Ao contrário desta escoada lávica de basalto na Areia Larga, Ilha do Pico, Açores, as novas gerações começam a aquecer e prometem modelar o mundo com uma nova argamassa.
Foto: F Cardigos - SIARAM.
Foto: F Cardigos - SIARAM.
Os tempos são outros. Apesar de já não poder contar com a sua companhia há muitos anos, ainda me lembro de uma das minhas avós dizer, com carinho, que me gostava de ver “arrumado”. Para ela, um emprego estável era uma premissa para a sua própria tranquilidade e, ajuizava ela, para a minha. Infelizmente, tanto no meu caso, como dos restantes netos, a vida não resolveu ser fácil. Apesar de sermos muitos, mesmo muitos… não lhe demos essa alegria. Entre os caminhos da investigação científica e do trabalho para o sector privado, poucos entraram para o Estado e, os que o fizeram, foi sempre para áreas de mobilidade elevada.
Os tempos são outros. Hoje a estabilidade laboral é uma ilusão, mesmo para quem trabalha para o Estado, e é natural que as coisas ainda se tornem mais exigentes. Principalmente no Estado, a avaliação terá de ser consequente o que, nalguns casos, implicará a alteração profunda de comportamento, a mobilização ou o despedimento. Certo é que os contribuintes não estão disponíveis para pagar os salários dos poucos que na Função Pública não querem contribuir com o seu labor. E que os há, há…
Isto significa que cada um de nós deverá fazer uma planificação de vida que seja compatível com os seus desejos e com as suas capacidades individuais, mas também com as necessidades existentes. Todos queríamos ser astronautas, mas não há emprego. Não podemos exigir o que não existe.
Isto significa que cada um de nós deverá fazer uma planificação de vida que seja compatível com os seus desejos e com as suas capacidades individuais, mas também com as necessidades existentes. Todos queríamos ser astronautas, mas não há emprego. Não podemos exigir o que não existe.
Pessoalmente, eu queria andar no mar. Sem grande planeamento é certo, fui seguindo as oportunidades que a vida me apresentou, tentando fazer sempre o melhor que sabia. Esta, no entanto, foi uma atitude irresponsável e que me poderá trazer algumas amarguras. Sem que me possa queixar, porque as escolhas ou as faltas delas foram minhas, irei trabalhar para sustentar a minha família e contribuir positivamente para a sociedade onde me insiro. Cheio de sonhos, tentarei auxiliar na resolução dos problemas que se nos apresentam e na exploração das oportunidades que vamos vislumbrando nos oceanos que nos rodeiam.
Eu vivi entre a chamada “geração rasca” e a “geração à rasca”. Odeio ambas as designações. A primeira porque não tem a excelência que identifico nos meus amigos e a segunda porque revela fraqueza e eu também não a vejo. Olho à volta e vejo gente entre os tempos do Estado paternalista e os tempos do Estado regulador. Prefiro o segundo e estou interessado em trabalhar para o seu aperfeiçoamento.
Conheço casos de pessoas que vivem há muitos anos entre a bolsa mal paga e o estágio não remunerado. Ou seja, Estado, instituições e empresas admitem a falta de quem desempenhe determinada função, mas não criam as condições dignas para que a mesma seja cumprida. Isso tem de ser denunciado e terminar.
Todos reconhecemos injustiças, mas não aceito as lamúrias de quem não luta. Todos reconhecemos ineficiências, mas não sou complacente com quem nunca enviou um currículo para obter um trabalho ou, muito menos, um emprego. Estamos num mundo competitivo que exige empenho, compromisso, trabalho e, às vezes, sacrifício. Do Estado espera-se orientação, regulação e, no caso das coisas correrem mal, apoio. Não tenho também paciência para ouvir as queixas de quem não faz o “obséquio” de ir votar “porque estava a chover”.
Há uma dezena de anos recebi uma pessoa oriunda do fundo de desemprego. Deveria dar apoio ao trabalho do Departamento Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores. Tal como eu próprio fazia, meti-o a lavar o casco de um barco. Passado meia hora foi-se embora, sem se despedir, dizendo que não era aquilo que esperava. Refugiou-se novamente no fundo de desemprego e, felizmente, perdi-lhe o rasto. Não é isso que o nosso país precisa, não é isso que precisamos colectivamente. É um caso. Felizmente, na mesma leva e com a mesma origem, apareceram outros jovens que ainda hoje trabalham naquela instituição e agora com posições permanentes. No meio da injustiça que muitas vezes grassa por esse mundo, por vezes, as oportunidades aparecem, mas temos de as saber reconhecer e agarrar com força!