domingo, 26 de outubro de 2003

As Moreias

Apesar do seu glamour ameaçador, as moreias raramente passam disso: “ameaçadoras”. De resto, de dia permanecem basicamente de guarda aos seus buracos, com a boca aberta, esperando que uma incauta presa passe por perto, ou posando indulgentemente para a máquina fotográfica. À noite, grande parte das espécies de moreias saem dos seus “covis” epredam activamente.

As moreias são peixes, teleósteos, da família Murenidea. A grande diferença entre as moreias e os congros reside na inexistência de barbatanas peitorais no caso das primeiras. O corpo das moreias é anguiliforme, musculado e a pele é espessa. As barbatanas ímpares estão unidas desde o dorso anterior, habitualmente antes das “fendas” branqueais até à faceventral e terminando no ânus. A dimensão da boca é média a grande e a dentição varia de acordo com a espécie. As colorações e padrões cromáticos também são específicos, o que em Portugal muitas vezes facilita a identificação. Têm interesse gastronómico e são muito apreciadas tradicionalmente em regiões como a Madeira, os Açores e o Alentejo.


As espécies


No mundo estão registados cerca de 10 géneros e mais de 100 espécies de moreias. Em Portugal, na faixa acessível à maioria dos mergulhadores, existem 4 espécies, sendo que, destas, apenas a moreia-pintada é habitualmente observada em mergulhos no Continente. As restantes espécies (moreão, moreia-preta e moreia-víbora) existem e são vistas pelosmergulhadores nos Arquipélagos dos Açores e Madeira. Todas as espécies são alvo da pesca artesal e nenhuma delas está citada no livro vermelho das espécies em perigo.

O moreão pode atingir um metro de comprimento. O seu corpo é castanho, particularmente mais escuro na zona da cabeça. Os olhos são escuros, quando comparados com os damoreia-preta. Também facilita o seu reconhecimento o facto de possuir um focinho comparativamente curto. A dentição é composta por pequenos e rijos dentes, capazes de trespassar qualquer carapaça quitinosa ou calcária. Por esta razão, alimenta-se facilmente de caranguejos e bivalves. Visto não serem as suas presas favoritas, é muitas vezes encontrado nacompanhia de espécies de pequenos peixes. Para além das tradicionais fendas e buracos, habitualmente utilizadas pelas moreias, esta espécie em particular também pode ser encontrada em fundos arenosos e de gravilha. Distribui-se desde os 0 aos 80m do Mar Mediterrâneo, desde os Açores até Cabo Verde, passando pela Madeira, Canárias e pelo Golfo da Guiné, havendo ainda registos no Sul de Portugal. Esta espécie é considerada inofensiva para o homem.

A moreia-pintada pode atingir 1,5 metros de comprimento total. Alimenta-se de peixes, lulas e caranguejos. Pode ser encontrada no Atlântico Oriental, desde as ilhas Britânicas até ao Senegal, passando pelas costas de Portugal Continental, Mediterrâneo, Açores, Madeira, Ilhas Canárias (especialmente nas zonas de águas mais frias) e Cabo Verde. Pode causar traumas em caso de ataque.

A moreia-preta pode atingir um metro e trinta centímetros de comprimento. A coloração especialmente esbranquiçada dos olhos é a característica que permite mais facilmente a identificação desta espécie. Os olhos contrastam com a coloração do corpo que pode variar entre o azul escuro e o castanho, de acordo com o fundo onde se encontra (já que esta espécie possui capacidade mimética). Encontra-se apenas pelos arquipélagos Macaronésicos: Açores, Madeira e Canárias desde a zona entre-marés até aos 100 metros de profundidade. Durante muito tempo esta espécie foi considerada apenas uma variante cromática da moreia-pintada até que se analisaram as características morfométricas e se chegou à conclusão que as diferenças na estrutura óssea da cabeça eram suficientes para justificar a descrição de uma nova espécie. Esta análise cuidada revelou que o focinho desta espécie é maior que o das moreias-pintadas.

A moreia-víbora pode medir até um metro e vinte centímetros. A espécie é facilmente reconhecível pelo aspecto amarelado e pela dentição, meia transparente, de aspecto especialmente ameaçador. Este aspecto ameaçador é reforçado pela sua incapacidade de fechar totalmente a boca, devido aos maxilares ligeiramente arqueados. No entanto, a ameaça é amplamente exagerada. Na realidade os seus dentes são demasiado compridos e frágeis, o que impossibilita a sua alimentação ser direccionada para animais de carapaça dura, como os caranguejos. Durante o dia encontra-se escondida em fendas e buracos, aproveitando a noite para atacar peixes, lulas e polvos, embora a sua dieta não seja totalmente conhecida. O seu comportamento, essencialmente noctívago, faz-nos crer que é muito menos abundante do que na realidade é. Distribui-se pelo Mediterrâneo, Açores, Madeira, Canárias, Cabo Verde, Ascensão, Santa Helena e Bermudas (quase todos os arquipélagos Atlânticos). Verticalmente, ocorre desde os 0 até aos 30 metros de profundidade. É considerada inofensiva.


Comportamento reprodutor


Apesar do conhecimento sobre a fase de libertação de ovos ser restrito a um pequeno número de observações, as moreias já foram observadas a contorcerem o corpo, libertando ovos pelágicos.

Algumas espécies agregam-se para reprodução. Enquanto permanecem nestas agregações já houve relatos de ataques activos a mergulhadores.


Sentidos


A maioria das espécies de moreias vê mal. Para se orientarem, confiam essencialmente no sentido do olfacto, o que as obriga a aproximar de objectos para os reconhecerem. Porvezes, atitudes tomadas como agressivas são apenas uma tentativa, por parte da moreia, de identificar o organismo que se encontra na sua frente.

Algumas espécies possuem nostrilhos tubulares (pequenos prolongamentos nasais), os quais permitem facilmente reconhecer a direcção de um determinado odor. Depois de determinada a presença de uma potencial presa, a moreia aproxima-se até confirmar o sabor da presa, através de órgãos sensoriais que possui nos lábios, e ataca com uma mordida rápida. Alguns peixes, como as vejas, enquanto dormem produzem um muco que as torna “invisíveis” aos órgãos sensoriais das moreias. É possível que uma moreia durante o período nocturno passe por cima de uma veja sem notar a presença de uma óptima presa.


Limpeza


As moreias são dos animais que beneficiam com as chamadas “estações de limpeza”. Estes locais são conhecidos por albergarem pequenos animais, como pequenos camarões ou peixes, que limpam outros animais potencialmente seus predadores. Os parasitas limpos desta forma servem de alimento aos limpadores e libertam os de maior porte dos parasitas. Estas relações de comensalismo (relação em que ambas as espécies saem beneficiadas) são intrigantes, especialmente porque alguns dos limpadores, noutros contextos, são presas dos animais de maior porte. Durante a limpeza, os animais de maior porte parecem ficar num estado de latência ou letargia. Nalguns casos este estado é atingido antes do início das operações de limpeza, como que a indicar que o processo deve ser iniciado ou a informar os animais de menor porte que, a partir daquele momento, o predador “sai de funções”.


Ataques a humanos


As moreias mais perigosas são, curiosamente, as que foram condicionadas (vulgo “amestradas”) através do alimento. O facto de estarem à espera de serem alimentadas pelosmergulhadores leva a que estes animais confundam partes do corpo dos mergulhadores com a esperada comida. Os dedos dos mergulhadores são confundidos com comida, porque as moreias vêm mesmo mal...

Apesar de não serem habitualmente agressivas, algumas espécies podem provocar ferimentos sérios e dolorosos. Independentemente da gravidade aparente, um ferimento causado pela mordedura de uma moreia poderá implicar a necessidade de utilização de antibióticos, pelo que deverá consultar um médico com a brevidade possível.


Para saber mais

Bauchot, M.-L., 1986. Muraenidae. p. 537-544. In P.J.P. Whitehead, M.-L. Bauchot, J.-C. Hureau, J. Nielsen and E. Tortonese (eds.) Fishes of the North-eastern Atlantic and theMediterranean. Volume 2. UNESCO, Paris.

Debelius, H. 2000. Mediterranean and Atlantic Fish Guide. IKAN Unterwasserarchiv. 305p. - Para além do Inglês, este guia de identificação para peixes do Mediterrâneo e Atlântico está também editado em Alemão e Castelhano.

Froese, R. e D. Pauly. Editores. 2003. FishBase. World Wide Web electronic publication. www.fishbase.org, versão de 1 de Setembro de 2003.

Nancy’s Portugal Site - http://home.online.no/~nancys/portugal/madeira/sports/diving/fish07.html

Saldanha, L. 1995. Fauna Submarina Atlântica. Publicações Europa-América. 364p. - O facto de estar escrito em Português confere-lhe uma franca vantagem em relação a outros guias.

Wirtz, P. 1995. Unterwasserführer Madeira / Kanaren / AzorenFische. Vol. 8. Delius Klasing Edition Naglschmid. 159p.

Agradecimentos

Ao Rogério Ferraz pelas correcções e por ter chamado a atenção para as associações entre as diferentes espécies de moreias e as diferentes espécies acessórias. Ao Filipe Porteiro,Fernando Tempera, Vera Guerreiro e Margarida Abecasis pela revisão do manuscrito.


Biografia


Frederico Cardigos é Licenciado em Biologia Marinha e Pescas pela Universidade do Algarve e é Mestre em Gestão e Conservação da Natureza pela Universidade dos Açores. É bolseiro do Centro do IMAR da Universidade dos Açores através do Projecto, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, MAROV (PDCTM/P/MAR/15249/1999).


Leia o artigo completo em:

http://www.horta.uac.pt/Projectos/MSubmerso/old/200310/Moreias.htm



Notas Por esse Mar Fora

Em Portugal cada vez que se fala de protecção no mar as primeiras coisas em que se pensa é em fiscalização e culpados. Infelizmente, poucas são as atitudes construtivas, em que se pensa na primeira pessoa de uma forma realmente pró-activa. Ou seja, poucas vezes pensamos no que podemos nós fazer pelo nosso Mar. Limitamo-nos ao papel passivo de culpar a actividade complementar à nossa, isto se estivermos sequer minimamente interessados. Os pescadores culpam os cientistas por não atribuírem quotas de pesca adequadas, os cientistas culpam os políticos por não respeitarem o ordenamento sugerido, os caçadores submarinos culpam os pescadores e as redes dos pescadores, os pescadores de costa culpam os caçadores submarinos, os políticos culpam a inacção da fiscalização, a fiscalização culpa todos os outros por não lhe darem meios e não respeitarem a legislação... O número de relações e culpados é extensível a todos os interessados na utilização do mar.

Poderia ser adequado deixar para o Estado o papel de fazer a legislação, a fiscalização e para os cidadãos apenas o papel mecânico de cumprir a lei. Poderia ser indicado, embora triste. Não se deixaria nada à improvisação nem ao acaso. Nós, robots incompletos da nossa própria sociedade... E o pior é que mesmo assim não funciona. Segundo a WWF, a propósito de vontade política: “em Portugal (Continental), Bélgica, Dinamarca e França, infelizmente, em termos de vontade, interesse e recursos, parece ter havido uma reviravolta para pior em relação à conservação marinha. Nos Açores, por outro lado, a vontade política e a consensualidade dos utilizadores do mar aponta numa direcção promissora de maior protecção das águas Açoreanas”. O que é que esta região tem feito de especial? É simples: tem-se empenhado em agir! Os políticos empenham-se em pedir informações aos cientistas e a passá-la aos pescadores, os caçadores submarinos tendem a respeitar a legislação, a sociedade em geral fiscaliza e reprova os comportamentos desviantes dos pescadores, os operadores turísticos tentam criar alternativas economicamente viáveis às actividades puramente extractivas e os cientistas estão no mar, analisando a situação, vão às lotas verificar minuciosamente as descargas... No fundo é tão fácil, basta que cada um cumpra o seu papel de uma forma construtiva, fazendo o seu melhor, construindo um mundo mais confortável.

Isto não significa que tudo esteja bem neste paraíso marinho, longe disso. Também o “paraíso” tem problemas e muitos deles resultam também de alguma falta de ordenamento e empenhamentos duvidosos. Mas o factor positivo é que estamos no bom caminho. Graças a não empatar com variáveis inúteis como a culpa e a falta de fiscalização. Mais do que ficar a discutir é preciso fazer!

Estou no Mar, ao largo de Santa Maria. A bordo do N/I “Arquipélago” estamos na Missão “Bancos 2003”. Já realizamos mais de uma dezena de imersões e falta o mesmo número para acabar. Já passámos pelos Bancos Princesa Alice e D. João de Castro, pela Caloura em São Miguel e Costa Sudeste em Santa Maria. Falta-nos imergir nas Formigas e Dollabarat, que ficarão para os próximos dias. O diagnóstico é simples e a intervenção de uma complexidade extrema. Há falta de pescado de todas as espécies com valor comercial médio a alto e é necessário reduzir ou reorientar o esforço de pesca. São conclusões extensíveis a todos os mares da Europa. Segundo o ICES, de 118 pescarias por eles analisadas no Atlântico-Norte, apenas 18% estão dentro de níveis sustentáveis. Toda a gente sabe os problemas e as soluções, só falta mesmo, fazer!

Fontes:

- “Do Governments Protect the Treasures of Our Seas? Measuring progress on marine protected areas” 2003. Relatório da WWF sobre a implementação das Áreas Marinhas Protegidas.

- “Environmental Status of the European Seas” 2003 – International Council for the Exploration of the Sea. Editado pelo Ministério Federal para o Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear da Alemanha.


Publicado na coluna "Casa-Alugada"

quinta-feira, 2 de outubro de 2003

Bolhas e Jamantas no Meio do Atlântico

Graças ao Dr. Francisco Maduro Dias cruzei-me com a obra de D. Vicente Tofiño. Este nobre, foi encarregue no século XVIII por sua majestade o Rei de Espanha de fazer um Roteiro do Mar para utilização pela Marinha do seu país. Segundo se pode ler nesta obra e citando o Comandante Boufon: “No dia 10 de Outubro de 1720 começou uma violenta erupção entre as ilhas de S. Miguel e Terceira, acompanhada de sismos, que deu origem a uma pequena ilha”. De acordo com os relatos do arqueólogo Paulo Monteiro, os dois anos em que a Ilha existiu, infelizmente, foram suficientes para que um Corsário Francês colidisse o seu navio e se afundasse dramaticamente; embora o navio em causa não fosse propriamente uma “flor” – acabava de voltar do Rio de Janeiro onde havia saqueado aquela cidade. Segundo me relatou o Professor Vítor Hugo Forjaz, baseado em documentação da época, este período foi também suficiente para que um padre jesuíta que visitava os Açores tomasse posse do local, chegando mesmo a tentar vendê-lo posteriormente no Brasil. Depois destes dois anos de tempestades, erosão, abrasão, afundamento e aldrabice, “a Ilha foi destruída por completo”, tal como consta na informação de 21 de Julho de 1722 enviada ao Conselho da Marinha. Tanto quanto sei, esta ilhota, enquanto existiu, não chegou a ter nome.

Depois, a zona manteve-se misteriosamente “desaparecida” até 28 de Julho de 1941. Nesta data, o Navio Oceanográfico D. João de Castro, comandado pelo Capitão-Tenente Albano Rodrigues de Oliveira, que fazia o levantamento topográfico da área, descobriu o Banco e nomeou-o, de acordo com as tradições da marinha, com o nome da sua embarcação. Sobre as montanhas submarinas dos Açores o Almirante Sarmento Rodrigues em 1970 escreveu “(...) de todas elas a mais notável é o Banco D. João de Castro (...)”

Hoje no meio do mar, o Banco D. João de Castro emerge dos 1000 metros com a forma de um cone quase perfeito. No topo deste cone, a cerca dos 50 metros de profundidade, há uma plataforma de pendor suave e arenoso. Este planalto é interrompido, perto do centro, pelo que resta de uma cratera. Esta cratera dispõe-se por uma área com cerca de 600 por 300 metros e tem o seu mínimo de profundidade aos 13 metros. Ou seja, no meio do mar, mesmo entre as Ilhas de São Miguel e Terceira temos uma pequena área com 13 metros de profundidade! Nem era necessário lá ir para que qualquer biólogo imediatamente adivinhasse a importância que este local pode ter na transferência de informação genética de organismos do litoral entre o Grupo Oriental e Central dos Açores. Por outro lado, dada a sua pequenez e tenra idade, este banco tem uma enorme fragilidade. Qualquer agente perturbador (como a sobre-exploração ou poluição) poderá causar a nível local pequenas e mesmo grandes catástrofes ecológicas. O D. João de Castro tem ainda uma outra característica, preciosa para biólogos e geólogos: “vulcanismo activo!”

Para conhecer a bionomia (distribuição das espécies) e estudar as relações ecológicas com este vulcanismo, o Departamento de Oceanografia e Pescas partiu pela primeira vez em direcção ao Banco D. João de Castro já vai para uma dezena de anos. Agora, em missões anuais, vamos construindo lentamente o puzzle que um dia mostrará um retrato fiel da teia de relações e reacções desta e outras áreas. Embora eu não tenha integrado as equipas do DOP desde o início, já reconheço o Caldeirão das Bolhas, a Avenida das Bolhas, a Avenida dos Ratões, a zona Branca e a zona Amarela. Uma geografia construída a partir das observações de anos de trabalho constante. Esta geografia, aparentemente sem grandes alterações do ponto de vista de um biólogo, está prestes a metamorfosear-se novamente segundo os geólogos. O Banco D. João de Castro espreita-nos como um “barómetro vulcanológico” dos Açores.

Enquanto a ilha não nasce de novo ou o banco submerge para as profundezas oceânicas, resta-nos apreciar a beleza da sua vida e movimento: a mistura entre as bolhas, o barulho, os tapetes brancos de bactérias, os peixes em permanente azáfama e os grandes pelágicos que se aproximam do Banco para um período de descanso, de alimentação ou de orientação nas migrações. Lá estavam este ano um pequeno cardume de bonitos, os patudos, as jamantas, os pequenos peixes e o olhar fascinado dos meus colegas. 

Um deles, no final, pediu desculpa aos restantes e admitiu que não tinha conseguido fazer parte do trabalho: “Limitei-me a contemplar, estava perfeito, tive que ficar a contemplar”. Evidentemente, quando se está na Catedral do Mergulho de Portugal e com visibilidade de 40 metros há que olhar, olhar muito, olhar fundo, observar, analisar, porque há tanto para ser visto. Às vezes, mais importante do que medir mais um esotérico parâmetro científico, é contemplar, fortalecer profunda e definitivamente uma amizade por este ainda maravilhoso ambiente marinho dos Açores.