Polvo espreitando nas Caldeirinhas da Ilha do Faial.
Foto: F Cardigos ImagDOP
Teve início no dia 1 de Março a consulta pública sobre a nova Estratégia Nacional para o Mar. Este documento pretende substituir a anterior
estratégia, atualizando-a à luz dos novos desenvolvimentos e, essencialmente,
desbravar os caminhos necessários para que Portugal regresse de facto ao Mar.
Os redatores da proposta de Estratégia apostaram num caminho de utilidade
económica, mas tendo em atenção as limitações ambientais e oportunidades
sociais. Assim, conhecimento, emprego e retorno financeiro, talvez não por esta
ordem, são os motes que dão corpo aos vários volumes que se propõem
consubstanciar o documento que servirá para justificar as opções que Portugal
tomará.
O primeiro volume é a Estratégia em si. Nele é feito um
apanhado histórico recente da relação de Portugal com o Mar e, servindo-se
dele, esboçam-se os valores e os objetivos que devem nortear e inspirar o
retorno do nosso país à conquista do Mar que é seu.
O segundo volume, ou primeiro anexo, desta Estratégia, com
inspiração no documento “Hypercluster da Economia do Mar”, preparado pelo grupo
SAER do saudoso Professor Ernâni Lopes, tenta contextualizar a Estratégia
Nacional para o Mar na economia global e nacional. A utilização de imagens
simples, como “ventos” e “correntes”, “favoráveis” ou “desfavoráveis”, ajudam a
simplificar conceitos mais complexos.
O Plano Mar-Portugal aparece no terceiro volume, ou segundo
anexo. Sinceramente, desaconselho a leitura detalhada deste volume. Trata-se de
um esotérico exercício metodológico que tenta expor como se encaixam as fichas
do anexo seguinte. Essas sim, são importantes e, na realidade, dispensam bem esta
introdução. Entendo a necessidade do redator, de explicar claramente a metodologia,
mas, penso que, para o comum dos interessados, este capítulo é dispensável.
As fichas de ação aparecem então como um extenso documento
associado. São mais de quatrocentas páginas em que estabelecem as ações que
deverão ser executadas nos próximos anos e que se relacionam com o mar. Estas
fichas pretendem-se dinâmicas, mas aglutinadoras e responsabilizadoras das
entidades envolvidas. Com um certo sarcasmo, poder-se-ia dizer que sabem a
plano quinquenal do Partido Comunista Soviético, dado o nível de detalhe e
falta de maleabilidade. Ao contrário, se quisermos ser positivos e otimistas, como
prefiro, este é um subdocumento que poderá servir para medir exatamente o nível
de execução do Plano, atribuir responsabilidades e incentivar a ação coordenada
dos parceiros identificados. Também, claramente, até pela crítica tecida atrás,
é impossível que alguma vez seja um capítulo fechado. Especialmente nestas
fichas, espera-se dinâmica e ela terá de começar já na Consulta Pública.
Este documento está bem escrito e é um bom ponto de partida
para uma discussão pública alargada. É pena que o Plano Mar-Portugal e as
fichas de projeto tenham também sido submetidas a consulta. A discussão pública de
um documento com mais de 600 páginas fica de imediato sob a pressão de poder não
ser muito eficiente, apesar do longo período para o fazer (3 meses).
Na minha perspetiva pessoal, gostaria de ver incluído um
capítulo sobre os aspectos de organização interna no seio do Estado, em que
ficassem claras as competências das regiões autónomas de Portugal. Este não é
um tema despiciente e identificaria as responsabilidades e compromissos com a
utilização do mar para cada uma das ilhas dos Açores e da Madeira.
Há detalhes, como a referência ao código genético dos
portugueses, que me parecem deslocados. Agora, eu e quem quiser teremos a
oportunidade de, enquanto cidadãos interessados, nos expressarmos por escrito
sobre estes e outros detalhes da nova Estratégia.
O formulário que pretende simplificar as intervenções e a
sua posterior análise está disponível na internet, ao alcance de todos, e é
acessível, por exemplo, no Portal do Governo dos Açores, através da página da
Direção Regional dos Assuntos do Mar (mar.srrn.azores.gov.pt).
Resta saber se o oceano que nos rodeira é realmente
importante para os açorianos. Estou em crer que sim, mas este é mais um momento
em que as palavras, as intenções e os sonhos não são suficientes. É necessário
opinar e por escrito, nem que seja em simples concordância, mas temos que demonstrar
que a Estratégia Nacional para o Mar é importante para Portugal e determinante
para os Açores.
Continuamos com fantasias tropicais... Quando será que deixamos o mundo Disney e arregaçamos as mangas para mergulhar no mundo real? Recomendo vivamente que seja vista e revista a reportagem que passou na SIC - "Semear para pescar"...
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