Sem dúvida, as épocas da minha vida em que me senti mais saudável foram coincidentes com períodos de maior atividade física. Quando ainda jovem, lembro-me da prática de natação, mais tarde, já a viver no Faial, os jogos de futebol de cinco no torneio do INATEL integrando a saudosa equipa SuperDOP, e, desde que cheguei ao centro da Europa, a prática de corrida e os percursos citadinos em bicicleta. Sempre que intensifiquei a prática desportiva, senti-me melhor.
Todos os anos, também por positiva imposição da minha entidade empregadora,
faço uma visita ao departamento de Saúde no Trabalho. A médica, uma senhora
finlandesa que fala um bom português com sotaque brasileiro, informou-me que,
caso queira viver saudável, tenho de manter e intensificar a atividade
desportiva. Repliquei orgulhosamente dizendo que andava sempre de bicicleta,
mas a senhora doutora não facilitou. “Tem e deve andar de bicicleta, tudo bem, mas
assim, de pé, fazendo força até suar”, disse fazendo enérgicos movimentos com
as mãos e bamboleando a cabeça de um lado para o outro. “Que canseira…”, pensei
para com os meus botões. Externamente, numa superficial e desengonçada tradução
do inglês duly noted, saiu-me um “devidamente registado, senhora
doutora”.
A partir de então, as minhas idas e vindas do trabalho passaram a ser mais
esforçadas. No entanto, sei bem que não é suficiente. A manutenção física, no
meu caso, exige mais. Por isso, sempre que a força anímica o permite, visto uns
calções, calço os sapatos de ténis e vou correr.
Sendo honesto, odeio correr. Aquela coisa de andar às voltas e a saltitar
pé ante pé é uma canseira sem propósito útil imediato que me exaspera...
Portanto, ao longo do tempo, fui aprimorando a metodologia para não ser tão
desesperante. O primeiro passo foi compreender que é possível correr com
auscultadores. Ao contrário do que acontecia “no meu tempo”, hoje há soluções
de alta qualidade em termos sonoros e de ajuste ao ouvido. Com isto, entretenho
as corridas com boa música ou informativos podcasts. Caso corresse
durante horas, algo que nunca me aconteceu, tenho a certeza de que estes
equipamentos estariam à altura.
O segundo passo foi adquirir um daqueles relógios que, para além de medirem
o tempo, registam também as pulsações e os saltitos, deduzindo assim as
distâncias percorridas e as calorias queimadas. Ao ter uma métrica quantitativa,
os desafios pessoais vão-se acumulando e sinto um saudável ímpeto de ir fazendo
mais e melhor.
Por último, a paisagem. Com a corrida, comecei a embrenhar-me nas florestas
e noutros percursos pedestres da Bélgica e do Luxemburgo. Descobrem-se recantos
magníficos e até já vi veados selvagens na Forêt des Soignes e em Fraiheetsbam!
A mistura entre estar ofegante, o mistério do desconhecido e a descoberta
constante fazem com que a corrida seja hoje, para mim, já não um pesadelo, mas
sim um bom período. Ainda não cheguei ao ponto de gostar de correr, mas já
estive muito mais longe.
Um dos objetivos em termos desportivos é, um dia, ter a forma física
suficiente para correr uma prova desportiva. Por modo de ser pessoal, não
concebo fazer uma prova desportiva em que não faça os mínimos para não ser
embaraçante. Por essa razão, muito dificilmente alguma vez irei fazer um trail
run; “isso é para os bons”, dizem insistentemente os meus botões. Uma prova
mais modesta, quem sabe…
Apesar de colocar os trail run competitivos de lado, fazer os
percursos equivalentes está também entre os meus objetivos. Ao meu ritmo e com
todo o tempo do mundo, eu quero vir a deliciar-me com as vistas, com os cheiros
e com os sabores menos acessíveis das ilhas do Triângulo dos Açores. Até lá,
vou seguindo, no Tribuna das Ilhas e noutros meios de comunicação social, as
fotografias, os vídeos e as descrições dos extraordinários seres humanos que
enfrentam o desafio e conquistam os percursos. São verdadeiros heróis!
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.
Sem comentários:
Enviar um comentário