quarta-feira, 26 de julho de 2006

Nuclear, não obrigado!

Parte 1 - Esta semana terminou a Luso-Expedição 2006. Esta missão científica e pedagógica levou cientistas e estudantes, a bordo do Navio de Treino de Mar “Creoula” do Ministério da Defesa Nacional, até ao monte submarino Gorringe. Felizmente, tive a oportunidade de participar nesta inesquecível viagem. Num momento em que tanto e bem se fala da extensão da plataforma continental de Portugal é essencial conhecermos bem os nossos mares e os seus fundos. Apenas com a análise das macro-espécies observadas ou recolhidas, esta iniciativa da Universidade Lusófona aumentou em 40% o número de registos para este monte submarino. Espectacular!

Parte 2 - Depois da publicação do meu artigo sobre a caça-submarina recebi algumas mensagens congratulando-me pela opinião expressa e partilhando-a outras nem tanto… Aqueles que contestam a minha opinião alicerçam-se em dois vectores essenciais: 1) o baixo impacto ambiental da caça quando comparada com outras actividades humanas e 2) a falta de dados científicos sobre o impacto deste desporto. Houve outros argumentos esgrimidos, mas não são suficientemente robustos para merecerem referência.

Em relação aos dois pontos de vista expostos tenho que admitir que são basicamente verdadeiros. De facto, há actividades com consequências ambientais muito piores que a caça-submarina e não há muitos trabalhos que determinem o impacto ambiental da caça-submarina. Vou começar pelo segundo argumento. Não há muitos trabalhos científicos sobre caça-submarina e o seu impacto ambiental, mas há alguns. Destaco em especial o trabalho de licenciatura do meu colega Hugo Diogo e que foi parcialmente exposto nesta revista (verMundo Submerso número 87). Na sua tese, o Hugo através de uma abordagem desapaixonada, analisou durante diversas semanas todas as caçadas e mesmo grande parte dos tiros efectuados numa determinada área da Ilha de São Miguel. É um trabalho exemplar que deveria ser repetido noutras áreas de Portugal. Em termos gerais, o Hugo chega à conclusão que a caça tem impacto ambiental, mas que este é baixo. Outros dados apontam para o baixo impacto da caça, mas para a importância do somatório das diferentes actividades recreativas extractivas (nas quais está incluída a caça).

Agora o segundo argumento. Como demonstrado no trabalho do Hugo, de facto, a caça-submarina, especialmente se existirem limites e forem respeitados, como o são nos Açores, tem muito menos impacto que outras actividades. No entanto, isso não significa “impacto zero”. Esse impacto poderá ser colmatado com algumas iniciativas simples, mas de largo alcance: criação e respeito de áreas marinhas protegidas, avaliação dos candidatos a caçadores (talvez na sequência de cursos de apneia) e fiscalização efectiva.

Como referi acima, troquei algumas mensagens com diversos interessados na caça-submarina desportiva. Numa dessas mensagens escrevi, e foi-me sugerido que o publicasse, o seguinte: “A caça é um passeio pelo mistério, pelo desconhecido, há um certo frisson pelo perigo, é uma tentativa de atingir as melhores marcas e é também uma forma de convívio. Para alguns dos caçadores é ainda, e mais que tudo o resto, um complemento ao mar que amam. Caso os caçadores dêem passos no sentido da utilização sustentada dos Oceanos, os restantes utilizadores terão de lhe seguir os passos. E aqui é que está a pedra de toque! Enquanto os desportistas desprezarem, pelo menos na atitude pública, o meio de que tanto gostam, como se poderá esperar que os outros o façam?”

Consensualmente, as maiores ameaças ao mundo marinho são: a poluição, a sobre-pesca e a alteração da orla costeira. Porque há algumas iniciativas para que Portugal avance nesse sentido, destaco a inutilidade da energia nuclear. Portugal é um país pobre que, pelo que infelizmente conhecemos, não tem capacidade para fiscalizar as suas actividades industriais. Agora imaginem uma central nuclear desregrada…? Lembram-se de Chernobyl? Por outro lado, o lixo nuclear, que resta após a produção, tem uma degradação muito lenta (centenas de milhares de anos) e é altamente poluente. Por causa disso, alguns países resolveram “livrar-se” destes restos colocando-os em bidões e afundando-os nos fundos oceânicos. A degradação rápida desses recipientes (uma centena de anos) irá libertar o poluente que lá está dentro. Espero que alguém esteja a pensar seriamente nisto… Depois de se ter decidido que não haveria mais lançamentos de poluentes no mar alto, o lixo nuclear passou a ser “tratado” de diversas formas incluindo o transporte em embarcações eternas, que passeiam pelos mares sem porto de chegada. Há iniciativas tipo “varrer o lixo para baixo do tapete” que estarão operacionais em 2010, segundo consta. Algo me diz que esta é uma não-solução e que a deveríamos evitar enfaticamente. É curioso que os dois países que neste momento “debatem” a entrada no clube da energia nuclear são Portugal e… o Irão. Fará sentido?

Apesar de este ser um problema muito sério, não significa que nos esqueçamos do resto. Na minha opinião, temos de encarar o meio ambiente como um todo, em que todos temos a responsabilidade de minimizar o nosso impacto pessoal e trabalhar colectivamente para a recuperação dos ambientes degradados que, infelizmente, nos deixaram.

Para saber mais:

http://en.wikipedia.org/wiki/Nuclear_waste

http://www.sortirdunucleaire.org/


Publicado na coluna "Casa-Alugada"

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