A Comissão Europeia mantém em permanência um programa de monitorização da
temperatura global do ar e da água do mar disponível em linha. Este sistema, com
nome oficial “C3S/ECMWF”, é, na realidade, mais conhecido por “Climate Pulse”.
Na página internet Climate Pulse podemos ver atualizações, quase em tempo
real, das principais variáveis climáticas globais fornecidas pelo Serviço de
Monitorização das Alterações Climáticas do Sistema Copernicus, uma parte do Programa
Espacial da União Europeia. Tudo isto para enfatizar que é um sistema credível
por ser baseado em ciência robusta e com extraordinários engenheiros na sua
génese e manutenção.
O Climate Pulse disponibiliza a temperatura do ar e a temperatura do mar
atuais e disponibiliza registos históricos desde 1940 para a atmosfera e desde
1979 para o oceano. Por exemplo, podemos verificar que a temperatura do ar no
dia do Desembarque da Normandia (6 de junho de 1944) era, em média, 15,5ºC.
Avancemos 80 anos e, para o mesmo dia de 2024, a temperatura média do ar no
nosso planeta ascendeu a 16,49ºC. Cerca de um grau de diferença. No dia 6 de
junho de 1944 estivemos 0,32ºC abaixo da média e no mesmo dia em 2024 estivemos
0,67ºC acima da média.
Usando o mesmo sistema, no dia 22 de julho de 2024, a temperatura média do
ar chegou aos 17,16ºC. De acordo com os dados disponíveis no Climate Pulse,
esta foi a temperatura mais alta jamais registada na atmosfera do nosso
planeta. Nesse dia, a anomalia em relação à média foi de 0,9ºC.
Tudo o que referi atrás é verificável na internet, no Climate Pulse, sem
necessidade de registo ou de ter de aceder a sistemas complexos. Por exemplo,
no dia em que fiz dez anos, dia em que viajei de avião das Flores para o Faial
e o senhor comandante me convidou para ir ao cockpit (que bela prenda de anos!),
a temperatura média da água do mar no planeta Terra era de 19,94ºC, ou seja 0,32ºC
abaixo da média. Passadas dezenas de anos, no início de agosto de 2024 estamos
0,5ºC acima da média. A temperatura da água do mar é particularmente importante
por diversas razões, incluindo por servir de reguladora da temperatura do ar.
Estamos mal, estamos a lidar mal com a necessidade de poluir menos, mas,
digo eu, estamos a tempo de mudar. Coletivamente, há algo que pode ser feito,
mas tem de ser feito depressa.
Nas conversas com amigos e conhecidos, realizo que, para a maioria, é
impensável agir em termos sociais ou ambientais sem um qualquer retorno
evidente e imediato. É estranho, até porque a sobrevivência dos nossos filhos e
netos depende em muito do que fizermos agora. Mas, aparentemente, esse não é um
retorno suficiente para justificar a ação. Em termos sociais, por exemplo, uma
fotografia no instagram parece ser mais valiosa do que um ajudar abnegado e,
como consequência de qualquer investimento em termos ambientais, a pergunta
obrigatória é sempre “quanto estás a ganhar com isso?”.
Será que tenho razão ou esta é apenas uma percepção errada da minha parte?
Mais do que me dar resposta, o que, reconheço, é francamente inútil, penso que
era importante que os responsáveis verificassem quais poderão ser os
catalisadores da mudança individual e agissem em conformidade. É mesmo
importante.
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.
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