Callum Roberts é um daqueles cientistas que qualquer biólogo marinho conhece pelo menos pela fama e prestígio. Recentemente, este cientista liderou um estudo que culminou na publicação na npj Ocean Sustainability, parte do grupo Nature, de um artigo intitulado "Rethinking sustainability of marine fisheries for a fast-changing planet". O estudo foi conduzido por uma equipa internacional de cientistas com contribuições de várias especialidades, instituições e países. Um desses cientistas, o Telmo Morato, está vinculado ao DOP/Okeanos e vive no Faial.
A publicação argumenta que muitos produtos do mar comercializados como
"sustentáveis" na verdade não o são. Os autores defendem que são
necessários padrões de sustentabilidade mais rigorosos para responder a um
mundo em rápida mudança e apoiar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
das Nações Unidas. As futuras pescarias devem operar com base em princípios que
minimizem os impactos na vida marinha, se adaptem às mudanças climáticas e
permitam a recuperação da biodiversidade, ao mesmo tempo em que apoiam e
melhoram a saúde, o bem-estar e a resiliência dos cidadãos e das suas
comunidades. O estudo destaca a importância crítica dos oceanos saudáveis para
a natureza, o bem-estar humano e a estabilidade planetária, sublinhando que a
vida marinha, incluindo as espécies exploradas, é essencial para a saúde dos
oceanos.
No entanto, de acordo com as conclusões desta equipa científica de primeira
linha, a maioria dos países não está a cumprir as metas do Acordo de Paris e
outros compromissos globais relacionados com a proteção ambiental e dos
oceanos. Por isso, os autores propõem uma visão para o futuro da exploração
oceânica, onde as pescarias são geridas como sistemas socio-ecológicos que
reconhecem e respeitam os valores da boa relação entre os humanos e a natureza.
Os cientistas apresentam dois princípios centrais e um conjunto de ações-chave
para transformar as pescarias para o futuro, incluindo a minimização do dano
ambiental, a promoção da recuperação da vida marinha e dos habitats e a
adaptação às alterações climáticas.
Em paralelo, e num outro estudo com uma equipe e base completamente
diferentes, concluiu-se que o planeta Terra pode estar prestes a ultrapassar
sete dos nove limites planetários. O limite que está agora num limiar crítico é
a acidificação dos oceanos. A acidificação dos oceanos é o efeito que resulta
da absorção de dióxido de carbono da atmosfera. Este efeito prejudica
diretamente todos os organismos com concha ou carapaça e, indiretamente, ameaça
os ecossistemas marinhos e a sua habitabilidade global.
Entre os nove limites planetários, já foram claramente ultrapassados seis,
incluindo alterações climáticas, novos poluentes, biodiversidade e alteração
dos fluxos biogeoquímicos. No relatório, o Instituto de Pesquisa de Impacto
Climático de Potsdam destaca que os nove limites planetários estão
inter-relacionados e que as perturbações humanas infligidas ao ambiente global
não podem ser tratadas isoladamente.
Tanto o primeiro estudo como o segundo, apontam para um mesmo cenário
global e para a mesma solução: tratar melhor os oceanos. É imperativo agir. Se
não soubermos como agir ou se não estiver ao nosso alcance fazê-lo, podemos
sempre apoiar aqueles que sabem e podem atuar. Como cidadãos, ao privilegiarmos
opções ambientalmente adequadas, mesmo que isso nos custe mais dinheiro ou
esforço, estamos a contribuir para criar um mundo melhor.
Sozinhos pouco podemos fazer, mas uma ação conjunta pode fazer autênticos
milagres. Que o diga o buraco do Ozono. A humanidade quis e ele está a
desaparecer! Há soluções, mas elas têm que ser implementadas.
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de
opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva
responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da
Comissão Europeia.
Sem comentários:
Enviar um comentário