Em Bruxelas, no dia 14 de setembro à noite, ligo-me ao Youtube e revejo
todos os vídeos que encontro dos Bandarra. Tento imaginar-me no Teatro
Faialense. Pietá (voz), Cláudia (voz), Fausto (guitarra), Gira (baixo), Chris
(guitarra), Batata (bateria) e a restante malta que acompanha os
Bandarra cantam, tocam saltam, transmitem boa disposição, divertimento e
tudo misturado em letras que nos fazem pensar.
A 4 mil quilómetros de distância, amigos simpáticos e atenciosos mandam-me
um pequeno clip pirateado na sala de concertos. Não há dúvida, os Bandarra
estão em plena forma.
Sempre me recusei ser tomado pelo tornado de saudades que sinto pelos
Açores. No entanto, nestes dias em que se sabe que irá acontecer algo histórico,
a nostalgia aperta mais. Gostava de estar aí, pá! O gin do “Peter”, os nacos no
“Canto da Doca”, o Jardim Botânico, o Vulcão dos Capelinhos e o seu Centro de
Interpretação, a Caldeira e os seus mistérios, o Norte do fim do mundo, o peixe
no restaurante do Sr. Genuíno nas noites de temporal, a Praia de Porto
Pim e a Praia do Almoxarife, mas essencialmente os amigos… “Vamos à Praia”? Vamos
à praia!
Continuo a ouvir os Bandarra, caso não se note, e vou-me baralhando nas palavras
das suas músicas. Pelo meio, penso ter ouvido falar em seis garajaus
embriagados e pergunto-me por que não sete? Quantos são os Bandarra? Ah,
claro.
Acho que esgotei as músicas que estão no Youtube, ou então sou inapto e não
encontro mais. Viro-me para o Spotify, Bandcamp e Vimeo. Olho para o “Zé” e
tento ter tino, enquanto vou andando, cantarolando e dançando...
A última vez que estive no Faial para ficar foi no rescaldo de mais uma “Xula
da Caça”. Estando no Inverno, acabei por ser apanhado no “Tango da Neblina”. Mas
o Sol não ficou para trás, o nevoeiro foi de pouca dura, o avião veio
e regressei à labuta no meio da Europa.
O tempo passa e “Mais ou Menos Minuto” terei o mar todo às costas,
mesmo que apenas em vívida recordação. Passeios de barco à vela ao nascer do
Sol, nadar por entre águas-vivas, ver cachalotes e golfinhos, wind-surf, mergulhos…
Lembro-me de chegar às piscinas naturais do Varadouro, naquele dia em que
as coisas não tinham corrido bem, de tirar a t-shirt, saltar e… grande
trambolhão! Eh, eh… Ninfa Maria, vem cá abaixo! Nada como a água salgada
para meter uma pitada de humor e relativizar as aparentes desgraças.
“Re-Vira-Volta!” Ala bailar a “Valsa da Carroça”! No Faial a linguiça, no
Pico o bagaço… e segue a dança.
Quando recordo o Mar dos Açores, inevitavelmente, sinto-me um homenzarrão.
Aprendo, cresço e engrandeço em sonhos de ilha Azul. Não me rendo!
Tudo isto dá-me energia para enfrentar todas as tolices com que alguma
humanidade nos bafeja. Sinto-me uma obra do divino, em terra não tenho
rival, sou o dono do destino e o mundo que aguente esta altivez! Ao
contrário da música, não preciso de mais. Não vale a pena penar, nesta vida
tão pequena. Preciso apenas de, volta e meia, submergir no silêncio
barulhento do debaixo de água, com os peixes a passar e aquele polvo a
espreitar…
Estou quase de “Saída”, encanado pelo vento. Nessa terra em que há tempo
para gastar. Quero ir à ilha para ver o que ela tem. Quero ficar mais um dia.
Quero os quatro tempos desse dia…
“Não és dos Nossos”, gritam da máquina musical, mas eu sei que não é
verdade. Serei sempre. Não há hipótese. Mesmo que não quisesse. É mais forte
que eu e mais forte que tudo. E é muito isso, os Bandarra são um belo e
harmonioso hino à amizade, à felicidade e ao Faial. Bem hajam!
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.
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