Desde sempre que me lembro de ouvir os nossos visitantes
perguntar porque deram o nome de “Açores” a este arquipélago de nove ilhas. Uma
resposta fácil é que alguém se terá enganado a identificar os milhafres e o
nome pegou. Outros contrapõem que, naquela época, no século XV, seria
impossível fazer uma confusão destas e, portanto, o erro na identificação não poderia
ter acontecido. Para mais, os milhafres, dado o seu limitado raio de ação,
teriam grandes dificuldades em chegar aos Açores. Pensando bem, é realmente estranho que não
haja milhafres nas ilhas do grupo Ocidental. Ou seja, como explicar que estas
aves tenham conseguido chegar do Continente Europeu até aqui e não tenham
conseguido dar um salto, muito mais pequeno, até às Flores e ao Corvo. Se
podemos explicar a sua inexistência no Corvo por ausência de uma superfície
útil suficiente para o seu abrigo e alimentação, o mesmo não se aplica às Flores.
Resumindo, os milhafres dos Açores podem ter sido introduzidos por mão humana já
em tempos mais recentes.
Muitos defendem que o nome se deve à localidade de Açores,
no continente, de onde alguns dos descobridores de Santa Maria teriam sido
originários ou pela devoção de Gonçalo Velho Cabral a Nossa Senhora dos Açores.
Uma outra corrente alternativa defende que os Açores devem o seu nome à
expressão genovesa Azzurre, dado o tom azulado das ilhas. Apesar de não me
agradar, até porque não vejo as ilhas em tons de azuis, esta teoria tem
ganho adeptos de peso ultimamente.
Faço esta introdução para agora expor uma outra teoria que
foi defendida por um amigo cientista. Segundo o Dr. Paulo Alexandre Monteiro, é
possível que os Açores devam o seu nome aos… açores! É verdade! Há registos de escritos
precoces assinalando exportação de açores para o Continente.
Admitindo esta hipótese como boa, então onde estão os açores
dos Açores? Para onde foram? Esta, quanto a mim, é a parte mais frágil da
teoria que partilho. É possível que os açores dos Açores tenham, ao longo da
sua adaptação a este território, perdido a sua capacidade de fugir de
predadores ou competidores, por não os terem. Assim sendo, quando os primeiros
povoadores aqui chegaram, tê-los-ão apanhado em grandes quantidades e exportado
para o Continente (daí os tais registos que referi atrás). Capturaram, usaram e
exportaram até à extinção final. Será? Os lobos-marinhos de Santa Maria tiveram
esse triste fim.
Penso que esta questão apenas ficará definitivamente
resolvida quando se encontrarem registos fósseis que nos indiquem que aves de
rapina existiam historicamente nos Açores, se é que alguma cá existia… É também
por essa razão que vejo com enorme agrado a 9ª expedição paleontológica que
decorreu na ilha de Santa Maria nos últimos dias. É pela insistência, por vezes
mal compreendida, de investigadores como o Doutor Sérgio Ávila, que vamos
preenchendo o fabuloso puzzle da
construção biológica das nossas ilhas.
Olho para os resultados de cada expedição e fico com enorme
curiosidade sobre o futuro. A extraordinária aventura do conhecimento dá-nos
respostas positivamente contaminadas com mais perguntas…. Que novidades haverá
este ano? A expedição já terminou e aguarda-se o estudo completo do material
recolhido e dos registos efetuados para dar mais um passo em direção ao
conhecimento. Quem sabe se será este ano que ficaremos a saber se alguma
vez houve açores nos Açores?