domingo, 28 de abril de 2019

Crónicas de Bruxelas: 42 - "A Viagem de Juno"


“A Viagem de Juno”, editado pela Letras Lavadas, é o último livro do Pedro Almeida Maia. Este é um livro a ler, definitivamente. Destina-se a todos; de todas as idades, de todas as geografias e de todos os contextos culturais. Podíamos dizer que estamos perante um simples livro de aventuras passado nos Açores, que o é, mas isso seria redutor. Este é um livro multidimensional, que permite ao leitor decidir o nível de descodificação que lhe convém. Exemplificando, podemos encarar os cenários que nos vão sendo apresentados como simples paisagens silenciosas, com a beleza pintalgada de verdes e azuis e o soturno das nuvens pesadas, ou ir mais longe e capturar o seu contexto histórico e científico. Nas duas vertentes, o livro esconde-nos cativantes enigmas.
O autor, para chegar a este nível de erudição teve de estudar. Aquilo que nos apresenta não é ficção científica gratuita. É uma ficção realmente assente em ciência, em valores e em filosofia. Para isso, Almeida Maia “caminhou nos ombros de gigantes”, citando Isaac Newton. Senão repare-se: o livro tem por base mais de 130 publicações científicas, ensaios, livros e outros registos. Isto, só por si, constitui uma garantia de potencial qualidade. O que é apresentado no livro em termos científicos e tecnológicos não é um pensamento imaginário, um sonho ou um conjunto de vários pesadelos, diga-se... Por mais estranho que possa parecer para quem ler o livro, os cenários meteorológicos, as descobertas científicas e os desenvolvimentos tecnológicos mencionados baseiam-se em modelos, protótipos e teorias existentes, algumas delas em profunda discussão no centro da Europa. Já a combinação desta ciência com a divertidíssima mescla que o autor cria, é da sua exclusiva responsabilidade…
Almeida Maia mergulha-nos na acção na primeira página. Não estou a exagerar. Na primeira página já estamos a navegar em águas estranhíssimas, literalmente entre a vida e a morte. Ou, neste caso, como entenderão na primeira página, entre a morte e a vida. Não, não me enganei na ordem das palavras. Ou será que enganei…? Curiosamente, para descodificar este micro enigma, apenas terá de ler as três primeiras páginas!
Há uns dias atrás, em conversa com uma amiga, comentávamos que é simples olhar para uma paisagem subaquática e ver um peixe que se aproxima. Ficamos fascinados com ele e julgamos o tamanho, a velocidade e a intenção. No entanto, podemos também tentar identificar a espécie ou tentar compreender como se insere na paisagem que está à sua volta.
Neste cenário imaginário, o autor sugere-nos ir muito além. Ele sugere abandonarmos o peixe, mergulhar até ao fundo marinho e começar a revolver pedras, encontrando tudo o que não estava à vista. Veremos caranguejos, anémonas e toda a bicharada que se esconde durante o dia. Podemos ser surpreendidos por polvos ou mordidos por moreias, mas apenas os temerários terão acesso a este mundo e às suas emoções fortes. Ou seja, para vermos toda a realidade não nos podemos colocar como simples observadores passivos. É isso que este livro faz. Ele convida-nos a revolver as pedras que jazem sobre o fundo da nossa preguiça. Convida-nos a explorar a multidimensionalidade do espaço e ir além dele, à procura de todo o conhecimento, aquele que nos emociona e fascina. Aquele conhecimento que o irá emocionar e fascinar!

domingo, 14 de abril de 2019

Crónicas de Bruxelas: 41 - Obrigado, Doutor Ricardo!




Já vamos em mais de vinte anos de amizade e convívio próximo. Primeiro como meu chefe durante doze anos no Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, depois como amigos, a seguir como seu assistente parlamentar acreditado durante três anos e, mais recentemente, como colaborador dos eurodeputados eleitos pelos Açores. Eu conheço o Doutor Ricardo Serrão Santos.
Por ter convivido de muito perto, pude apreciar as excepcionais capacidades humanas, de liderança e de saber. Eu estava lá e vi.
Vi o Doutor Ricardo ao meu lado, em circunstâncias particularmente difíceis para mim. Deu-me a mão, evitando o meu colapso. Mais do que a cara, e isso já exigiu coragem da sua parte, ainda me deu a sua amizade atenta. Assim foi. Obrigado!
Neste momento, em que o Doutor Ricardo Serrão Santos se prepara para abandonar o Parlamento Europeu, sinto-me impelido a agradecer-lhe publicamente. Agradeço-lhe por me ter ajudado quando seria fácil não o ter feito. Agradeço-lhe a enorme competência, exigência, dedicação, bom senso e claridade com que exerceu o cargo de eurodeputado nos últimos quase cinco anos. Entre os assuntos das pescas e mar, da agricultura e desenvolvimento rural, das ciências, do ambiente, do turismo, passando também pela colaboração com países terceiros, essencialmente os da diáspora ou mais desfavorecidos, o Doutor Ricardo espalhou harmonia e entendimento.
Baseou toda a sua acção e todas as suas decisões no melhor conhecimento disponível em conjunção com factores de admissibilidade social e mais valias económicas. Reparem que não foi fácil. Teria sido mais simples aceder às exigências de poderosos grupos apologistas dum rendimento maximizado insustentável ou de perspectivas de crescimento ilusório. Mas, mais difícil ainda do que dizer simplesmente “não”, foi, como eu vi acontecer à frente destes meus olhos, convencer esses mesmos grupos que o caminho correto para eles próprios e para as gerações futuras passava pelo desenvolvimento sustentável e pela adopção de paradigmas de suficiência. Por isto e muito mais, a União Europeia e os mares do mundo estão agora melhores.
A herança que o Doutor Ricardo deixa no Parlamento Europeu é complexa, prestigiante e reconhecida. Foram criadas redes e foram desbravados caminhos que agora serão trilhados por outros. Não será fácil, mas é de grandes desafios que vivem os eleitos e cá estarei para ajudar. Desejo-lhes toda a sorte do mundo e, essencialmente, como provavelmente diria o Doutor Ricardo, “decidam com um olho na ciência e outro nos jovens que prezam!”
Quanto ao Doutor Ricardo, nem preciso de lhe desejar boa sorte. Depois de ter elevado o Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores ao topo das ciências marinhas mundiais e depois da passagem brilhante pelo Parlamento Europeu, ele acaba de ser seleccionado pelas Nações Unidas para uma importante missão junto da Década do Conhecimento dos Oceanos para o Desenvolvimento Sustentável. Em tempos de alterações climáticas globais, populismos e intolerâncias, o mundo precisa de gente boa e cimeira como é o caso do Doutor Ricardo. Como ouvi recentemente no Faial, “O Doutor Ricardo está igual para melhor!” É isto. O mundo não se pode dar ao luxo de o perder. Felizmente, o mundo está atento.