Não há dúvida que este ano houve muito mais arte na Ilha do Faial que nos anos anteriores. Na minha opinião, há diversas razões para esse facto, começando pela própria preparação do ano. O trabalho feito ao nível da edilidade, no final do mandato anterior, com a exemplar organização da vereadora Sandra Costa, permitiu alicerçar alguns dos resultados observados este ano. O próprio dinamismo criado conduziu a propostas políticas eleitorais com grande ênfase na componente cultural.
Agora, já neste ano, a existência de uma enérgica vereadora a tempo inteiro para a cultura, assuntos sociais e desporto, a existência de uma biblioteca pública superiormente dirigida, um museu da Horta que continua a desempenhar o seu papel de firme mostruário da nossa cultura, uma empresa municipal que mantém o teatro faialense, o Cineclube da Horta que cimentou a sua actividade, a existência de um Conselho da Cultura e dezenas de pequenas instituições de artes e espectáculos, dá-nos razões para estarmos confiantes. No entanto, no outro prato da balança, a instabilidade directiva dos Amigos do Conservatório e o desorganizado e limitado apoio financeiro da Câmara Municipal da Horta são aspectos que nos fazem ter algum receio. Entre os prós e os contras, o saldo é francamente positivo, mas queremos mais e melhor!
Este ano, houve momentos que encheram as medidas em termos culturais. O espectáculo do Mário Laginha no Teatro Faialense, o Stabat Mater de Pergolesi, o Concerto de Vivaldi pela Horta Camerata foram alguns dos marcos da história deste ano musical. Há pequenos espectáculos, com particular destaque para a segunda actuação do concerto para piano a quatro mãos por Olga Horobetz e Marcello Guarini, que nos satisfazem completamente. Que espectáculo tivemos no Salão Nobre da Câmara Municipal! Para mim, no entanto, o ponto mais alto dos espectáculos musicais da ilha do Faial deste ano foi a apresentação do Requiem de Mozart. Baseou-se em músicos de São Miguel, contou com diversas participações faialenses e a direcção artística foi do “austríaco mais açoriano que existe”, o faialense Kurt Spanier. Aliás, curiosamente, quando o Coral de São José esteve no Faial, para cantar o Requiem de Mozart, tive oportunidade de falar com alguns dos elementos. Fiquei agradavelmente surpreendido quando me disseram que a actuação na nossa ilha seria “a prova de fogo” porque, diziam-me, “o nível cultural da Ilha do Faial é muito elevado, muito maior que em São Miguel e nos outros sítios”. Noutra ocasião, na Ilha Terceira, alguém do Grupo Foclórico dos Antigos Bailhos, do Posto Santo, dizia-me sobre os grupos do Faial: “Aquilo lá é sério. Eles bailam bem!”. É reconfortante, mas não chega.
Na minha óptica, para o futuro, deveríamos apostar ainda mais na formação. As bandas filarmónicas, os grupos de teatro, os ranchos foclóricos, e outras instituições têm, abnegadamente, feito um trabalho fundamental na preservação dos valores culturais, na dinamização do aparecimento dos novos talentos e a proporcionar-nos excelentes espectáculos. Isso é apenas possível graças ao apoio do Governo Regional e da Câmara Municipal. Ou seja, não há um único desses agrupamentos que sobreviva apenas com a quotização e outros apoios privados. É triste que não haja um empenho do nosso sector comercial e industrial para apoiar efectivamente as instituições culturais. A cultura faialense está muito dependente do poder político e isso não me parece saudável.
Por outro lado, não podemos deixar que os frágeis alicerces da cultura erudita da Ilha do Faial sofram qualquer perturbação. Isto é, precisamos de estar atentos para certificar que as anunciadas mudanças ao nível do Conservatório Regional da Horta são potenciadoras do nosso nível cultural e não apenas movimentações relacionadas com a economia de escala. Evidentemente que é importante o Estado ter uma postura adequada em relação aos seus serviços, até porque são pagos por todos nós, mas o saldo, em termos culturais, deverá também ser sempre positivo.
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