Terminou dia 15 de Novembro mais uma Campanha SOS Cagarro. Como acontece anualmente, desde meados dos anos 90, são salvas nos Açores milhares de aves por iniciativa voluntária dos Açorianos. É importante salvar cagarros porque, na primeira saída do ninho, estas jovens aves são especialmente susceptíveis à iluminação pública e aos faróis dos automóveis.
Mais de mil açorianos dedicam-se, durante 46 noites, a pegar cuidadosamente nos cagarros (cuidado, os cagarros têm um bico poderoso) e a colocá-los a salvo, na manhã seguinte, junto ao mar, evitando que morram atropelados.
Por exemplo, em São Miguel, os Amigos dos Açores e os Amigos do Calhau conseguiram manter em permanência 20 pessoas a participar nas Brigadas Nocturnas. Talvez por esse facto, este ano, a ilha passou a ser a segunda em número de salvamentos, logo a seguir a São Jorge.
Na ilha conhecida pelo excelente queijo, este ano recuperaram-se mais de oitocentos cagarros, o que, apesar de ser um número muito elevado, não se compara com os 1400 que foram salvos, no ano passado, no Pico. No entanto, tirando as ilhas Terceira, Graciosa, Santa Maria e Flores, onde há um nítida oportunidade de crescimento para a Campanha SOS Cagarro, todas as ilhas demonstraram uma óptima e organizada actividade.
Na Ilha do Corvo, salvaram-se mais de 300 cagarros, dos quais foram anilhados mais de metade. Com este esforço, daqui a uns anos, quando estes animais voltarem a terra, será possível verificar onde nasceram e indiciar o tempo que levaram a regressar a terra.
Na Ilha do Faial, onde mais cagarros se anilham, há uma Brigada de freguesia. Em Castelo Branco, os Vigilantes da Natureza sabem que não se têm de preocupar em salvar cagarros. Fazendo vigilância ao aeroporto e zonas circundantes, os albicastrenses do Faial tomam conta desta unidade geográfica.
A Campanha SOS Cagarro movimentou este ano mais de cem entidades, mais de um milhar de pessoas e foram salvos 3744 cagarros. Este número não é proporcional ao esforço colocado na estrada. No entanto, garantiu um número muito reduzido de aves mortas pelos carros. Este aparente paradoxo entre o menor número de aves salvas e a maior mobilização dos açorianos parece ficar a dever-se a diversos factores. O primeiro, e aparentemente mais importante, foi o bom estado do tempo. A falta de nevoeiros e ventos fortes permitiu uma navegação aérea mais segura. No entanto, factores como menor índice de nidificação, menor iluminação pública (houve alguns portos, aeroportos e jardins que reduziram a iluminação durante a Campanha) e menor sucesso reprodutor podem também ter contribuído para a redução do número de aves encontradas e, consequentemente, salvas. Por estas razões, para além da manutenção da Campanha SOS Cagarro em todas as suas vertentes, é essencial promover as acções complementares como a erradicação de flora e fauna invasora e a intensificação do número e eficiência das áreas marinhas e costeiras protegidas.
É sempre bom saber o que temos a fazer!