A partilha periódica de conhecimentos gerais ou do
resultado da exploração de um tema específico é uma boa prática que tenho
observado nos melhores locais onde já trabalhei. Com esta postura e num
intervalo de tempo que pode variar entre o semanal e o bimestral, os colegas
expõem e explicam o que estão a fazer em termos de trabalho e recebem em troca
conselhos ou informações complementares que resultam do trabalho dos restantes
colegas. Para além destes óbvios benefícios, também aumenta as sinergias
humanas, fortalece a solidariedade laboral e, portanto, há uma nítida melhoria
do ambiente de trabalho.
Neste dia, o colega que estava encarregue de palestrar
entrou na sala de reunião uns minutos antes dos restantes. Quando eu lá cheguei
já havia um conjunto de pequenos frascos de medicamentos em cima da mesa. “Que
tens aí dentro?!” Disse eu entre o admirado e o meio perdido visto o tema da
palestra estar bem longe de produtos farmacêuticos, vacinas ou cosméticos que
pudessem justificar aquela parafernália.
“Sabes, tudo isto que aqui falamos é muito importante,
mas há guerras lá fora. Há tanto sofrimento... As nossas palestras são
importantes, sem dúvida, mas há algo maior e que exige ação em todos os
momentos. Aqui, dentro de cada frasco, estão sementes de flores que colhi no
jardim de casa. Agora espalho as sementes pelas pessoas de bem, para que possam
plantar algumas flores por aí. Que as guerras sejam também contrariadas por
flores. É pouco, mas é o que está ao meu alcance. Tentar contrariar a loucura...”
O meu espírito pragmático e analítico impede-me de
apreciar a partilha de “pedaços de plantas” (uma forma pouco polida de dizer
“ramos de flores”) como um gesto de conforto, amor ou paz. Compreendo a
bondade do gesto e, por isso, também o faço, mas... fica-me sempre um certo
sabor a contradição paradoxal. O meu colega, sábio, resolveu esse problema com
a oferta de flores potenciais dentro de frascos reutilizados.
De qualquer forma, admito e concordo: As flores, em todas
as suas formas, têm o poder de orientar o cérebro dos humanos para pensamentos
pacíficos e harmoniosos. Portanto, sejam juntas ou separadas do restante
organismo, as flores acompanham alguns dos momentos mais dignos e solidários da
humanidade, pelo menos, já desde o tempo de Inês de Castro...
Em São Francisco, no final dos anos 60, as flores
povoavam os cabelos de quem cantava a necessidade do amor e da beleza. O
movimento “flower power” estava no seu auge e hoje tão distante… Lembro-me de
como os cravos invadiram a cidade de Lisboa em abril de 1974. Eram flores de
esperança e de revolução pacífica.
Sinto que o nosso planeta precisa de flores, mais flores,
e aprender com elas, como o Pequeno Príncipe aprendeu com a rosa e como todos
podemos aprender com a “Desert Rose” do Sting. Do outro lado do espectro do
amor, como os lusófonos se emocionaram com a “Rosa de Hiroxima” de Vinícius de
Moraes cantada pela voz maior de Ney Matogrosso...
As flores aí estão! Basta voltar a olhar para elas e
partilhar a beleza da sua fragância e da sua estética. Tirar os olhos da
violência, recusá-la, recusar quem a quer impor ou vender e olhar para as
flores, olhar pelas flores. Aprender a beleza, a harmonia, a fraternidade e
como podem estas ser tão agradáveis e compensadoras.
No formato da ilha mais linda ou na esperança do meu
colega. As flores e, se possível, as flores nas Flores…
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de
opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva
responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da
Comissão Europeia.
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