Estas férias “inventei” uma geringonça. Trata-se de uma pequena câmara de vídeo 4K subaquática, amarrada com fita-cola a um peso de mergulho e com um micro flutuador de sinalização. Em homenagem aos nossos cientistas marinhos, batizei o dispositivo com o nome de HomeLander. Pomposo!
O processo de utilização é muito simples. No princípio de um qualquer mergulho em apneia ou com escafandro autónomo inicia-se a gravação e abandona-se a câmara pelo fundo. No final do mergulho, recolhe-se o equipamento e, depois de devidamente adoçado e já em casa, liga-se a câmara à televisão e verifica-se a gravação.
Começo com esta experiência pessoal para passar aos verdadeiros cientistas, mais em particular os biólogos-marinhos portugueses. Estes cientistas vão conquistando conhecimento e reconhecimento. Disso fui duplamente testemunha nos últimos dias.
Primeiro, apanhado de surpresa, vi os meus antigos colegas investigadores da Universidade dos Açores a aparecerem numa novíssima série produzida por James Cameron, o “OceanXplorer”. Está disponível na Disney+. Aí, os biólogos-marinhos portugueses entram em sinergia com a expedição internacional no desvendar de alguns dos segredos escondidos nos fundos marinhos do arquipélago açoriano. Entre aventuras e emoção, a conclusão é que... Eh, eh... Não serei eu a desvendar. Nada como ver!
Mais recentemente, em Copenhaga, tive oportunidade de participar na Conferência conjunta das sociedades mundial e europeia de aquacultura, “Aqua 2024”. Lá, os biólogosmarinhos de Portugal apresentaram dezenas de trabalhos científicos e técnicos que, com os especialistas em aquacultura de 103 países, ajudam a desbravar conhecimento útil para esta atividade emergente. Ao contrário do resto do mundo, a aquacultura da União Europeia insiste em não descolar e, portanto, toda a ajuda é relevante.
Lendo a comunicação social séria da bolha de Bruxelas, verifico que se prepara um enorme investimento numa nova tipologia de aquacultura em Portugal. A investidores nacionais juntam-se empresários israelitas e, no final, o potencial é aumentar a produção do nosso país em cerca de 50%. Na plataforma que servirá de base às jaulas, pode ainda ler-se na notícia, poderão viver e trabalhar entre 6 e 20 pessoas em permanência. Enorme!
Olhando para os números modestos da produção aquícola na Bélgica, compreendo que há aqui também um potencial caminho a percorrer. Quem sabe, estes investimentos que se preparam em Portugal não poderão ter ecos na Bélgica... Haja interesse expresso e a Câmara do Comércio Belgo-Portuguesa, cumprindo o seu desígnio e propósito, poderá rapidamente montar umas Rotas da Economia Azul dedicadas a este tema. Interessante?
As minhas férias terminaram. Sento-me na sala de casa após mais um dia de trabalho. Ligo a pen USB que contém os vídeos que fiz na ilha do Corvo (Açores-Portugal) durante o Verão. Fico a olhar todos aqueles peixes, algas e outros organismos que vão passeando à frente da HomeLander. Depois da excitação inicial, hipnotizado, vou-me deixando cair num torpor que se transforma em sonhos de água salgada... Saudades de mar...
* Frederico Cardigos é vice-presidente da Câmara do Comércio Belgo-Portuguesa e é biólogo marinho no Eurostat. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da União Europeia.