Vista interior do Aquário de Porto Pim.
Por FredericoCardigos
Por FredericoCardigos
Nos últimos dias tenho sido confrontado com a minha própria
consciência sobre o desempenho do Governo a que pertenço. Teremos feito tudo
bem? Fizemos o que estava ao nosso alcance? Poderíamos ter feito mais?
Hoje, fruto do ganhar de consciência moral coletiva, já não
se cataloga o desempenho das lideranças pela obra, mas sim pela consequência.
Ou seja, no caso do Governo, a maioria das pessoas não faz a avaliação pela
quantidade de betão gasta, mas sim pelo aumento dos níveis da qualidade de vida
e a sua sustentabilidade. Apesar disso, a estruturação dos Açores, parada
durante décadas de ditadura e, depois, lenta por duas décadas de inadaptação
aos novos paradigmas europeus, teve 14 anos de elevadíssima energia. Grande
parte da rede de escolas e da rede de estradas foi renovada, a maioria dos
hospitais e centros de saúde tem novos edifícios ou, pelo menos, novas
valências e os portos, marinas e aeroportos estão hoje num patamar sem
comparação com o passado recente. Penso que é incontestável reconhecer a diferença.
Nos últimos dois anos, como resultado de uma crise profunda,
de uma necessidade de concentrar esforços financeiros na manutenção e
funcionamento destas estruturas e porque, felizmente, as grandes necessidades
estavam já colmatadas, houve, de facto, uma redução no investimento estrutural.
Esta redução, que se alargou também ao setor privado, torna-se particularmente
evidente quando vemos a crise que paira na construção civil e os baixos níveis
de importação de cimento. O investimento, a existir, foi propositadamente
concentrado em pequenas obras que fizessem diferença, mas que não implicassem
dispêndios financeiros que não estivessem ao nosso alcance.
Outras unidades geográficas, incluindo alguns municípios dos
Açores, nunca se conformaram com as suas capacidades financeiras e o desastre
foi arrasador. Ainda hoje autarquias como Vila Franca, Calheta de São Jorge e
Povoação vivem quotidianamente com a amargura do investimento zero. O fantasma
dos despedimentos paira sobre esses locais, o que tem implicações claras na
qualidade de vida dos cidadãos que trabalham na dependência dessas
instituições. Não irá acontecer, até porque os esforços estão agora
concentrados no pilar social, mas a mera possibilidade de perder o emprego é
angustiante o suficiente para uma redução da qualidade de vida individual. Também
por essa razão, e estando nós em véspera de eleições, é absolutamente
necessário concentrar os esforços nos projetos de Governo que tenham
preocupações sociais acrescidas.
Apesar desta mudança de paradigma, continuamos a investir.
No departamento do Governo onde trabalho, conseguimos reorientar o investimento
para soluções que fossem pouco dispendiosas, altamente consequentes e
valorizadoras do património existente. Apenas analisando a ilha do Faial, com
esta aproximação, recuperamos o Miradouro da Lira, a Casa das Lavadeiras no
Capelo, a Casa dos Cantoneiros, auxiliámos a recuperação do porto da Ribeirinha
e, com a recuperação de parte da levada e diversos trilhos, criámos o Trilho
dos Dez Vulcões. Outras obras estão na sua fase final; como seja a recuperação
da Casa dos Dabney na Praia de Porto Pim (incluindo a adega, o celeiro e as
cisternas de água) e a antiga fábrica da baleia, que agora terá o nome de
Aquário de Porto Pim. Em paralelo, melhoramos as condições no Jardim Botânico,
adquirimos e recuperamos os Charcos de Pedro Miguel e criámos diversas
valências para a observação de aves. Nenhuma destas obras foi especialmente
dispendiosa, mas todas promovem a recuperação do património e facilitam a criação
de emprego. Digamos que é uma aproximação cirúrgica ao investimento.
Consequência: entre outros, o Parque Natural do Faial foi o vencedor do Prémio
Eden Portugal 2011.
Penso que o caminho da sustentabilidade financeira, social e
ambiental deverá continuar a ser trilhado. Para quem concordar, sugiro que veja
com cuidado os programas eleitorais das diferentes candidaturas às eleições de
dia 14 e opte pela que for mais coerente. Não nos iludamos com obras
megalómanas que não irão existir. Foquemo-nos no que faz diferença para o nosso
dia-a-dia e para os nossos filhos.
Se fizemos um bom trabalho, que era a pergunta inicial,
cabe-lhe a si decidir. Qualquer que fosse a minha resposta, por mais entusiasta
ou justificada que fosse, seria sempre a minha resposta e, neste caso, é a sua
opinião que conta. Para mim, foi um prazer ajudar a fazer!