Num artigo anterior detive-me sobre os gastos energéticos em iluminação pública. Para quem não leu, o ponto central era a oportunidade de analisar cada pequeno aspecto dos gastos energéticos e tentar torná-lo melhor.
Hoje, neste artigo, irei escrever um pouco sobre a energia e os
transportes. A mensagem essencial, para quem não quiser ler mais, é que são
necessárias boas estratégias de alto nível (do Estado e das autarquias) para
que a economia energética nos transportes seja uma realidade.
Os transportes públicos coletivos consomem menos energia que os transportes
particulares, todos sabemos. Quando usamos o carro, estamos a provocar mais
gastos energéticos do que se usarmos o comboio, o autocarro, o elétrico (“tram”
em muitos países) ou o metropolitano. Também como consequência da energia
consumida, o carro tem maior impacto ambiental.
Se assim é, por que não escolhemos por sistema utilizar os transportes
públicos? O problema, na minha opinião, jaz na falta de oferta adequada em
termos de disponibilidade (há muitos locais sem transportes públicos), em
termos de acessibilidade (em muitos locais os transportes públicos são caros), em
termos de segurança e em termos de conforto (os transportes públicos têm de ser
asseados e pontuais).
Por princípio, apenas pode haver crescimento da oferta onde há procura.
Este pode ser um entrave ao investimento, particularmente nas sociedades mais
liberais, em que o orçamento de Estado está sob pressão. Não defendendo de todo
o despesismo, tenho de assinalar que há experiências em que o risco do
investimento nos transportes foi esbatido por uma massiva adesão.
O que não pode acontecer de todo é o transporte particular privado ser mais
barato que o transporte público coletivo. Isso não faz qualquer sentido. Por
exemplo, se eu viajar de carro entre Bruxelas e o Luxemburgo, o preço do
combustível é significativamente menor que o preço do bilhete de comboio. Isso
não pode acontecer. Se queremos tirar carros das ruas por causa dos danos
ambientais oriundos da sua construção, por causa das emissões atmosféricas, e por
causa dos microplásticos que resultam da erosão dos pneus a questão do custo é
séria. Os transportes públicos têm que ser uma alternativa economicamente
viável em relação ao transporte privado. Posto de outra forma, o transporte
privado tem que “pagar” a sua pegada ambiental em termos de emissões e outros
danos.
Extremando esta abordagem, há que considerar o transporte particular um
luxo e taxá-lo enquanto tal, mas garantir que os transportes públicos têm todas
as características que mencionei atrás. Com base em estudos de viabilidade
económica e ambiental, as mais-valias da taxação do transporte particular poderão
e deverão ser utilizadas nos transportes públicos.
No Luxemburgo é fantástico entrar num qualquer transporte público coletivo
terrestre (autocarro, comboio ou tram). É asseado, pontual, seguro e… é grátis!
Há, neste momento, outras experiências de gratuitidade nos transportes públicos,
incluindo em Portugal, e o problema tem sido apenas o enorme sucesso.
Haja condições e haverá muitas pessoas a passar para os transportes
públicos coletivos! Isso é muito importante para readquirirmos a qualidade
ambiental de que necessitamos para continuar a viver no planeta Terra…
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.
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