Abaixo menciono alguns países e, porque me parece útil, à frente de cada um deles coloco o valor de índice de democracia correspondente, segundo uma Unidade especializada do Grupo The Economist. A escala vai de 1 (mínimo) a 10 (máximo).
Num artigo anterior, mencionei um
livro da autoria de Raphael Glucksmann recentemente publicado. O eurodeputado,
jornalista e ativista Raphael Glucksmann vale por si mesmo, mas é impossível
não referir que ele é filho de um dos mais relevantes pensadores da segunda
metade do século XX, André Glucksmann.
Volto ao livro de Raphael para
escalpelizar um pouco mais o seu conteúdo. “La Grande Confrontation” trata da
invasão russa (2,28) da Ucrânia (5,42) e como, na perspetiva do autor, isso
resultou em parte de corrupção, de laxismo e da desatenção dos Estados da União
Europeia. Considero este um livro obrigatório para quem se preocupa com a
democracia, embora me pareça não estar ainda disponível em português (apenas no
original, em francês).
Ainda mais que a extensa justificação
para o estado das coisas, interessou-me a parte final, em que o autor aponta
caminhos para possíveis soluções. Um dos pontos cruciais que Glucksmann defende
é a impossibilidade de a democracia sobreviver à desatenção. Há que criar
pressão e motivação a todo o momento porque os perigos exteriores à democracia existem
e existirão sempre. Nunca baixar a guarda! Sobreviverão as democracias que estiverem
dispostas a se defender. Quem o escreve é também coordenador da Comissão Especial
sobre Ingerência Externa do Parlamento Europeu. E, acrescento agora eu, mesmo
com ações de defesa da democracia, o sucesso não é garantido. Que o digam os
cidadãos da Região Administrativa Especial de Hong Kong (5,28) e da
Bielorrússia (1,99), esmagados por sistemas antidemocráticos.
Um dos pontos defendidos por
Glucksmann é a necessidade de privilegiar as relações económicas com os países
amigos. No fundo, explica ele de forma exemplar, há apenas que garantir que as ações
estabelecidas a nível diplomático têm eco nas relações comerciais. Justificando
pelo absurdo, que sensatez tem repudiar os sistemas autoritários russo e chinês
(1,94) e, ao mesmo tempo, privilegiar a dependência energética com a Rússia e
dar a gestão dos nossos portos marítimos à China. Não faz qualquer sentido. E,
claro, as relações comerciais da União Europeia com a Noruega (9,81) e com o
Canadá (8,88), democracias livres, não podem ser postas no mesmo plano que as
nossas relações com o Irão (1,96) ou a Coreia do Norte (1,08). Por muito que a Organização
Mundial do Comércio o queira impor, não pode ser igual.
O outro ponto fundamental defendido
pelo autor é a ecologia. Para ele, membro do Grupo Socialista do Parlamento
Europeu, a ecologia é o único caminho para a Europa. De uma só vez, a Europa
poder-se-á livrar de dependências de energias fósseis oriundas de países
terceiros e colocar-se na vanguarda tecnológica se investir seriamente na
inovação científica. No entanto, Glucksmann refere que os Verdes europeus não
são, em muitos casos, verdadeiros ecologistas, visto estarem presos a dogmas e a
soluções que a história já provou não serem sensatas. A título de exemplo, proponho
eu, veja-se o repúdio da pesca elétrica (“pulse fishing”), repúdio este apoiado
também pelos Verdes no Parlamento Europeu. Seria uma pesca muito mais ecológica
do que os pesados, poluentes e destruidores arrastões. Segundo Glucksmann, e
volto a repetir que ele é do Grupo Socialista, o movimento Verde poderá ser o
porta-estandarte desta necessária revolução se se libertar de preconceitos e
aceitar a melhor ciência.
O melhor mesmo é ler o livro.
Fica clarinho que mais importante do que tentar impor as soluções democráticas
a quem não as quer ou não tem condições para as aceitar, o melhor caminho é
demonstrar em permanência e para todo o mundo ver que a democracia, no modelo
ocidental, é a solução governativa que mais promove a felicidade individual e
coletiva. Ecologia, liberdade e democracia!
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.
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