Berlaymont, o edifício principal da Comissão Europeia
Foto: F Cardigos
As características indelevelmente democráticas da União
Europeia obrigam a Comissão a estar permanentemente em comunicação com todos os
parceiros e partes interessadas. Também por essa razão, ao longo dos últimos
anos, habituámo-nos a encontrar funcionários da Comissão em muitas discussões públicas.
Nessas discussões, de forma pró-ativa, os representantes da Comissão expõem, esclarecem
dúvidas e registam preocupações, desafios e ambições. Mesmo nos Açores, tivemos
disso exemplo recentemente, com a chefe da Unidade RUP da Comissão a dialogar
com os interessados sobre o futuro da Coesão.
No entanto, esta está longe de ser a única forma de
auscultação da Comissão Europeia. São múltiplas as maneiras como a Comissão perscruta
direta e indiretamente os cidadãos Europeus. Entre as ferramentas utilizadas
destacam-se, por um lado, as avaliações ex
ante (avaliação de impacto das propostas legislativas) e ex post (avaliação de
resultados da legislação) , os
inquéritos direcionados a um grupo específico, as mencionadas reuniões, e, por
outro, as consultas públicas. A diferença entre o primeiro grupo e o segundo é
que no primeiro a Comissão vai à procura dos interessados, munindo-se de
gestores e especialistas nas diferentes temáticas, e, no segundo caso, espera
que haja reação por parte dos interessados, partindo do principio que as
pessoas que estão interessadas irão participar e, caso não participem, é porque
não têm nada a dizer sobre a temática em causa ou confiaram num interlocutor
comum.
Todas estas ferramentas são utilizadas, por exemplo, na
preparação de nova legislação. Por vezes, o resultado da consulta pública pode
mesmo inibir o lançamento de novas propostas de legislação. É disso exemplo a
gorada intenção de integração das diretivas Aves e Habitats. As organizações
não governamentais para o ambiente, como a Birdlife, mobilizaram os cidadãos e,
na fase de consulta pública, a Comissão Europeia recebeu centenas de milhares
de respostas demonstrando grande preocupação quanto à iniciativa legislativa. Independentemente
de outras razões terem também contribuído para a alteração de planos por parte
da Comissão, os factos são que houve contestação ao nível da consulta pública e
a Comissão Europeia recuou. Foi um processo de indubitável consequência.
Em resumo, a fase de consulta pública é tomada a sério por
parte da Comissão aquando da construção das novas propostas legislativas. Para
além da Comissão, também o Conselho e principalmente o Parlamento, analisam as opiniões
expressas pelos cidadãos e usam-nas para tornar mais robustas ou mesmo alterar
as suas posições negociais aquando do processo legislativo ordinário, em que
são finalizados os Regulamentos e as Diretivas que nos governam.
A Comissão Europeia costuma ter cerca de uma dezena de
consultas públicas a decorrer em simultâneo. Neste momento, estando nas
vésperas da apresentação da proposta de orçamento para o quadro financeiro
plurianual pós-2020, a Comissão Europeia tem seis consultas públicas especificamente
relacionados com este tópico.
Este conjunto de consultas públicas em particular merece a
nossa atenção. Relembro que obras como as Portas do Mar, em São Miguel, o
Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, no Faial e centenas de outros
investimentos em todas as ilhas foram possíveis também graças ao apoio
comunitário. No entanto, a política de coesão que facilitou esta parceria está
ameaçada por correntes de pensamento que privilegiam os retornos financeiros de
curto prazo. Porque a União Europeia nasceu também da valorização dos aspetos
não económicos, porque a coesão e a solidariedade são bens estruturais e porque
temos que pugnar pelos nossos interesses, parece-me fundamental expressarmos,
de forma coletiva ou individual, o que nos parecer mais relevante. O futuro da
União Europeia tal como a conhecemos pode depender disso.
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