficiente para alterar os resultados desses importantíssimos processos
democráticos?
Quantas discussões, quanta
desinformação? Ou mesmo, quantos roubos? Durante algum tempo, resolvi resistir
à saída até porque, perante a maldade, a postura das pessoas de bem deve ser
resistir. Senti a obrigação de tentar clarificar a argumentação errada que por
lá circulava com base no meu parco conhecimento.
Infelizmente, o terreno está
“minado”. O algoritmo favorece o desentendimento e isso ficou-me muito claro
quando um negacionista, tendo perdido todos os argumentos numa dessas
discussões me deu o knock-out: “Tu não tens razão. Caso tivesses, não
estarias tão empenhado em me contradizer. O teu empenho em apresentar
argumentos é a prova de que me queres enganar.” E pronto, o meu interlocutor
continuou a negar o efeito positivo da vacinação porque eu tinha argumentado
com factos. A grande questão, no entanto, era a razão pela qual o estava sempre
a encontrar. Em milhões de pessoas no mundo, por que raio esta pessoa me estava
sempre a cair no prato? O tal do algoritmo... E a verdade é que usei inutilmente
parte do meu tempo nesta vã tentativa de contribuir para endireitar o mundo.
Na realidade, eu não comecei a
desistir das redes sociais por ter perdido a paciência ou o interesse na
argumentação ou por recear a manipulação. Iniciei o meu processo de retirada
quando, a partir do Vietnam, usaram a minha conta numa rede social para publicar
um anúncio. Ao constatar que nem sequer podia protestar, porque já não há seres
humanos do lado de lá, compreendi que algo de muito errado estava a acontecer e
iniciei o processo de saída.
Mantenho-me passivamente no
LinkedIn por potenciais razões profissionais e no WhatsApp por reais razões
profissionais. Hoje, há minutos, saí do Twitter. Depois do Facebook, Messenger,
Instagram e Telegram foi mais um passo para a libertação.
“Qual o resultado?”, podem querer
perguntar... Sinto-me muito melhor, obrigado.
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.