Foto: F Cardigos
Não é possível enumerar a quantidade de vezes que disse as
palavras “estrada” e “piscina”. Em todas elas, nunca me ocorreu perguntar de
onde vêm. Sinto-me até um pouco envergonhado com isso, mas é verdade.
No caso do português, habitualmente as palavras têm origem
no galego, no latim, no grego, no árabe, no castelhano, no francês ou numa fusão
das anteriores. Algumas palavras, poucas, são mais antigas e derivam do
lusitano e muitas, cada vez mais e mais recentes, são importações da língua
franca dominante, o inglês.
Para cada palavra é engraçado verificar a origem e a sua
razão de ser. A parte da gramática que trata disso, a origem e a formação das
palavras, tem o nome de “etimologia”, como é referido no Dicionário Priberam da
Língua Portuguesa.
Por exemplo, “alameda” (já que a seguir vou falar de
estrada) significa uma rua orlada de árvores, normalmente álamos. “Alameda” tem
mais uma curiosidade: é uma das palavras que, apesar de começar por “al”, não
tem origem árabe, mas, aparentemente, latina. A primeira parte parece ter
origem em “ulmus”, álamo, e, a segunda parte, talvez em “eda”,
que indiretamente significa onde está a raiz.
Reparem que, no parágrafo anterior, fui cauteloso quanto à
origem e à decomposição da palavra. É que, em muitos casos, há grandes dúvidas
quanto à verdadeira história de cada palavra. No caso de “alameda”, numa curta
pesquisa na internet, encontrei três possibilidades.
Mas eu quero é falar na “estrada” e na “piscina”!
Normalmente, quando visito um museu ou afim, antecipadamente,
costumo ler um pouco sobre o local. No dia da visita, e se estiver disponível,
alugo uns equipamentos de audiodescrição.
Assim não aconteceu nas ruínas de Pompeia que visitei no
final do ano passado. Por entre a emoção e a excitação de estar a entrar num
local que queria visitar desde que me lembro, esqueci-me de todo de verificar
se havia áudio-guias disponíveis. Quando dei por ela, era tarde.
A visita ficou certamente a perder por isso, mas, mesmo
assim, foi um dos locais mais fascinantes em que já estive. Entre o drama vulcânico
latente e bem lembrado pelo sobranceiro Vesúvio, a quantidade de informação
disponível e a qualidade da recuperação do sítio, a sensação é de imersão no
passado romano. Para quem visitou Conímbriga, é o mesmo só que muito melhor. E
Conímbriga já é espetacular!
A espaços, involuntariamente, aqui e ali, estive próximo de
guias que explicavam aos seus clientes o funcionamento da cidade. Tão próximo
que não pude deixar de ouvir o que diziam. Entre muitas outras coisas, todas
elas pertinentes, detive-me quando o guia disse “o nome estrada vem do latim
porque os caminhos eram feitos com diversas camadas, strata”. Evidentemente!
Como nunca me tinha ocorrido? As estradas “modernas”, ao contrário dos caminhos
de pé posto da antiguidade, têm camadas de solidificação, de escorrência e de
pisoteio. “Estrada” vem de strata.
Ao passar na zona do antigo mercado, um espaço circular, no
meio, intrigava os turistas. Aproximei-me e ouvi o guia a perguntar “como acham
que era a melhor forma de conservar os peixes nas cidades ribeirinhas da
antiguidade?”. “Salgado”, pensei eu para com os meus botões. Tão depressa
pensei como tão depressa asneei. “Vivos, claro, como é evidente”, disse o guia com
um grande sorriso e acrescentando, “Este espaço era uma piscina onde os peixes
e outros organismos marinhos eram mantidos vivos até serem vendidos. Piscina
vem de piscis e esta é uma das piscinas originais”.
Pompeia é muito mais do que duas palavras. Pompeia é
História, é drama, é educação e é tantas outras coisas que merecem ser
recordadas. Aprendi imenso naquele dia em Pompeia. No entanto, fiquei com plena
consciência que, com o planeamento e enquadramento adequados, poderia ter
aproveitado muito melhor. Resta uma solução: Um dia, hei-de voltar!
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.
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