sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Copenhaga vista do Faial

Eis um tema que guardei para pensar mais tarde: a COP 15 de Copenhaga. Para relembrar, vou dissertar sobre um tema que não pode ser esquecido, até porque ele se irá lembrar de nós…

Li em diversos artigos que em Copenhaga estiveram reunidas representações de diferentes países que, sob pressão dos seus próprios interesses particulares, num sentido, e dos ambientalistas, noutro sentido, discutiram medidas comuns para a diminuição das fontes de poluição. Nada mais falso. Em Copenhaga, pouco se falou com seriedade de emissões de Carbono ou, sequer, os ambientalistas tiveram alguma coisa a ver com o resultado final.

Em Copenhaga, estiveram presentes dois grupos de países. Um primeiro grupo tentou arranjar formas de continuar a manter os actuais níveis de poluição e um segundo grupo tentou encontrar as ferramentas necessárias para lucrar financeiramente com a necessidade do primeiro. Na realidade, quase ninguém estava verdadeiramente interessado em diminuir os níveis de poluição e, enquanto assim for, andamos às voltas sem obter bons resultados. Nada sairá certo enquanto não pusermos a pressão no sítio certo. Os ministros do Ambiente e dos Negócios Estrangeiros, presentes em grande número, devem ter lá estado porque “não podiam deixar de estar” e, na minha opinião, fizeram de si uma ridícula figura. Não houve qualquer empenho notável ou discurso memorável, como a situação exigia. Duas semanas feitas de quase nada.

Os argumentos de que “quem tem fome não pode pensar em alterações climáticas” ou “os países ricos que paguem o estrago que fizeram” já não servem. Os países pobres serão os primeiros a sofrer ainda mais com os fenómenos meteorológicos extremos e os países ricos estarão a salvo, até que a situação seja realmente catastrófica. Pragmaticamente, resta assumir que o cenário apenas se inverterá quando houver uma revolução à escala global ou quando as alterações climáticas forem tão insuportáveis que passem a afectar a qualidade de vida dos países do primeiro mundo. Nesse momento, receio, já será tarde demais e a vida humana e razoavelmente civilizada, tal como a conhecemos, estará a chegar ao seu final.

Estando Portugal numa situação particularmente feliz, porque não tem nada a lucrar com a manutenção da poluição (o petróleo custa-nos muito dinheiro) e sabe que nada lucrará financeiramente com a diminuição das emissões globais, a representação portuguesa, com uma centena de elementos, deve ter ficado particularmente estupefacta. O que estavam ali a fazer? Ou melhor, o que estavam a fazer todos os outros?! Deve ter sido um daqueles estranhos momentos em que estamos ridiculamente correctos, cobertos de razão, isolados e impotentes. Talvez se tenham sentido a gritar numa cidade cheia de gente cinzenta e impassível…

O clima do mundo está a mudar como sempre esteve, mas, agora, a um ritmo mais rápido. Indubitavelmente, em menor ou maior escala, a humanidade tem contribuído para esse facto. No entanto, estou em crer, em completa contradição com o que escrevi atrás, iremos inverter a nossa própria decadência a tempo. Sou um optimista! Terá de piorar, mas as atitudes correctas e dispendiosas que estamos a fazer enquanto País e Região darão luzes (pequenas e determinantes) para o percurso que o mundo inteiro terá de seguir. Sinto, sinceramente, que o papel de Portugal no mundo poderá finalmente ser tão importante e inspirador como foi no período dos Descobrimentos. Independentemente de estar o partido A ou B a no poder, não pensemos em qual o primeiro-ministro, mas atentemos na necessidade de manter a extraordinária revolução energética que temos vindo a fazer. Os Governos precisam de aliados e, neste caso, os aliados serão os cidadãos que, ao discutir a temática da energia, terão os olhos bem abertos para a necessidade de impor as alternativas.

Recentemente, estive nos Estados Unidos e muitas das perguntas da Diáspora passavam pelo tema das novas energias. Eles sabem que os aerogeradores de Portugal e o aproveitamento geotérmico dos Açores são os faróis para a navegação da humanidade construtiva e consequente. As guerras do Iraque, Irão, Afeganistão e os terroristas são folclore de alguns líderes que querem manter o medo como apanágio da sua perpetuação no poder.

Evidentemente, haverá mais ataques terroristas, existirão sempre loucos, mas muitos mais morrerão se continuarmos a discutir a segurança aérea em vez de colocar o tom no que faz realmente diferença: o comportamento ambiental da humanidade. Quantas pessoas morrem por ano como resultado de guerras e intempéries? Muitos. Quantos morrem por ataques terroristas no Ocidente? Poucos. Sabem qual é a diferença? Cruamente, a diferença é o tom de pele das vítimas. Revoltante.

Na Região Autónoma dos Açores, vivemos num cantinho do mundo exemplar. Não temos guerras, não temos grandes assimetrias sociais, vivemos em democracia, com tolerância, em clima de grande solidariedade principalmente quando necessário, há liberdade de expressão, somos livres de participar e temos uma política ambiental (incluindo energética) em grande e virtuosa mudança. Penso que, em termos gerais, somos felizes. O que falta está a ser feito, embora possa não estar a ser perfeito. Para dar esse último passo, é necessária a sua efectiva colaboração. É necessário que você aponte o que está mal e exija construtivamente que sejam seguidas as melhores opções. Portugal, com os Açores à cabeça, será um excelente exemplo para o mundo em 2010!