Fazendo uma pesquisa na internet, rapidamente se encontram muitas descobertas importantes ocorridas em 2023 no mundo da ciência e tecnologia. A American Chemical Society, a National Geographic, a Science, o Smithsonian e outros publicaram listas sensacionais que recomendo vivamente. Este artigo não tem a pretensão de ser uma dessas listas. Apenas, até porque me foi pedido, faço uma abordagem a alguns avanços que me parecem ser particularmente importantes.
A banalização da chamada inteligência artificial ocorreu, na realidade, em
2022 quando a empresa OpenAI disponibilizou gratuitamente o ChatGPT. No
entanto, foi em 2023 que se começou a entender a dimensão da habilidade do
algoritmo e as suas consequências.
Atrás escrevi “chamada inteligência artificial” porque ainda está por ver
se é realmente inteligente… Os resultados que se obtêm na revisão de textos e
na sumarização de pequenos artigos são muitíssimo bons, mas tente-se obter uma
resposta mais complexa, como o resultado da integração de diferente legislação,
e os resultados são risíveis. Ou seja, a plena articulação lógica, e o mesmo se
aplica à ética, ainda não está ao alcance das atuais ferramentas e isso faz uma
enorme diferença.
A aplicação da inteligência artificial ao mundo das artes tem obtido
resultados tão interessantes que os artistas já demonstraram a sua revolta. O
alegado plágio de material de base e a potencial substituição de seres humanos em
parte do processo criativo já motivaram processos legais, manifestações e
greves.
As questões éticas reclamam regulamentação urgente para as ferramentas informáticas
que procuram reproduzir a mente humana. Mais uma vez, a União Europeia tem sido
precursora e inspiradora nesse processo.
A física e a astronomia, particularmente enriquecidas pelo novo telescópio espacial
James Webb, parecem estar em convulsão. A cada momento, aquilo que os
cientistas veem no universo primitivo parece colocar mais questões do que os debates
que encerra. Tento imaginar as conversas entre os cientistas… “O que estamos a
observar não é bem o que esperávamos ver…”
No mundo marinho, continua o esforço para mapear todo o fundo dos Oceanos.
Têm sido descobertos montes submarinos, autênticas montanhas subaquáticas
(incluindo nos Açores), e que desconhecíamos de todo. A este propósito
recomendo a leitura do “The Deepest Map” de Laura Trethewey. A exploração do
mar profundo tem mais de aventura do que de perigo, mas o acidente do “Titan”
ilustrou em 2023 que o mar não perdoa qualquer desleixo.
Para os próximos anos, aguardo com muita curiosidade os resultados da
aplicação da computação quântica, nomeadamente no que diz respeito à medicina
de base genética. Um livro que recomendo, “Supremacia Quântica” de Michio Kaku,
dá pistas do que poderá resultar desta nova tecnologia. É essencial para quem
gosta de espreitar o futuro.
O regresso em força à lua, motivado pela exploração comercial e pela
competição entre superpotências parece irreversível. Estão planeadas novas
missões e, parece-me, cada uma delas trará nova ciência para partilhar.
A fusão nuclear controlada parece estar mais próxima (embora ainda não haja
publicações científicas), prometendo energia barata, segura e ambientalmente
adequada. Os incêndios, a poluição, as inundações e as epidemias são em parte o
resultado da excessiva utilização de combustíveis fósseis. Há que encontrar
alternativas perenes, como poderá ser a fusão nuclear. Oxalá chegue a tempo,
porque o outro tempo, esse, está cada vez mais longe de ser o que era…
No entanto, não há panaceias científicas e tecnológicas. Tal como os novos
painéis solares por si só não resolverão os problemas ambientais, a fusão
nuclear também não o fará. Será da conjunção de esforços constantes e
holísticos que sairá a solução para o maior problema a ameaçar a presença de
seres humanos no planeta Terra.
Mais pelo avançar constante em toda a linha do que por um evento marcante
em particular, na minha opinião 2023 revelou-se um ano importante para o
progresso da ciência e da tecnologia. Em temas tão díspares como a física
observada no universo distante até aos fundos dos oceanos, há pessoas
incrivelmente inteligentes a trabalhar e a partilhar resultados fascinantes.
Cada um de nós pode ou não ser autor do que se seguirá, mas é, mesmo que não o
saiba, protagonista da inevitável transição ecológica e ética que se impõe
neste salto para o maravilhoso desconhecido chamado futuro.
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.
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