sexta-feira, 25 de março de 2011

Gerações

Ao contrário desta escoada lávica de basalto na Areia Larga, Ilha do Pico, Açores, as novas gerações começam a aquecer e prometem modelar o mundo com uma nova argamassa.
Foto: F Cardigos - SIARAM.

Os tempos são outros. Apesar de já não poder contar com a sua companhia há muitos anos, ainda me lembro de uma das minhas avós dizer, com carinho, que me gostava de ver “arrumado”. Para ela, um emprego estável era uma premissa para a sua própria tranquilidade e, ajuizava ela, para a minha. Infelizmente, tanto no meu caso, como dos restantes netos, a vida não resolveu ser fácil. Apesar de sermos muitos, mesmo muitos… não lhe demos essa alegria. Entre os caminhos da investigação científica e do trabalho para o sector privado, poucos entraram para o Estado e, os que o fizeram, foi sempre para áreas de mobilidade elevada.
Os tempos são outros. Hoje a estabilidade laboral é uma ilusão, mesmo para quem trabalha para o Estado, e é natural que as coisas ainda se tornem mais exigentes. Principalmente no Estado, a avaliação terá de ser consequente o que, nalguns casos, implicará a alteração profunda de comportamento, a mobilização ou o despedimento. Certo é que os contribuintes não estão disponíveis para pagar os salários dos poucos que na Função Pública não querem contribuir com o seu labor. E que os há, há…
Isto significa que cada um de nós deverá fazer uma planificação de vida que seja compatível com os seus desejos e com as suas capacidades individuais, mas também com as necessidades existentes. Todos queríamos ser astronautas, mas não há emprego. Não podemos exigir o que não existe.
Pessoalmente, eu queria andar no mar. Sem grande planeamento é certo, fui seguindo as oportunidades que a vida me apresentou, tentando fazer sempre o melhor que sabia. Esta, no entanto, foi uma atitude irresponsável e que me poderá trazer algumas amarguras. Sem que me possa queixar, porque as escolhas ou as faltas delas foram minhas, irei trabalhar para sustentar a minha família e contribuir positivamente para a sociedade onde me insiro. Cheio de sonhos, tentarei auxiliar na resolução dos problemas que se nos apresentam e na exploração das oportunidades que vamos vislumbrando nos oceanos que nos rodeiam.
Eu vivi entre a chamada “geração rasca” e a “geração à rasca”. Odeio ambas as designações. A primeira porque não tem a excelência que identifico nos meus amigos e a segunda porque revela fraqueza e eu também não a vejo. Olho à volta e vejo gente entre os tempos do Estado paternalista e os tempos do Estado regulador. Prefiro o segundo e estou interessado em trabalhar para o seu aperfeiçoamento.
Conheço casos de pessoas que vivem há muitos anos entre a bolsa mal paga e o estágio não remunerado. Ou seja, Estado, instituições e empresas admitem a falta de quem desempenhe determinada função, mas não criam as condições dignas para que a mesma seja cumprida. Isso tem de ser denunciado e terminar.
Todos reconhecemos injustiças, mas não aceito as lamúrias de quem não luta. Todos reconhecemos ineficiências, mas não sou complacente com quem nunca enviou um currículo para obter um trabalho ou, muito menos, um emprego. Estamos num mundo competitivo que exige empenho, compromisso, trabalho e, às vezes, sacrifício. Do Estado espera-se orientação, regulação e, no caso das coisas correrem mal, apoio. Não tenho também paciência para ouvir as queixas de quem não faz o “obséquio” de ir votar “porque estava a chover”.
Há uma dezena de anos recebi uma pessoa oriunda do fundo de desemprego. Deveria dar apoio ao trabalho do Departamento Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores. Tal como eu próprio fazia, meti-o a lavar o casco de um barco. Passado meia hora foi-se embora, sem se despedir, dizendo que não era aquilo que esperava. Refugiou-se novamente no fundo de desemprego e, felizmente, perdi-lhe o rasto. Não é isso que o nosso país precisa, não é isso que precisamos colectivamente. É um caso. Felizmente, na mesma leva e com a mesma origem, apareceram outros jovens que ainda hoje trabalham naquela instituição e agora com posições permanentes. No meio da injustiça que muitas vezes grassa por esse mundo, por vezes, as oportunidades aparecem, mas temos de as saber reconhecer e agarrar com força! 

sexta-feira, 11 de março de 2011

Projectos de Verde-Social

Limpar Portugal na freguesia dos Flamengos.
Este foi um projecto de voluntariado ambiental.

Depois da Conferência do Rio+10, que decorreu em Johannesburg na África do Sul, em 2002, ficou claro que, para além dos pilares necessários para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável (ambiente, sociedade e economia) e a aplicação do princípio do poluidor pagador, era necessário ir mais além, dando responsabilidade acrescida aos agentes económicos. Ficou, então, fortalecido o princípio da responsabilidade das grandes empresas multinacionais na implementação de políticas globais de sustentabilidade. As primeiras reacções foram negativas, apontando a visibilidade que as empresas tinham ganho sem se comprometerem a algo de concreto. Esta era a opinião dos países pobres e, do outro lado da barricada, os países ricos regozijavam-se com a sequência que os acontecimentos tomavam. Passados nove anos, de facto, pouco fizeram as grandes empresas para além de obterem uma promoção acrescida à conta dos programas sociais… Mas há excepções.
Nos últimos dias, tive a oportunidade de assistir a uma apresentação de divulgação dos Green Project Awards (mais informação em http://www.greenprojectawards.pt). Aí, uma empresa multinacional apresentou um programa alargado, mensurável e comprovável de acções feitas a bem do ambiente e da sociedade. Os números apresentados eram gigantescos, ao nível de uma muito grande empresa. Podem ser vistos alguns detalhes em http://www.porumplanetamaislimpo.com.
Se mais algumas empresas desta dimensão tivessem o mesmo tipo de abordagem, o mundo poderia ser realmente diferente e para melhor. No entanto, curiosamente, esta empresa determinou que, neste momento, não pode ir muito mais longe. Diminuíram ao limite as emissões resultantes da transformação, o transporte dos seus produtos está coberto por planos de redução da pegada ecológica, as embalagens são recicláveis e implementaram um programa de minimização das próprias embalagens, entre muitas outras iniciativas. No final, depois de feita a matemática ambiental, esta mega-empresa determinou que, hoje, o verdadeiro impacto ecológico da sua actuação está nos produtores e nos consumidores. Ou seja, quem lhes fornece as matérias-primas não procede de forma ainda integralmente ambiental e, quem consome, não procede de forma responsável. Exemplificando, se as folhas de chá utilizadas por esta empresa não tiverem origem verde, o impacto ambiental do produto não será zero. Por outro lado, se as embalagens não forem separadas pelo consumidor, após a sua utilização, o impacto ambiental do produto passará a ser mais elevado. Portanto, a empresa determinou que, para diminuir o seu próprio impacto, terá de condicionar os fornecedores e sensibilizar os consumidores. Para resolver a primeira parte, a multinacional irá exigir certificados ambientais aos seus fornecedores e, para minimizar a segunda, irá integrar projectos de educação ambiental. Fiquei impressionado com a exactidão dos números e com a clareza das acções propostas.
Penso, no entanto, que deveríamos chegar muito mais longe. É uma responsabilidade de todos fazer as melhores escolhas. Devemos procurar produtos certificados, especialmente os que mais significado tiverem para a nossa economia local. Reforçando esta ideia, desafio as grandes superfícies dos Açores a reservarem uma prateleira apenas para produtos locais. Cumprirão assim um dos seus desígnios de responsabilidade para com a comunidade local, dando visibilidade e espaço acrescido para que os produtos artesanais, agrícolas e industriais fabricados na ilha ou nos Açores sejam preferencialmente escolhidos pelos consumidores. Penso que uma cadeia de supermercados que haja desta forma poderá posicionar-se bem para ganhar um Green Project Award este ano. É preciso mudar atitudes e, até por razões ambientais, é necessário dar ênfase à produção local!