Há uns dias, um bom amigo enviou-me um interessante artigo sobre abelhas publicado no jornal New York Times (“The beekeepers who don’t want you to buy more bees”, escrito por David Segal). No artigo defendia-se a surpreendente tese que a defesa das abelhas passava por conter a proliferação de colmeias.
Segundo o autor, houve, de facto, um problema de decréscimo generalizado das
populações de abelhas. Seja devido a pragas (parasitas), ao uso massivo de pesticidas
e fertilizantes na agricultura industrial, à perda de habitat ou às alterações
climáticas, as populações de abelhas decresceram muito, para níveis
assustadores. Mas… e este “mas” é importante, este decréscimo não é hoje
transversal a todas as espécies de abelhas.
Escreve o autor que as espécies de abelhas produtoras de mel, as abelhas
domesticadas, estão robustas e as suas populações estão a crescer. Esta
recuperação de meia dúzia de espécies muito deve à ação humana, nomeadamente
com o investimento em novas colmeias para a produção de mel e estimuladas, também,
para promover a polinização. Lembro que há diferentes tipos de polinização
conforme as espécies de plantas e muitas dependem de animais para mediar a sua reprodução.
Se as abelhas domesticadas estão bem de saúde, já as populações das cerca
de duas mil espécies de abelhas selvagens não estão a ter uma proteção efetiva
e as suas populações estão a decrescer. Acontece que estas espécies de abelhas
selvagens são acrescidamente importantes enquanto polinizadoras para espécies
de plantas em que são especialistas e, também importante, porque se não
desempenharem o seu papel ecológico abrem-se brechas no ecossistema.
Procurei um pouco e concluí que estes nichos sem dono podem ser ocupados
por espécies invasoras e agressivas, como são algumas espécies de vespas. A
seguir, depois de ocuparem o território, estas vespas invasoras e predadoras de
abelhas afastam o que resta das populações já debilitadas. Sobre o perigo das vespas
invasoras na Europa aconselho o recente artigo do jornal Guardian “‘Excruciating’
hornet sting leaves Rome dinner party guest on crutches as plague spreads”
por Angela Giuffrida.
Pior ainda é a proteção exagerada das espécies produtoras de mel. O
crescimento destas populações de abelhas domesticadas faz com que as flores
disponíveis para as espécies de abelhas selvagens diminuam muito. A este
título, aconselho a leitura da tese “Competition between wild bees and
manged honeybees – a review of floral preferences” escrita por Charlotte
Hansson da Universidade de Ciências Agrícolas da Suécia.
Como conclusão, o artigo do New York Times refere que é importante produzir
mel e que as abelhas produtoras de mel são relevantes para a polinização de
diversas espécies de flora. Portanto, há que manter a dinâmica de produção de
mel, mas, prioritariamente, é urgente proteger as espécies de abelhas
selvagens. Ajudar está ao alcance do cidadão comum. As pessoas interessadas em
promover a diversidade de abelhas e, já agora, outros insectos podem cultivar
flora selvagem e construir um chamado “hotel para insectos”. Os designs
para estes originais hotéis estão disponíveis na internet e qualquer um os pode
colocar no seu jardim.
A mensagem da minha parte é que proteger o mundo natural não resulta de uma
única ação. É da escolha pessoal por entre a diversidade de opções oferecidas
pela ciência que a cidadania se deve exercer. Por mim, que já tenho um jardim
de flores selvagens (com a enorme vantagem de ser muito fácil de manter),
falta-me construir o hotel para insectos. Vai ser em breve!
Por muito importante que seja, o meu mundo preferencial não é feito em
terra, mas sim na água salgada. Interessam-me muito todas as ações que ajudem a
proteger a biodiversidade e a geodiversidade presentes nos oceanos e o Mar dos
Açores em particular. A esse título, se concordarem, convido-o a juntar-se à
petição pública “MARDOSACORES” disponível na internet e que pretende fortalecer
a implementação urgente da Rede de Áreas Marinhas Protegidas dos Açores.
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.
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