Matriz hipotética de auxílio à decisão de voto.
O Fórum Económico Mundial
entrevistou recentemente 1490 líderes mundiais sobre os 20 principais riscos
que nos traz o ano de 2024. Os resultados completos e detalhados em 124 páginas
podem ser encontrados com uma simples pesquisa na internet usando as
palavras-chave: 2024 Global Risks Report pdf. Aqui, neste artigo de
opinião, vou-me reter apenas nos 5 mais significativos e de forma simplificada.
Estes cinco riscos estão
divididos em três categorias: ambiente, tecnologia e sociedade. O maior destes
riscos é o relacionado com os “eventos climáticos extremos” e este é apontado
por 66% dos líderes mundiais. Em segundo lugar aparece a “má informação e
desinformação gerada por inteligência artificial” apontada por 53%, depois a “polarização
da sociedade” apontada por 46%, a “crise causada pelo custo de vida” apontada
por 42%, e esta lista é encerrada pelos “ciberataques” apontados por 39%.
Para além dos riscos a
curto prazo, o Fórum Económico Mundial pediu para os líderes se expressarem também
sobre os riscos a longo prazo, neste caso a 10 anos. Para os líderes mundiais
entrevistados, dos 5 maiores riscos a longo prazo, os quatro primeiros estão na
categoria de ambientais e o último destes cinco na categoria de tecnologia. Os
quatro ambientais são, novamente em primeiro lugar, “eventos climáticos
extremos”, depois as “mudanças extremas nos sistemas terrestres”, a “perda de
biodiversidade e colapso dos ecossistemas” e, por último, “falhas nos recursos
naturais”. O quinto maior risco é também um tópico coincidente com a lista de
curto prazo, “má informação e desinformação gerada por inteligência
artificial”.
Por estes dias foi
divulgado que 2023 não foi apenas o ano mais quente de sempre. Foi ainda mais
quente do que os cientistas tinham previsto, reforçando a ideia que o
aquecimento global, para além de estar a aumentar, pode mesmo estar a acelerar.
Não tenho palavras para descrever as consequências que isto terá para a
humanidade e, com a pouca voz que tenho, grito: Agora! Há que passar das
medidas de fazer de conta para as medidas que contam! Cada responsável, cada
político, cada cidadão de bem tem de fazer a sua parte.
Olho para a tempestade
que devassou a parte baixa da cidade da Horta e penso na temperatura de 2023.
Não é tempo de apontar culpados, até porque todos o somos. É tempo de fazer
muito melhor! Agora! Tomar consciência dos riscos deve-nos motivar a agir com
consciência, planeando ações ou promovendo quem se dedica a planear e a agir para
minimizar com competência estes e outros riscos.
Em vésperas de eleições
regionais, na antecâmara da campanha para as eleições nacionais e europeias,
este é o momento de se pensar no que queremos para o nosso futuro e para o
futuro de quem queremos bem. Há que ler, conversar (com e como seres humanos…),
refletir, decidir e votar.
Para decidir antes de
votar, eu integro os riscos globais, como os mencionados atrás, numa matriz de
células vermelhas mais vasta. Nessa matriz, coloco os nomes dos partidos e
coligações na horizontal e os pontos que considero essenciais na vertical.
Para mim, pessoalmente,
os pontos essenciais são: (a) posicionamento relativamente à União Europeia,
(b) NATO, (c) Euro, e (d) às guerras na Ucrânia e em Gaza, (e) as expressões de
racismo e intolerância, e (f) as propostas demagógicas e populistas, (g) a importância
dada ao ambiente e, apenas para as eleições nacionais, (h) a reforma da justiça.
Depois de ler as
propostas de programa de Governo e ouvir os candidatos, começo a preencher a
matriz com vermelho nas interceções que classifico de negativas. Só as forças
partidárias que passam razoavelmente em branco na matriz podem ser alvo do meu
voto. Reparem que, propositadamente, não refiro qual a minha preferência em
cada ponto. Isso é do meu foro privado e, até por razões de ética profissional,
não o posso revelar.
Na mesma perspetiva, nas
eleições a nível regional, adiciono à matriz pontos relacionados com (i) a
gestão ambiental, proteção da biodiversidade e áreas protegidas, (j) as
ciências marinhas com base no Faial, (k) a produção primária sustentável, (l) o
serviço regional de saúde, (m) a educação, (n) o apoio à cultura e (o) apoio ao
jornalismo regional independente.
Há outros pontos, como o
desporto, a produção primária industrial e tantos outros, que serão, com toda a
legitimidade, prioritários para outras pessoas. Mesmo eu vou acrescentando e
retirando pontos como cada um me parece essencial para o momento ou processo
eleitoral em causa. É da escolha pessoal, privada e dinâmica dos pontos
essenciais que resulta a beleza, diversidade e eficiência do processo
democrático.
A democracia depende
totalmente da participação consciente e informada no dia das eleições. O
primeiro passo é pensar e o último é votar. Vote!
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.
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