Comboio miniatura em loja na Suiça.
Foto: F. Cardigos
Era novo, muito novo, portanto já passaram alguns anos…,
quando ouvi falar pela primeira vez no interrail. Então, por 23 contos (115
euros), os jovens podiam viajar durante um mês por toda a Europa de comboio sem
pagar qualquer valor adicional. Alguns dos mais empreendedores juntavam
dinheiro religiosamente durante todo o período escolar para que, durante o
Verão, pudessem usufruir do interrail. Numas cidades acampavam, noutras dormiam
em casa de amigos ou familiares, comiam mal, a higiene pessoal durante aquele
mês era reduzida ao mínimo admissível, conheciam dezenas de pessoas, eram
confrontados com outras culturas e formas de ser e, essencialmente, tinham as
maiores aventuras das suas vidas.
No meu caso, para além de ter viajado por parte da Europa
ocidental, tive a sorte de viver a minha juventude no mais populoso concelho do
país (Lisboa) e passar férias no menos populoso (ilha do Corvo). Acreditem que uma das memórias que ainda hoje
guardo com maior ternura é a de chegar a Lisboa e ter os meus amigos a
mostrarem-me as músicas de um grupo novo, chamado Dire Straits. O grupo tinha
publicado um álbum chamado “Brothers in Arms” e, através dele, os meus amigos tinham
tomado conhecimento de um outro disco, mais antigo, com um concerto ao vivo
chamado “Alchemy”. Isolado no Corvo por três meses, com uma televisão errática
e a rádio resumida à Antena 1, eu não fazia ideia... Obviamente, no Corvo
sabíamos das grandes mudanças, até porque recebíamos os jornais e a Antena 1
sempre teve um serviço noticioso exemplar, mas faltavam-nos os pequenos
detalhes, as pequenas mudanças, a roupa que se tinha passado a usar, as
pequenas alterações nos hábitos…
No outro sentido, quando chegava ao Corvo, depois de nove
meses no Continente, via os meus amigos mais crescidos, as consequências
negativas do Inverno e as obras que, entretanto, tinham sido feitas… Lembro-me
como desfazia a minha mala rapidamente, metia os calções de banho e corria pelo
Porto da Casa, varadouro abaixo, e só parava depois de sentir a água salgada a
invadir-me o corpo. Lembro-me como ia à procura dos livros que o meu pai tinha
comprado para as minhas férias ou os que tinha comprado para ele e que eu lia
na mesma. A presença é muito mais apreciada depois de períodos, de preferência
curtos, de ausência.
Vem tudo isto a propósito de uma extraordinária notícia para
os jovens europeus. Por decisão do Parlamento Europeu, através de um
projeto-piloto implementado pela Comissão Europeia, haverá em breve um
interrail gratuito para os jovens que façam 18 anos! Imaginem, poder viajar
durante um mês de comboio sem pagar qualquer viagem!? Espera-se que sejam
abrangidos 20 mil jovens e estão a ser equacionados pagamentos complementares
para que aqueles que vivem em ilhas possam viajar de avião até à estação de
comboio mais próxima e aí iniciar a sua aventura. Como podem resistir?! É
impossível! No Google, ou noutro motor de busca da internet, escrevam “DiscoverEU”,
sim, tudo pegado, e investiguem. O hashtag do Twitter é #DiscoverEU. Imaginem o
que será sair de Lisboa, ir até Estocolmo, descer até Atenas, passar por Paris
e regressar de seguida aos Açores via Porto?
A maior alegria, a seguir à partida e a todas as aventuras
que se têm pelo caminho, é a chegada. Voltar a ver a família e os amigos
chegados, contar as aventuras que tivemos e tomar conhecimento do que aconteceu
na nossa ausência são das melhores sensações que existem. Para termos a alegria
de chegar, de encontrar, de abraçar e de festejar, temos que ter a coragem de
partir, de ir à descoberta, de nos atrevermos.... Acreditem em mim: atrevam-se a partir!