sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Crónicas do Voo do Cagarro - 85: Soluções para Oceanos Sustentáveis

Callum Roberts é um daqueles cientistas que qualquer biólogo marinho conhece pelo menos pela fama e prestígio. Recentemente, este cientista liderou um estudo que culminou na publicação na npj Ocean Sustainability, parte do grupo Nature, de um artigo intitulado "Rethinking sustainability of marine fisheries for a fast-changing planet". O estudo foi conduzido por uma equipa internacional de cientistas com contribuições de várias especialidades, instituições e países. Um desses cientistas, o Telmo Morato, está vinculado ao DOP/Okeanos e vive no Faial.

A publicação argumenta que muitos produtos do mar comercializados como "sustentáveis" na verdade não o são. Os autores defendem que são necessários padrões de sustentabilidade mais rigorosos para responder a um mundo em rápida mudança e apoiar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. As futuras pescarias devem operar com base em princípios que minimizem os impactos na vida marinha, se adaptem às mudanças climáticas e permitam a recuperação da biodiversidade, ao mesmo tempo em que apoiam e melhoram a saúde, o bem-estar e a resiliência dos cidadãos e das suas comunidades. O estudo destaca a importância crítica dos oceanos saudáveis para a natureza, o bem-estar humano e a estabilidade planetária, sublinhando que a vida marinha, incluindo as espécies exploradas, é essencial para a saúde dos oceanos.

No entanto, de acordo com as conclusões desta equipa científica de primeira linha, a maioria dos países não está a cumprir as metas do Acordo de Paris e outros compromissos globais relacionados com a proteção ambiental e dos oceanos. Por isso, os autores propõem uma visão para o futuro da exploração oceânica, onde as pescarias são geridas como sistemas socio-ecológicos que reconhecem e respeitam os valores da boa relação entre os humanos e a natureza. Os cientistas apresentam dois princípios centrais e um conjunto de ações-chave para transformar as pescarias para o futuro, incluindo a minimização do dano ambiental, a promoção da recuperação da vida marinha e dos habitats e a adaptação às alterações climáticas.

Em paralelo, e num outro estudo com uma equipe e base completamente diferentes, concluiu-se que o planeta Terra pode estar prestes a ultrapassar sete dos nove limites planetários. O limite que está agora num limiar crítico é a acidificação dos oceanos. A acidificação dos oceanos é o efeito que resulta da absorção de dióxido de carbono da atmosfera. Este efeito prejudica diretamente todos os organismos com concha ou carapaça e, indiretamente, ameaça os ecossistemas marinhos e a sua habitabilidade global.

Entre os nove limites planetários, já foram claramente ultrapassados seis, incluindo alterações climáticas, novos poluentes, biodiversidade e alteração dos fluxos biogeoquímicos. No relatório, o Instituto de Pesquisa de Impacto Climático de Potsdam destaca que os nove limites planetários estão inter-relacionados e que as perturbações humanas infligidas ao ambiente global não podem ser tratadas isoladamente.

Tanto o primeiro estudo como o segundo, apontam para um mesmo cenário global e para a mesma solução: tratar melhor os oceanos. É imperativo agir. Se não soubermos como agir ou se não estiver ao nosso alcance fazê-lo, podemos sempre apoiar aqueles que sabem e podem atuar. Como cidadãos, ao privilegiarmos opções ambientalmente adequadas, mesmo que isso nos custe mais dinheiro ou esforço, estamos a contribuir para criar um mundo melhor.

Sozinhos pouco podemos fazer, mas uma ação conjunta pode fazer autênticos milagres. Que o diga o buraco do Ozono. A humanidade quis e ele está a desaparecer! Há soluções, mas elas têm que ser implementadas.

* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.

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