Foto: F Cardigos - SIARAM.
Um dos temas que mais interesse merece, neste nosso país milionário no que diz respeito ao oceano que o rodeia, é o investimento passível de ser realizado no alto mar. Por inerência à distância, profundidade e agressividade do meio, encontrar ideias compatíveis com o grande azul não é tarefa fácil.
Tradicionalmente, pensa-se em mar como um associado imediato da pesca e, de facto, desde que bem gerida, é uma actividade que resulta em bons rendimentos e perpetuados no tempo. Outro dos benefícios da pesca, certamente o mais relevante, é proporcionar proteína íctia indispensável a uma boa alimentação.
Nos Açores, desde há alguns anos, identificámos, muito por engenho do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, que a investigação científica associada aos montes submarinos e, principalmente, às fontes hidrotermais de grande profundidade são mais valias cuja promoção reverte para os Açores em conhecimento, presença de cientistas e acréscimo no movimento de técnicos pelas zonas portuárias. Hoje em dia, o porto da Horta é também um ponto de escala obrigatória para os grandes navios de investigação científica internacional. Temas como o estudo de cadeias tróficas em situação de pressão e poluição natural, a farmacologia, a remediação, a bioquímica, entre outros, estão na linha da frente graças ao empenho e competência dos nossos cientistas e daqueles que nos visitam.
Tirando estes dois temas (pescas e investigação científica), não é fácil falar em investimentos ao largo que sejam garantidos. Fala-se muito em exploração mineralógica, exploração arqueológica, mas nada parece ser consistente ou sério. No entanto, na última terça-feira estive num seminário em Lisboa que me deu uma perspectiva diferente no que diz respeito à exploração energética offshore. Num dia imparável, em que assistimos a 70 apresentações, com durações entre o minuto e meio e os quarenta, ficámos a conhecer grande parte das empresas (construção naval e civil, planeamento, projecto, segurança marítima, advocacia, disseminação, etc.), dos organismos administrativos, das autoridades marítimas, dos investigadores científicos e das organizações não governamentais que actuam em Portugal e cuja acção se cruza com estas temáticas. Cada uma apresentou um depoimento sobre o que conseguem fazer e o que gostariam de vir a fazer no mundo das energias offshore.
Esta organização foi superiormente implementada pelo Wave Energy Centre, uma unidade de investigação onde trabalha a Doutora faialense Ana Brito e Melo, e a Estrutura de Missão para os Assuntos do Mar. Para além da extensa informação, que levarei diversos dias a absorver e a mentalmente organizar na totalidade, fiquei com a nítida sensação que este é o momento de avançar com as ideias que têm estado a ser desenhadas nos últimos anos. Por um lado, temos carência de energia e, por outro, os desenvolvimentos tecnológicos parecem agora viabilizar economicamente e ambientalmente alguns projectos.
As centrais eólicas do alto mar e a produção de energia com base nas ondas estão a ser alvo de um enorme investimento em diversos países. Portugal partiu na linha da frente, com um dos mais emblemáticos investimentos feitos na Ilha Montanha, mas hoje está claramente a perder o fôlego. Há que remotivar os diferentes parceiros que, como verifiquei, estão desejosos de investir, mesmo arriscando, para aproveitar as mais valias energéticas do nosso país, incluindo, claro está, as regiões autónomas.
Como referia atrás, durante este dia, foi recorrente a referência à Central da Energia das Ondas do Pico. Uns porque participaram no planeamento, outros na construção, outros na montagem das turbinas grande parte das empresas privadas de Portugal assentaram o seu início na inspiração e nos ensinamentos dados por aquela estrutura. Tanto os sucessos como os insucessos, foram fulcrais para o amadurecimento da temática no nosso país. Caso não tivesse outro futuro, e felizmente parece ter, esta Central já tinha cumprido a sua missão de servir de plataforma para o estudo do aproveitamento da energia das ondas.
Outros temas relacionados com a utilização do potencial energético do mar, como o aproveitamento do gradiamento térmico marinho, as correntes de maré e a geotermia marinha ainda parecem estar numa fase mais embrionária. Não houve nesta conferência qualquer referência séria a estas hipóteses o que, quem sabe, poderá ser um excelente indicador para o surgimento de pólos de investigação e desenvolvimento com génese nos Açores...