É apenas necessária imaginação para detetar e usar os valores do fabuloso Mar dos Açores.
Foto: F Cardigos SIARAM
Na sequência de um debate sobre a proposta de nova Estratégia Nacional para o
Mar, em que voltei a referir a necessidade de se prever um capítulo sobre a
organização interna do Estado, que clarifique competências e obrigações, também
mencionei com um paradoxal misto de orgulho e frustração o valor do mar no Produto
Interno Bruto (PIB) regional. Orgulho porque é quase o dobro dos 2.4% nacionais
e frustração porque ainda não são mais do que isso. Há, claramente, um enorme
potencial de crescimento, mas é um crescimento que tarda e isso perturba-me.
No tipo de debate em que estava, por questões de protocolo,
não era o último a falar. A seguir a mim, falariam os representantes nacionais.
Isto é um risco habitual, mas, manda a cortesia, não se afirma nada na ronda
final que exija posterior resposta, até porque ela não poderá acontecer. Mas
nem sempre é assim…
Neste debate em concreto, um dos últimos palestrantes
resolveu reforçar que os 4% do PIB dos Açores eram um valor muito baixo para um
arquipélago oceânico. Até aqui tudo bem. É a sua opinião e eu até concordo. Podemos
fazer muito melhor. Mas acrescentou que era uma afirmação “indizível
publicamente!”. Ora, isto é que já não é muito cordial, principalmente não
havendo possibilidade de resposta...
É claro que é “dizível”! e é mesmo obrigatório dizê-lo, por
diversas razões. A primeira é que saber a verdade é um direito dos cidadãos e
compete aos seus dirigentes transmiti-la. Já passou o tempo da política da
mentira e da omissão. Como dizia o poeta, “Eu não vou por aí!”.
A segunda é que o peso do mar no PIB regional resulta de
anos de falta de autonomia regional no que diz respeito ao gigante azul. Para
além dos transportes marítimos internos e, parcialmente, das pescas, a política
de mar esteve centralizada até 2009, aquando da última revisão do Estatuto
Político-Administrativo. A partir daí, apesar das inúmeras resistências, os
Açores puderam legislar em termos de áreas balneares, espécies e habitats
marinhos, extração de inertes, investigação científica e exploração mineral, se
bem que para alguns desses temas, no formato de “gestão partilhada”. Portanto,
temos que dar tempo ao tempo e o tempo virá.
Por outro lado, estes 4% do PIB significam duas outras
coisas: um, estamos à frente! Em segundo lugar, temos uma enorme margem de
crescimento. Basta fazermos!
Por último, relembro que a proposta de nova Estratégia
Nacional para o Mar está em consulta pública. Caberá a todos nós,
principalmente aos que se preocupam com a boa utilização do mar, ler, pelo menos
o primeiro capítulo da Estratégia e opinar. Os documentos podem ser consultados
através do Portal do Governo, dentro da página da Direção Regional dos Assuntos
do Mar (mar.srrn.azores.gov.pt).