Para muitos açorianos o que vou escrever a seguir pode não ser novidade. De facto, com os apoios do Governo Regional para dispositivos de produção de energias limpas, possivelmente já terão instalado estes equipamentos. Não era o meu caso até há pouco tempo e, portanto, aqui partilho a minha experiência na Bélgica.
Depois de pensar, acabei por adquirir um conjunto de painéis solares, um
inversor e uma bateria. Para a decisão muito contribuíram as inúmeras conversas
que tive com as dezenas de pessoas que me tentaram vender equipamentos desde
que tornei pública a intenção. O mercado das energias alternativas está ao
rubro e o empenho dos vendedores é muito relevante.
Na minha opinião, há dois grupos de razões para investir em energias
alternativas, sendo estes o grupo das questões económicas e o grupo das
questões ambientais. A primeira lição que aprendi enquanto conversava com os
vendedores e estudava o investimento a realizar é que há três itens
particularmente importantes na componente económica: o investimento financeiro
nos equipamentos e na instalação, o preço de injeção na rede da energia gerada em
excesso e o apoio ao investimento. Ou seja, o valor economizado pelo facto de
estarmos a consumir a energia que geramos pode não ser suficiente para
justificar o investimento. Poupar 5 ou 6 euros por dia na energia consumida, um
dia típico no centro da Europa, resulta em cerca de 2 mil euros por ano. Isto é,
pode não ser suficiente para cobrir a curto prazo investimentos que ultrapassam
a dezena de milhar de euros. Para que isso aconteça é necessário que o excesso
de produção seja aceite e bem pago pela rede.
Na Bélgica, a energia produzida é aceite pela companhia de eletricidade,
mas a um décimo do preço de aquisição. Repetindo, é necessário injetar 10 vezes
mais do que se consome da rede para começar a ter lucro. De acordo com a minha
experiência destes dias como “magnata da energia limpa”, como me chamam os meus
amigos em exasperação pelo meu entusiasmo, é fastidioso atingir estes níveis.
Portanto, resulta daqui que a prioridade é comprar o mínimo à rede.
Para evitar comprar à rede, o melhor é ter uma bateria a acumular energia durante
o dia para usar à noite, quando não há Sol. Há sistemas sofisticadíssimos, que
analisam o preço da energia na rede ao segundo e injetam ou compram conforme as
micro oscilações do mercado. Tive a oportunidade de ver o sistema a funcionar e
é extraordinário. Parece um mercado de bolsa ao vivo. Infelizmente, para
recorrer a este tipo de serviço é preciso pagar a uma empresa intermediária e
os valores não estavam ao meu alcance. Pena. No entanto, parece-me ser esse o
futuro.
Portanto, como expliquei, o meu sistema disponibiliza e acumula energia
durante o dia (haja Sol!) e, durante a noite, disponibiliza a energia limpa
anteriormente acumulada. Funciona bem, mas a minha experiência limita-se a umas
quantas semanas e durante o Verão… Funcionará no inverno?
Como falei com muitas pessoas e todas interessadas em vender os seus
equipamentos, é um pouco difícil ter a certeza do que irá acontecer. No
entanto, fazendo uma súmula generosa, irei ter uma produção no pico do Inverno
que se aproximará de metade das minhas necessidades. Portanto, nada terei para
vender à rede e ainda terei de comprar metade da energia que irei necessitar.
Claro que este cenário me deixa insatisfeito e tenho exteriorizado essa
insatisfação.
Nestas iterações acabei por identificar que há um moinho de vento doméstico
de marca francesa capaz de produzir 9kW. Para terem uma ideia, bastaria que
este moinho funcionasse a 100% durante uma hora para cobrir as minhas
necessidades diárias em energia no inverno. Acresce que o investimento
necessário é ridiculamente baixo em comparação com o que já fiz até aqui. Há
dois obstáculos, no entanto. Por um lado, a legislação não é clara quanto à
possibilidade de o utilizar e, também muito importante, não sei qual o ruído
que produz. Não quero substituir um tipo de poluição (emissões de CO2)
por outro (poluição sonora). Não seria justo para mim e para os meus vizinhos.
Há que estudar mais e falar com quem sabe. Felizmente, encontrei um
especialista na temática que me diz que, até Setembro, irá ter uma resposta
para me dar. Ele próprio irá usar os tempos livres para estudar e testar o
sistema e depois dará notícias. Estou em pulgas!
Como aqui na Bélgica (Flandres) já não há apoios financeiros ao
investimento em energias alternativas domésticas e o preço de injeção de
energia na rede é baixo, o meu investimento é negativo do ponto de vista
económico. Poderão perguntar, então porque o faço? A resposta é simples: eu
quero contribuir para deixar um mundo melhor para os meus filhos. Este é um
esforço financeiro que faço com agrado.
Vejo os meus vizinhos entusiasmados com as suas piscinas com balanço
ambiental duvidoso e fico contente por saber que os kW que saem da minha casa
entram ali ao lado, nas casas deles, gerando o equilíbrio necessário para que a
minha rua seja ainda mais verde.
É isto e é necessário.
* Frederico Cardigos é biólogo marinho no Eurostat. Este é um artigo de opinião pessoal. As ideias expressas neste artigo são da exclusiva responsabilidade do autor e podem não coincidir com a posição oficial da Comissão Europeia.
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