Finalmente chegou o extracto bancário e é mesmo verdade: Este ano vai poder fazer AQUELA viagem ! Então é assim: para além de preparar tudo o resto, que é com certeza muito importante, o que o vai fazer gozar a sua viagem, você que é mergulhador, é estar debaixo de água nos sítios que escolheu. Seria muito fácil dizer que o sítio tal é espectacular, ou que o sítio tal-e-tal tem os tubarões mais pacíficos do mundo. Mas para gozar mesmo a sério não vai bastar olhar, não se contente com isso, vá mais longe e mais fundo...
Se fizer antecipadamente os trabalhos de casa vai poder entrar noutra dimensão igualmente muito bonita e altamente compensadora. Esse é o Mundo Fantástico da Biologia Marinha.
A regra número um é: Planear; a número dois: Pesquisar; a número três: Comunicar.
Planear: é necessário saber onde pretende ir (dependendo dos seus sonhos e das suas possibilidade) e o que quer fazer (mergulho aventura, mergulho para iniciados, etc.).
Pesquisar: Antes de pensar em partir faça uma pesquisa na internet, nos motores de busca mais gerais, utilizando palavras chave como: o local onde pretende mergulhar, "sea", "underwater", "SCUBA", etc. Verificará, para sua surpresa, que obterá respostas seja qual for o sítio. Bem, pode ser que não encontre respostas se colocar um sítio realmente recôndito, mas se colocar um nome mais generalista, (p. ex. "Porto" em vez de "Cedofeita", é natural que tenha mais sucesso). Claro que lhe irão aparecer imensas páginas sem interesse, por isso, numa segunda tentativa, limite ainda mais a pesquisa e adicione o seu grupo de animais favorito (p. ex. "fish" ou "octopus"). Irá notar que está mais próximo do seu objectivo. Ao ler, ficará mais familiarizado com o local escolhido e começará a ter sensibilidade para os detalhes da sua zona e que espécies poderá encontrar. Agora, que está munido do nome das espécies, vá até à biblioteca, procure nas enciclopédias o que lhe interessa saber e deixe-se mergulhar pela aventura do conhecimento. Tome especial atenção às características morfológicas (forma, tamanho, cor, etc.) que lhe permitirão identificar as espécies, depois leia o que puder sobre o seu comportamento.
O comportamento é mesmo essencial! No caso de espécies agressivas, um pouco de conhecimento sobre o seu comportamento fá-lo-á aproximar ou recuar perante o desconhecido. Para além disso, o conhecimento do comportamento das espécies vai-lhe fazer compreender grande parte do que se passa debaixo de água. Mas não pense que é fácil, grande parte da informação encontra-se dispersa e para a encontrar é necessário trabalhar. Existem alguns livros que fazem uma súmula das principais características e comportamentos dos organismos subaquáticos, são chamados "Guias".
Para cada Oceano ou Mar existem guias específicos, muitas vezes limitados a um grupo de organismos. Algumas empresas são especializadas em excelentes guias, como os publicados pela National Audubon Society ou a Mc Graw Hill (excelentes para os Estados Unidos), a IKAN ou a Verlag (Mediterrâneo, Atlântico Norte, e outros) ou os FAPAS (que apresentam a vantagem de estarem escritos em Português). Atenção que é totalmente impossível fazer um inventário total de todas as editoras.
Consultar um guia é uma tarefa extraordinariamente simples. Todos os guias têm um índice com os nomes científicos (habitualmente no final) e a maior parte tem um índice com os nomes em inglês e na língua nativa da zona a que se refere. Para cada espécie há uma descrição, uma foto ou um esquema e, por vezes, um sistema de gráficos que simboliza a zona de ocorrência e as características principais (comportamento alimentar, frequência de ocorrência, etc.)
Normalmente, os guias são identificados pelo último nome do autor principal, pelo grupo de animais que representam, pela área a que se referem e pela editora. Não é fácil sugerir guias, principalmente porque a sua diversidade é enorme e porque nunca podem estar completamente actualizados, devido a novas identificações de espécies, à diversidade linguística, etc., mas aqui vão algumas sugestões:
Peixes
Gosto e utilizo muito o Debelius (IKAN). Dá uma excelente ideia da diversidade e das características diagnosticantes dos peixes do Atlântico e Mediterrâneo.
Para um guia com fotos com de grandes dimensões sobre o Mediterrâneo pode recorrer ao Patzner (Verlag). Este autor publicou também um bom guia para invertebrados.
Se for para as Maldivas pode utilizar o Nahke (Verlag). As fotos são grandes (o que simplifica as identificações), e os resumos sobre as espécies, embora muito curtos, encontram-se em duas línguas (Alemão e Inglês).
Invertebrados
Atenção: não há nenhum guia de invertebrados completo. Para os Açores, Madeira e Canárias utilizo o Wirtz (Verlag). Tem algumas gralhas, mas não são graves e permitem uma identificação das macro-espécies (macro quer dizer que são visíveis sem recorrer a lupas ou microscópios) mais comuns. Este autor publicou também um bom guia de peixes.
Crustáceos
O Debelius (IKAN) tenta fazer um inventário dos macro-crustáceos mais comuns no mundo inteiro. O resultado é um excelente guia de campo, mas obrigatoriamente incompleto.
Para Portugal o clássico é o guia Fauna Submarina Atlântica do Professor Luís Saldanha (Europa-América). Este guia, embora fraco em fotografias, tem um resumo sobre as espécies mais importantes de invertebrados, peixes e mesmo alguns répteis e mamíferos mais comuns em Portugal (incluindo obviamente as ilhas adjacentes).
Algas
Este grupo apresenta normalmente as maiores dificuldades de identificação. Aconselho o guia francês Boudouresque (Delachaux & Niestlé).
Comunicar: Depois de coligidas todas as informações importantes escreva às empresas de mergulho que pretende visitar e às entidades públicas de divulgação científica. Às primeiras peça esclarecimentos sobre as espécies e comportamentos que pretende observar, para além de obter respostas interessantes poderá avaliar o grau de empenhamento e de nível científico que estas realmente têm.
As entidades públicas de divulgação (embora pouca gente saiba, existem!) são as extensões para o grande público das Universidades e Institutos de Investigação. No caso dos mares dos Açores, esse papel é representado pelo Fórum Oceanos e pode ser contactado através da página internet (http://www.pg.raa.pt/oceanos). Através desse tipo de entidades é possível tirar dúvidas sobre os detalhes científicos ou legislativos mais específicos.
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