Muito se fala sobre a qualidade ambiental dos Açores… O mar é azul, a componente terrestre é essencialmente verde, as montanhas são castanhas-negras de basalto e terra e as falésias são de vermelho ígneo. No entanto, será isso suficiente? Evidentemente que não. Para se averiguar qual a qualidade ambiental dum lugar, é necessário ir mais fundo, ou melhor, analisar mais detalhadamente.
Então, os Açores o que são…? Todos sabemos que são constituídos por nove ilhas dispersas pelo Nordeste Atlântico, com idades entre os 12 milhões de anos estimados para a ilha de Santa Maria e os 52 anos verificados na Ponta dos Capelinhos na Ilha do Faial, com origem vulcânica e com tamanhos entre os 17 quilómetros quadrados do Corvo e os 747 da Ilha de São Miguel. Estes dados, importantes, pouco nos dizem sobre a qualidade ambiental. Mesmo que juntemos variáveis climatéricas, como a pluviosidade, dispersa por todo ano, embora mais intensa no Inverno, ou as temperaturas amenas, entre os 15 e 25ºC, ainda pouco sabemos sobre a tal da qualidade…
Adicionemos então mais de 6500 espécies das quais 450 são endémicas. Ah… Agora sim, temos aqui um dado claramente interessante. Há 450 espécies que apenas podem aqui ser observadas. Isso parece claramente uma mais-valia… E é também uma mais-valia o facto destas ilhas estarem no meio das rotas migratórias de cetáceos e aves. Os Açores, especialmente as ilhas do Grupo Central e Oriental, são visitados por dezenas de milhares de turistas que procuram ver algumas das 25 espécies de golfinhos, cachalotes e baleias que por aqui aparecem. Já ao Grupo Ocidental (Flores e Corvo), deslocam-se ornitólogos de todo o mundo para observar algumas das mais de trezentas espécies que nos cruzam.
A população dos Açores também é especialmente interessada em Ambiente. Há dezenas de pequenas organizações não-governamentais e há projectos de elevado interesse. Num desses projectos, o SOS-Cagarro, são salvas milhares de aves marinhas por ano! Para transmitir a informação ambiental, temos Centros de Interpretação e Ecotecas. Estas estruturas foram construídas em todas as ilhas e servem exclusivamente para transferir conhecimentos sobre o mundo natural do nosso arquipélago.
Temos que saber mais. Já conseguimos compreender que há qualidade, mas será esta uma verdadeira qualidade ambiental? Adicionemos mais dados: Há mais de oitenta áreas protegidas, dezenas de planos de ordenamento ambientais e, por ano, são exportadas mais de 12 mil toneladas de resíduos.
No entanto, para garantirmos a qualidade, podemos sempre optar pelos certificados jornalísticos. O New York Times já se referiu aos trilhos de São Jorge, aconselhando vivamente a sua visita, a revista Islands colocou a Ilha do Pico entre as vinte melhores para se viver e a revista do grupo National Geographic, a Traveller, destacou os Açores como o segundo destino turístico sustentável do mundo. Há dias atrás, o Sunday Telegraph salientava os Açores, classificando-os como um dos dez melhores destinos do mundo para a observação de cetáceos.
Por certificação da Associação Bandeira Azul para a Europa, nos Açores, há dezenas de áreas balneares que ostentam a Bandeira Azul e há uma centena de Eco-escolas, o que abarca a quase totalidade do parque escolar. A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves reconheceu a importância do nosso território no que diz respeito às aves, tendo recomendado a criação de várias áreas protegidas, as quais têm sido, na totalidade, integradas nos Parques Naturais de cada Ilha. A própria UNESCO reconheceu a qualidade ambiental dos Açores tendo classificado três ilhas, na sua totalidade, como Reservas da Biosfera: Corvo, Flores e Graciosa e, entre as duas zonas classificadas como Património da Humanidade, uma delas tem um cunho ambiental muito próprio: a Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico. Estamos também a preparar o caderno de candidatura para a criação do GeoParque dos Açores. A Convenção Ramsar classificou 12 sítios dos Açores como especialmente relevantes para o papel que a água aí desempenha nos serviços prestados à conservação da natureza. A União Europeia classificou nos Açores 40 sítios como pertencentes à Rede Natura 2000: 15 Zonas de Protecção Especial para aves, 2 Sítios de Importância Comunitária (Menez Gwen e Lucky Strike, as duas mais importantes fontes hidrotermais de grande profundidade da ZEE dos Açores) e 23 Zonas Especiais de Conservação. A Comissão OSPAR classificou sete Áreas Marinhas Protegidas nos Açores, uma das quais já fora da Zona Económica Exclusiva dos Açores. Ou seja, a comunidade internacional pertencente à Comissão OSPAR reconheceu os esforços e a competência dos Açores a um tão elevado nível que lhe atribuiu a autoridade de gerir a Fonte Hidrotermal de Grande Profundidade Rainbow, um sítio já para lá da Zona Económica Exclusiva. Caso único na Europa.
No caso específico dos cinco locais dos Açores candidatos a maravilhas do mundo natural de Portugal, temos a destacar que a Ilha do Pico tem classificações como Zona Especial de Conservação, inerente à Directiva Habitats (Rede Natura 2000), Zonas de Protecção Especial, inerentes à Directiva Aves (Rede Natura 2000), tem uma área Ramsar, o Canal Faial-Pico está classificado através da Comissão OSPAR como Área Marinha Protegida e há na ilha diversas Áreas Importantes para as Aves. A Ilha do Pico é, legalmente e factualmente, um Parque Natural de Ilha.
A Furna do Enxofre é um Monumento Natural do Parque Natural de Ilha, localiza-se no coração da Reserva da Biosfera da Ilha Graciosa e está classificada como Área Ramsar.
O Algar do Carvão localiza-se na Ilha Terceira, é um Monumento Natural Regional, possui diversas espécies endémicas e pertence a uma Área Ramsar.
A Lagoa do Fogo é uma Reserva Natural do Parque Natural de Ilha de São Miguel, é Área Ramsar e é Zona Especial de Conservação ao abrigo da Directiva Habitats (Rede Natura 2000).
A Lagoa das Sete Cidades é uma Área de Paisagem Protegida do Parque Natural de Ilha de São Miguel e é Área Ramsar.
Se tudo isto não é qualidade ambiental, então o que será?