“A Viagem de Juno”, editado pela Letras Lavadas, é o último
livro do Pedro Almeida Maia. Este é um livro a ler, definitivamente. Destina-se
a todos; de todas as idades, de todas as geografias e de todos os contextos
culturais. Podíamos dizer que estamos perante um simples livro de aventuras
passado nos Açores, que o é, mas isso seria redutor. Este é um livro
multidimensional, que permite ao leitor decidir o nível de descodificação que lhe
convém. Exemplificando, podemos encarar os cenários que nos vão sendo
apresentados como simples paisagens silenciosas, com a beleza pintalgada de
verdes e azuis e o soturno das nuvens pesadas, ou ir mais longe e capturar o
seu contexto histórico e científico. Nas duas vertentes, o livro esconde-nos cativantes
enigmas.
O autor, para chegar a este nível de erudição teve de
estudar. Aquilo que nos apresenta não é ficção científica gratuita. É uma
ficção realmente assente em ciência, em valores e em filosofia. Para isso, Almeida
Maia “caminhou nos ombros de gigantes”, citando Isaac Newton. Senão repare-se: o
livro tem por base mais de 130 publicações científicas, ensaios, livros e outros
registos. Isto, só por si, constitui uma garantia de potencial qualidade. O que
é apresentado no livro em termos científicos e tecnológicos não é um pensamento
imaginário, um sonho ou um conjunto de vários pesadelos, diga-se... Por mais estranho
que possa parecer para quem ler o livro, os cenários meteorológicos, as
descobertas científicas e os desenvolvimentos tecnológicos mencionados baseiam-se
em modelos, protótipos e teorias existentes, algumas delas em profunda
discussão no centro da Europa. Já a combinação desta ciência com a
divertidíssima mescla que o autor cria, é da sua exclusiva responsabilidade…
Almeida Maia mergulha-nos na acção na primeira página. Não
estou a exagerar. Na primeira página já estamos a navegar em águas
estranhíssimas, literalmente entre a vida e a morte. Ou, neste caso, como
entenderão na primeira página, entre a morte e a vida. Não, não me enganei na
ordem das palavras. Ou será que enganei…? Curiosamente, para descodificar este
micro enigma, apenas terá de ler as três primeiras páginas!
Há uns dias atrás, em conversa com uma amiga, comentávamos que
é simples olhar para uma paisagem subaquática e ver um peixe que se aproxima.
Ficamos fascinados com ele e julgamos o tamanho, a velocidade e a intenção. No
entanto, podemos também tentar identificar a espécie ou tentar compreender como
se insere na paisagem que está à sua volta.
Neste cenário imaginário, o autor sugere-nos ir muito além.
Ele sugere abandonarmos o peixe, mergulhar até ao fundo marinho e começar a
revolver pedras, encontrando tudo o que não estava à vista. Veremos
caranguejos, anémonas e toda a bicharada que se esconde durante o dia. Podemos
ser surpreendidos por polvos ou mordidos por moreias, mas apenas os temerários terão
acesso a este mundo e às suas emoções fortes. Ou seja, para vermos toda a
realidade não nos podemos colocar como simples observadores passivos. É isso
que este livro faz. Ele convida-nos a revolver as pedras que jazem sobre o
fundo da nossa preguiça. Convida-nos a explorar a multidimensionalidade do
espaço e ir além dele, à procura de todo o conhecimento, aquele que nos
emociona e fascina. Aquele conhecimento que o irá emocionar e fascinar!