Navio de investigação científica "Arquipélago".
Foto: F Cardigos
Ao ler, em novembro, uma nota de imprensa sobre o sector das algas e, hoje, o 2022 Blue Economy Report, ambos responsabilidade da Comissão Europeia, fiquei ainda mais convicto que a sua aposta na economia do mar é séria e potencialmente consequente. Na nota, a Comissão explicava a importância das algas como alternativa e complemento à agricultura tradicional e como poderá ser relevante para a captura e diminuição das emissões de gases com efeito de estufa, como são os casos do Dióxido de Carbono e do Metano que causam acidificação, e regenerar o oceano e os mares através da remoção de nutrientes que causam eutrofização.
Sigo as temáticas relacionadas com o uso sustentável do Oceano desde os finais dos anos 90. Entre regulamentos, diretivas, linhas de financiamento e comunicações, a Comissão Europeia tem traçado um caminho seguro.
Em contraste, este entusiasmo da Comissão não foi imediatamente acompanhado por investimentos privados equivalentes. Houve uma falha que inibia a adesão e a utilização das oportunidades sistematicamente abertas. Os orçamentos, que são sempre mais elevados nos investimentos marítimos, o risco, que é exponenciado pela física, química e biologia marinhas, e o desconhecimento do sector financeiro relativamente ao mar foram, durante anos, responsáveis por esta inibição.
Entretanto, algo mudou e para melhor. O sistemático estudo científico do mar, onde o Instituto Okeanos da Universidade dos Açores teve um papel essencial, e os projetos de literacia dos oceanos retiraram parte das relutâncias relacionadas com a falta de conhecimento e o receio a ele associado. Nasciam assim as primeiras empresas emanadas de projetos de investigação (“spin-offs”, em inglês). De seguida, com a criação de fundos específicos e aceleradores de investimento, as administrações regionais e central foram cruciais para gerar dezenas de novas pequenas empresas (“start-ups”, em inglês).
Estes passos intermédios foram essenciais para que, mais recentemente, surgissem diversos fundos de capitais de risco dedicados ao mar que erodiram substancialmente a barreira que se colocava aos investidores. Os fundos de capitais de risco são uma forma de investir mais dinâmica e versátil, muito alicerçada no conhecimento e apostando numa relação próxima entre o financiador e o empreendedor.
Hoje, em Portugal e na generalidade da União Europeia, começam a surgir os mais imaginativos projetos que usam todas as características do Oceano para produzir alimento seguro e de qualidade (seja através da pesca sustentável ou da aquacultura responsável), medicamentos inovadores, transportes de carga mais eficazes, turismo marinho mais informado e energia limpa. Por razões profissionais, tive a oportunidade de acompanhar alguns dos visionários e visionárias que se espalham pelas ilhas e pelas costas Sul e Ocidental de Portugal e reconheço que a economia azul está bem viva!
Não quero destacar qualquer dos fundos que incluem capitais de risco nem os empresários que lideram esses investimentos, mas uma pesquisa sumária na internet ou a consulta das páginas da Direção-Geral de Política do Mar demonstrarão o benigno explodir de muitas dessas iniciativas. Por exemplo, sabia que há soluções no mar da Ponta de Sagres com potencial para a diminuição da dor crónica? Sabia que há soluções portuguesas para a redução radical das emissões dos navios de cruzeiro?
Há um mundo novo e este está pintado de azul. Entre os diminutos e sobre-utilizados 92 mil quilómetros quadrados de terra que ocupa o nosso pequeno retângulo e suas ilhas ou o 1,7 milhão de quilómetros quadrados da Zona Económica Exclusiva de Portugal, onde parece ser mais sensato fazer investimentos de longo prazo? A estratégia foi bem montada, as soluções começam a despontar e eu sinto que o futuro tem cada vez mais tons de azul!
Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da União Europeia.
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