Desde que isso é possível, e já é possível há muitos anos, recebo
diariamente um aviso sempre que na comunicação social internacional escrita são
publicadas as palavras “sea”, “marine” ou “ocean” em conjunto com a palavra
“Azores”. Para além de obter uma seleção das notícias que sobrevivem à
distância, o que deve ter uma relação com a sua relevância, tem a enorme
vantagem de me permitir facilmente compreender o que se passa no Mar dos Açores
que tem impacto lá fora.
As notícias chegam-me por esta via oriundas da América do Norte, do
Reino-Unido ou de qualquer outro ponto em que se comunique em língua inglesa. O
filtro e a seleção permitem-me ter acesso a notícias muito precisas. Por
exemplo, foi através deste sistema que fui informado sobre um artigo científico
em que se descreviam novas marcas com transmissão via satélite para tartarugas e
que permitirão clarificar o papel dos Açores no ciclo biológico destes animais
pré-históricos.
Penso, mas estou a falar de memória, o evento que mais registos gerou foi a
tempestade “Lorenzo” que destruiu o porto das Lajes das Flores em 2019. Esta
era a realidade até à semana passada. Agora essa realidade mudou.
Sob proposta do Governo Regional na sequência de um trabalho de longo prazo
realizado pela Universidade dos Açores e, mais recentemente, catalisado pelo
projecto Blue Azores, a Assembleia Legislativa aprovou a classificação de 30%
do Mar dos Açores como área protegida. Incluídos nestes 30%, metade terão
acesso restrito e extração zero. A aprovação desta ampliação tornou-se, sem
dúvida, no mais citado evento da história recente do Mar dos Açores.
De acordo com a Agência Europeia para o Ambiente, “a conservação das
zonas costeiras e marinhas é importante para manter a biodiversidade e
assegurar o pleno funcionamento dos ecossistemas e dos seus serviços. As áreas
marinhas protegidas desempenham um papel fundamental na conservação dos
ecossistemas costeiros e marinhos, proporcionando benefícios económicos e
sociais significativos e apoiando os meios de subsistência locais.”
Criado a 11 de Novembro de 2011, o Parque Marinho dos Açores tinha os mesmos
objectivos gerais que hoje, mas a sua dimensão dentro da sub-área regional da
Zona Económica Exclusiva de Portugal ainda não tinha expressão significativa. A
partir da semana passada isso mudou e, espero eu, para sempre.
O actual Secretário Regional com o pelouro do Mar, o meu amigo Mário Rui
Pinho, está naturalmente de parabéns. Saliento, com confiança, que lhe cabe
evitar que estas novas áreas protegidas se tornem naquilo que ele próprio
nomeou como “O Mar de Papel”. Num artigo publicado na Revista Mundo Submerso há
precisamente 20 anos, o agora político e o seu co-autor referiam o perigo de
classificar áreas marinhas que não tivessem uma tradução efetiva dos objectivos
para que foram criadas no mundo real. Ou seja, se é para proteger, agora há que
proteger efetivamente. Tenho a certeza que vai correr bem.
Como se refere na plataforma de media para o desenvolvimento Devdiscourse
da Índia, “Abrangendo cerca de 300 mil quilómetros quadrados, esta
iniciativa visa cumprir os objectivos da ONU para 2030, preservando os diversos
ecossistemas subaquáticos e restringindo as actividades de pesca e de turismo.”
Há agora que dar forma às intenções. Com adequada implementação, a proteção
destes locais poderá catapultar a riqueza nos sítios explorados numa sinergia
exemplar e para a qual o mundo olha com atenção e entusiasmo. Apenas para nomear
alguns órgãos de comunicação social em que esta decisão foi referida, destaco a
Reuters (a partir de Lisboa), a BBC (Londres), a Euronews (Bruxelas), a
National Geographic (EUA), Cyprus Mail (Chipre), Royal Gazette (Bermudas), a Swissinfo
(Suíça), Taiwan News, China Daily e sítios internet mais especializados como o
Divernet e o DeeperBlue.
Portanto, o Mar dos Açores ficou mais protegido, com isso será mais eficaz a cumprir todos os seus serviços ambientais e, como consequência inesperada, tornou-se num farol que levou o bom nome dos Açores aos quatro cantos deste nosso planeta com uma mensagem de esperança e alento no que diz respeito à proteção e uso sustentável do Oceano. Três vivas para o Parque Marinho dos Açores!
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.
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