Veículo subaquático autónomo "Infante" sendo testado no Canal Faial-Pico em 2003.
In: Relatório Anual de 2003 do Instituto de Sistemas e Robótica do Instituto Superior Técnico.
In: Relatório Anual de 2003 do Instituto de Sistemas e Robótica do Instituto Superior Técnico.
“Em 2029, super-computadores dominam o mundo,
determinados a eliminar a raça humana. Para destruir o futuro da humanidade
enviam um cyborg indestrutível - um Exterminador - para o passado, com a missão
de matar Sarah Connor, a futura mãe do líder da resistência humana, John Connor”.
Esta poderia ser a simples sinopse de um filme de ficção científica de sucesso [*].
Ou não…
Lendo uma
mensagem de correio electrónico de meu colega Eng. Luís Sebastião, registo “No início parece um género de um controlo de
formação e, depois, com um pouco de processamento de imagem levam a medusa para
um motor que a destrói em segundos...”. Trata-se da descrição de um teste
de robots aquáticos feito por uma equipa estrangeira. Estes robots,
automaticamente e através de sistemas computacionais muito avançados, detectam
e destroem águas-vivas [*]. O sonho do veraneante…
Claro que,
desenganem-se, o objectivo essencial destes “animais de ferro” não é
propriamente proteger os banhistas, até porque, apesar de destruídos, os
componentes das águas vivas continuam activos e viáveis o tempo suficiente para
ainda irritar. O objectivo prático é apenas impedir que os sistemas de refrigeração
das grandes indústrias fiquem entupidos com medusas, como aconteceu
recentemente numa central nuclear sueca [*]. Não posso dizer que não seja
importante, até porque sabemos quais as consequências que podem resultar de uma
central nuclear que deixa de ser refrigerada… [*]
No entanto,
tentar matar um problema raramente é boa solução. Sabe-me a pouco e a fraco.
Porque não, em alternativa, concentrar esforços em mitigar a base do problema
que, no caso das águas-vivas, aparentemente, são as alterações climáticas globais.
Dizem alguns entendidos que as temperaturas mais quentes promovem a
proliferação destes seres gelatinosos. Ao mesmo tempo, o decréscimo das
populações de predadores, vítimas da pesca involuntária, como é o caso das
tartarugas e dos peixes-lua, também parece dar uma ajuda neste crescimento
populacional involuntário. Portanto, diria eu, seria apropriado concentrar os
nossos esforços no combate à libertação de Carbono na atmosfera e não em construir
letais robots subaquáticos. Aliás, um parêntesis para dizer que bom mesmo era
acabar com aqueles outros robots que matam humanos à distância e sem julgamento
e a quem deram o pomposo nome de “drones”. [*]
Também não me
agrada nada que se transforme o mar à medida do homem. Não é assim. Na minha
convicta opinião, o mar deve ser deixado tão pristino quanto possível e de lá
devemos tirar, sustentavelmente, os recursos que necessitamos. Não temos o
direito de transformar o Oceano numa fria aquicultura.
O Mar é Selvagem!
Podemos lá ir buscar algum alimento e algumas soluções, estudá-lo, usufruir da
sua rebeldia e imprevisibilidade mas, penso eu, não temos o direito de o
modificar. Esta aproximação robótica é triste, fria e demasiado antropogénica
para o meu gosto.
Com tudo isto,
não pensem que sou contra a robótica ou, em particular, contra a robótica
submarina. Nem pensar! Sou um entusiasta e vibro com os esforços do Institutode Sistemas e Robótica da Universidade Técnica de Lisboa, parceiros do DOP/UAç,
para ultrapassar os problemas com que se confrontam diariamente. Principalmente
quando se tentam conceber veículos subaquáticos autónomos (os AUVs), que têm
enormes desafios associados ao controle de navegação, às comunicações e à
economia de energia, há que reconhecer que esta é uma ciência de ponta. É uma
ciência que cria instrumentos que auxiliam os cientistas do mar no estudo dasfontes hidrotermais de grande profundidade, dos montes submarinos e das grandes
massas de água. Utilíssimo e fascinante, sem dúvida nenhuma.
Pela minha parte,
desde que não lhes instalem instrumentos de matar, eu gosto imenso de robots.
Desde aqueles que construíamos em legos até aos que, com várias toneladas, já
vimos a ser testados no Porto da Horta, todos são fantásticos exemplos do
melhor que a mente humana tem para oferecer.
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