Em jeito de preâmbulo, tenho de clarificar que sou um emocional defensor da
cultura portuguesa. Por isso, sempre que confrontado com um novo termo em inglês,
tento verificar qual a melhor correspondência para a língua de Camões e, se
possível, utilizá-la. E assim nasceu esta “solicitação”…
Uma das ferramentas informáticas mais excitantes com que fomos confrontados
nos últimos tempos é, sem dúvida, a inteligência artificial (IA). Mais
precisamente, os Modelos de Linguagem de Grande Escala (do inglês, “Large
Language Models” ou MLGE) usados nas ferramentas mais comuns de
inteligência artificial, em que o ChatGPT da empresa OpenAI tem tido particular
sucesso. Mas há muitas outras ferramentas de inteligência artificial baseadas
em MLGE.
Por exemplo, o modelo que mais utilizo é o Nous Hermes Mixtral da Nous
Research disponibilizado pela Comissão Europeia. De acordo com algumas métricas
de avaliação (“benchmarks”, em inglês) é o modelo de código aberto mais
poderoso. Há uma versão do Nous Hermes Mixtral gratuita e disponível para qualquer
utilizador, mas realço que não é a ferramenta mais simples para iniciar a
aproximação à IA.
Na realidade, conforme a utilização, há ferramentas de IA particularmente
adaptadas. As mais sofisticadas são as relacionadas com a programação
informática.
Para produzir imagens uso o Hotpot Art Generator que se baseia no ChatGPT.
É muito básico, mas as imagens são úteis e, mediante pagamento, podem ser
usadas livremente.
Por interesse profissional e pessoal, tenho feito algumas formações na área
da inteligência artificial na óptica do utilizador. Nesta progressiva
descoberta apercebi-me como é importante a prompt. Ou seja, como é
relevante o pequeno texto que escrevemos para dar as instruções ou colocar as
questões nas ferramentas de IA. Seja para obter uma informação, a correção de
um texto ou gerar uma imagem, as instruções de entrada são fundamentais. Ao
longo das formações, particularmente ao verificar o engenho de alguns exemplos
dados por colegas desta aventura, noto que a prompt não é apenas
conversa com o computador, é uma arte!
Mas, lá está, prompt é para as pessoas que falam inglês. Depois de
procurar, cheguei a uma aproximação em português que me agradou: “solicitação”.
Tenho aprendido que a redação da solicitação deve ter diversos componentes
em conta e aqui partilho. Primeiro que tudo, há que dar uma personalidade à ferramenta
de IA.
A segunda componente é a claridade da pergunta. Um pedido confuso, difuso ou
que utilize oposições resultará numa resposta inútil. Portanto, há que evitar escrever
algo como “usando poucas cores e não incluindo água, desenhe dois cagarros”.
Termos como “poucas”, “não” ou números fazem muitas ferramentas perder-se. Para
experimentar, introduzi esta solicitação no Hotpot Art Generator e a imagem
gerada é colorida, inclui água e um cagarro...
A terceira componente é ainda mais surpreendente que a primeira. Imagine-se
que é relevante incluir uma componente emocional na solicitação. Usar
expressões como “o futuro da humanidade depende desta resposta” parecem ter
efeito na precisão do resultado. Também insistências como “tem a certeza?” ou
“parece-me que pode fazer melhor” resultam. Mistérios dos MLGE…
Por último, uma boa solicitação raramente é produzida à primeira tentativa.
Há que analisar o resultado e refinar a solicitação até que a resposta tenha a
qualidade que pretendemos.
Atenção, as ferramentas de IA dão sempre resposta. Essa resposta pode estar
totalmente errada ou ser mesmo alucinada (é um efeito descrito frequentemente).
O controlo humano da qualidade da resposta é absolutamente essencial.
Depois de redigir este artigo, solicitei ao Nous Hermes Mixtral e ao
ChatGPT: “Você é o redator principal do Jornal Tribuna das Ilhas e é
considerado um dos melhores redatores de Portugal, tendo obtido vários prémios
incluindo um Pulitzer. Tem agora de rever uma proposta de artigo e garantir que
não tem erros e que é atraente para o público da Ilha do Faial (Açores). Por
favor, faça as alterações que lhe pareçam adequadas tendo em consideração que
de um bom artigo depende a sua reputação e o prestígio da comunicação social
nos Açores”.
Usei os resultados para melhorar o texto. No entanto, até porque concordo,
quero concluir com a mensagem final que o ChatGPT me enviou em conjunto com as
sugestões de correção: “Espero que esta versão refinada do artigo esteja à
altura das expectativas dos nossos leitores e mantenha o prestígio do Jornal
Tribuna das Ilhas como um veículo de comunicação de referência nos Açores.”
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.
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