sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Crónicas do Voo do Cagarro - 43: Aprendendo nas ruínas em Pompeia

 
Arruamento em Pompeia.
Foto: F Cardigos

Não é possível enumerar a quantidade de vezes que disse as palavras “estrada” e “piscina”. Em todas elas, nunca me ocorreu perguntar de onde vêm. Sinto-me até um pouco envergonhado com isso, mas é verdade.

No caso do português, habitualmente as palavras têm origem no galego, no latim, no grego, no árabe, no castelhano, no francês ou numa fusão das anteriores. Algumas palavras, poucas, são mais antigas e derivam do lusitano e muitas, cada vez mais e mais recentes, são importações da língua franca dominante, o inglês.

Para cada palavra é engraçado verificar a origem e a sua razão de ser. A parte da gramática que trata disso, a origem e a formação das palavras, tem o nome de “etimologia”, como é referido no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. 

Por exemplo, “alameda” (já que a seguir vou falar de estrada) significa uma rua orlada de árvores, normalmente álamos. “Alameda” tem mais uma curiosidade: é uma das palavras que, apesar de começar por “al”, não tem origem árabe, mas, aparentemente, latina. A primeira parte parece ter origem em “ulmus”, álamo, e, a segunda parte, talvez em “eda”, que indiretamente significa onde está a raiz.

Reparem que, no parágrafo anterior, fui cauteloso quanto à origem e à decomposição da palavra. É que, em muitos casos, há grandes dúvidas quanto à verdadeira história de cada palavra. No caso de “alameda”, numa curta pesquisa na internet, encontrei três possibilidades.

Mas eu quero é falar na “estrada” e na “piscina”!

Normalmente, quando visito um museu ou afim, antecipadamente, costumo ler um pouco sobre o local. No dia da visita, e se estiver disponível, alugo uns equipamentos de audiodescrição.

Assim não aconteceu nas ruínas de Pompeia que visitei no final do ano passado. Por entre a emoção e a excitação de estar a entrar num local que queria visitar desde que me lembro, esqueci-me de todo de verificar se havia áudio-guias disponíveis. Quando dei por ela, era tarde.

A visita ficou certamente a perder por isso, mas, mesmo assim, foi um dos locais mais fascinantes em que já estive. Entre o drama vulcânico latente e bem lembrado pelo sobranceiro Vesúvio, a quantidade de informação disponível e a qualidade da recuperação do sítio, a sensação é de imersão no passado romano. Para quem visitou Conímbriga, é o mesmo só que muito melhor. E Conímbriga já é espetacular!

A espaços, involuntariamente, aqui e ali, estive próximo de guias que explicavam aos seus clientes o funcionamento da cidade. Tão próximo que não pude deixar de ouvir o que diziam. Entre muitas outras coisas, todas elas pertinentes, detive-me quando o guia disse “o nome estrada vem do latim porque os caminhos eram feitos com diversas camadas, strata”. Evidentemente! Como nunca me tinha ocorrido? As estradas “modernas”, ao contrário dos caminhos de pé posto da antiguidade, têm camadas de solidificação, de escorrência e de pisoteio. “Estrada” vem de strata.

Ao passar na zona do antigo mercado, um espaço circular, no meio, intrigava os turistas. Aproximei-me e ouvi o guia a perguntar “como acham que era a melhor forma de conservar os peixes nas cidades ribeirinhas da antiguidade?”. “Salgado”, pensei eu para com os meus botões. Tão depressa pensei como tão depressa asneei. “Vivos, claro, como é evidente”, disse o guia com um grande sorriso e acrescentando, “Este espaço era uma piscina onde os peixes e outros organismos marinhos eram mantidos vivos até serem vendidos. Piscina vem de piscis e esta é uma das piscinas originais”.

Pompeia é muito mais do que duas palavras. Pompeia é História, é drama, é educação e é tantas outras coisas que merecem ser recordadas. Aprendi imenso naquele dia em Pompeia. No entanto, fiquei com plena consciência que, com o planeamento e enquadramento adequados, poderia ter aproveitado muito melhor. Resta uma solução: Um dia, hei-de voltar!

Vesúvio sobranceiro a Pompeia.
Foto: F Cardigos

* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.

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