Castelo de Lichtenstein
Foto: F Cardigos
Uma das coisas agradáveis de que
usufruem os expatriados de Bruxelas é da proximidade a diferentes países e
realidades. Assim, é prática comum aproveitar os finais de semana para sair da
cidade de Bruxelas e visitar algumas das cidades históricas, como Bruges ou
Gent, ou ir mesmo até a um dos países vizinhos.
Foi com este espírito que arranquei
no sábado de manhã. Havia um pequeno detalhe… eu não sabia para onde ia. Sabia
que ia, mas não tinha destino definido.
Ao levantar, tinha colocado uma
muda de roupa na mochila, pegado no estojo de casa de banho e parti
esquecendo-me do pequeno detalhe: qual o destino? Depois de avançar uns quantos
quilómetros, considerei que já era irresponsabilidade a mais e peguei no
telemóvel para inserir um qualquer destino. Calhou que o dedo premiu a letra
“L” e fez-se luz. Eu não conheço o Principado do Liechtenstein… É para aí que
vou!
Como a idade não perdoa e a vista
já não é a mesma, houve um outro pequeno detalhe que me escapou. É que, em vez
de escrever “Liechtenstein” escrevi “Lichtenstein”. A diferença é pouca em
termos de quilómetros, como notei ao chegar ao não-destino, é de apenas 150,
mas num país diferente!
Por sorte, o Lichtenstein, na
Alemanha, é uma aldeia simpática, inserida num enclave montanhoso e que, no
topo, tem um castelo com uma história interessante. Em poucas palavras, aquele
castelo não existia até que um escritor o imaginou e plasmou num romance. O
Conde de Urach, depois Duque, achou tanta piada à história que tomou a decisão
de construir o castelo. Ele lá está, sobranceiro e lindo desde meados do século
XIX! Agora, à noite, o castelo fica iluminado, parecendo flutuar como um sonho
de príncipes e princesas, dragões e outras entidades místicas e míticas que
para ali saltarão vindas diretamente de uma ópera épica de Wagner.
Pego nesta história do
Lichtenstein versus Liechtenstein
para introduzir um outro tema, mais relevante: a coincidência de nomes em
geografias diferentes. É que na Europa existem muitos outros casos de nomes
similares para regiões e países. Por exemplo, o Luxemburgo é um país e também
uma região do Sul da Bélgica.
Por essa razão, não entendo o
desconforto da maioria do povo grego com o nome acordado entre os dois países
para o novo país que fica a norte da Grécia: “República da Macedónia do Norte”.
Digamos que, na minha perspetiva, o nome ser coincidente com uma região do
norte da Grécia, a Macedónia, é até uma feliz coincidência. Muitos gregos é que
não acham piada nenhuma…
Imaginem que, nos Açores,
começávamos a implicar por causa de todos os nomes coincidentes que existem
dentro da região. Santa Cruz, Lajes e Ponta Delgada, para já não falar em
Matriz, são apenas alguns dos nomes que se repetem pelo arquipélago confundindo
turistas e criando ligações entre os habitantes desses locais. A mim,
parece-me, que havendo tantos problemas no mundo realmente relevantes, este
será um verdadeiramente secundário.
Se nos detemos e nos manifestamos
por questões tão irrelevantes como a coincidência de um nome, por que razão não
o fazemos mais vezes por problemas realmente importantes como a paz, a
democracia, a tolerância, a liberdade de expressão, o clima, o ambiente, entre
tantos outros?
Caso o nome Lichtenstein não estivesse
foneticamente perto de Liechtenstein, eu jamais teria conhecido o castelo do
Lichtenstein e a sua interessante história. Portanto, vejo na Macedónia mais
uma oportunidade do que um problema. Mas isto, lá está, sou apenas eu a pensar
alto. Alto como o castelo do Lichtenstein!
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