Mesmo em Bruxelas, não pude
deixar de ouvir as reações às palavras do Ministro do Ambiente de Portugal relativamente
ao futuro fim do diesel. Comecemos pelo início. Por diversas razões, o uso de
viaturas ligeiras equipadas com motores propulsionados por combustíveis fósseis
irá decrescer nos próximos anos. A emissão de gases poluentes e a
consciencialização crescente do cidadão comum impelem os combustíveis fósseis
para a extinção.
Neste momento, apenas o preço parece
impedir a transferência generalizada das aquisições de viaturas novas para as equipadas
com sistemas elétricos ou baseados no hidrogénio. A prová-lo estão as vendas na
Noruega. Nesse país não se pagam impostos na aquisição de novos veículos com
emissões zero e isso catapultou as vendas. Hoje, 1/3 das novas vendas têm
emissões zero. Se se acrescentarem os híbridos plug-in, chegamos aos 49%. Ou seja, aparentemente, apenas o preço
impede a mudança de paradigma.
Há muitas pessoas que referem que
a fraca autonomia dos veículos “alternativos”, a falta de pontos de
carregamento e a falta de garantia da limpeza das energias de origem são argumentos
significativos e ainda sem solução. É verdade, são fatores limitantes, mas,
pelo que vemos na Noruega, não são inibidores de crescimento das vendas. O
preço das viaturas, sim, inibe e muito!
Diversas cidades apontaram o diesel
como o alvo a abater. Para além dos malefícios dos combustíveis em geral, o
diesel tem dois problemas acrescidos. Por um lado, emite quantidades elevadas de
outros poluentes, para além do Carbono, e, por outro, o dieselgate feriu o diesel de morte. As técnicas fraudulentas usadas
por algumas marcas de automóveis para ludibriar as emissões deram o argumento que
faltava.
Com os dados que temos neste
momento, a extinção do diesel é uma inevitabilidade. Portanto, parece-me que o
Ministro do Ambiente teve uma atitude responsável e precaucionária. Dizem-me
que o Sr. Ministro foi abrupto e, com as suas declarações, desvalorizou os
carros a diesel. Que preferíamos? Que o Ministro mentisse? Que omitisse
informação relevante? Penso que fez muito bem e até arrisco dizer que as suas palavras
apenas podem pecar por tardias.
Numa reunião aqui em Bruxelas, o
representante da Holanda, talvez o país da União Europeia mais susceptível às
alterações climáticas, afirmava que estão prontos para enfrentar as
consequências de uma subida de temperatura média de 1.5ºC acima do valor de
referência. No entanto, não estão preparados para as consequências de valores
superiores. Ora, acontece que os cenários optimistas apontam para 2.0ºC. É
muito mau. Algo mais consequente terá de ser feito e rapidamente.
A alteração do clima é um assunto
muito sério. Por mais que os “coletes amarelos” protestem, as alterações
climáticas continuarão aí e algo tem de ser feito rapidamente. Tentar esconder
ou esquecer a realidade é perda de tempo e uma enorme irresponsabilidade, ao
nível do crime.
Desde há umas semanas que se vão
tornando meses, presenciamos aqui em Bruxelas, manifestações periódicas com
dezenas de milhares de pessoas. Exigem atitudes mais concretas e consequentes
no que diz respeito ao ambiente, particularmente ao clima. Também, todas as
quintas-feiras, os estudantes dos liceus faltam às aulas para se manifestar.
A
secretária-geral da CRPM (entidade presidida por Vasco Cordeiro), no início de
uma reunião sobre o Clima, referia aos representantes regionais de toda a União
Europeia: “Temos que produzir resultados.
As crianças que se estão a manifestar lá fora precisam de resultados e de um
futuro. Cabe a nós fazê-lo!”. Eu sinto essa responsabilidade.
O diesel será
o primeiro a cair; outros se seguirão.
Notas: