Através de um bom amigo açoriano, recebi cópia de um documento que mereceu notícia no jornal Público. Trata-se da nota preliminar ao relatório “Megatendências 2050, o mundo em mudança: impactos em Portugal” com a autoria da Equipa Multissetorial de Prospetiva da RePLAN - Rede de Serviços de Planeamento e Prospetiva da Administração Pública.
Com base em reuniões dentro da
administração pública e apoiados em literatura científica e técnica, ao longo
de 24 páginas são elencadas as 9 maiores megatendências: “Agravamento das
alterações climáticas”; “Pressão crescente sobre os recursos naturais”; “Diversificação
e mudança dos modelos económicos”; “Evoluções demográficas divergentes”; “Um
mundo mais urbano”; “Um mundo mais digital”; “Aceleração do desenvolvimento
tecnológico”; “Um mundo multipolar”; e, por último, “Novos desafios à
democracia”. Mais do que classificar como bom ou mau, o relatório preliminar
tenta e consegue caracterizar cada megatendência, explicar como ela se reflete
no nosso país e elencar em frases simples e diretas o que irá acontecer como
resultado dessa mesma megatendência.
Pessoalmente, eu gosto deste tipo
de abordagens em que pessoas inteligentes, bem informadas e com objetivos
nobres metem mãos à obra e tentam sistematizar os maiores desafios que se
antecipam e que teremos de enfrentar enquanto sociedade. Por exemplo, “Migrações
e deslocação de populações” são consequências da megatendência “Agravamento das
alterações climáticas”. Escolho este exemplo para demonstrar que, caso
estejamos preocupados com as migrações, o gesto mais útil é combater as
alterações climáticas e não propriamente optar por outras alegadas soluções
simplistas e miraculosas. Ao ler notícias das sensações térmicas máximas
atingidas nestes últimos dias no Rio de Janeiro, confirmo a pertinência deste
relatório e a urgência em agir. Quando estas temperaturas sentidas em valores
superiores a 60ºC atingirem Portugal, o que nos restará fazer? Emigrar?
Não fiquei admirado, mas registo
que, tal como acontece com outros relatórios de organizações internacionais
sobejamente reconhecidas e respeitadas, as questões ambientais e os desafios inerentes
à crescente digitalização, merecem também particular ênfase nestas
Megatendências. Segundo os autores, como consequência da “Pressão crescente
sobre os recursos naturais” haverá uma diminuição da qualidade dos serviços
prestados pelos ecossistemas. Relembro que entre os serviços não substituíveis
prestados pelos ecossistemas estão a transformação do dióxido de Carbono em
Oxigénio, o ciclo da água, a agricultura, e tantos outros. Ou seja, para
respirarmos, bebermos e comermos, nós precisamos de serviços dos ecossistemas
com qualidade. Portanto, curiosamente, a agricultura precisa de bom ambiente e
não o contrário.
Relativamente à digitalização
global, o relatório preliminar destaca oportunidades, refere desafios e alerta
para ameaças. Dentro das oportunidades, menciona-se que haverá impacto na robótica,
nas comunicações, na medicina, nos transportes e logística, na indústria, nos serviços,
na agricultura, no sistema financeiro e no comércio. Entre os desafios, o documento
enfatiza “o respeito pelos dados privados” e, entre as ameaças, “o aumento da
magnitude de campanhas de desinformação”, o que reforça “a relevância da
literacia digital”.
Apenas uma sociedade corretamente
informada com base na ciência e no bem poderá reagir, corrigir e adaptar-se à
mudança. Visto que a mudança é irreversível, enquanto sociedade resta-nos investir
na educação, no planeamento e na ação!
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