Quando a atual presidente da Comissão
Europeia, Ursula von der Leyen, tomou posse, garantiu que iria apresentar uma
estratégia que conciliasse o progresso com a necessidade de nos conformarmos
com práticas adequadas à mitigação dos efeitos climáticos e à compatibilização
da vida humana com o ambiente. Poucos meses depois, através da pluma do
primeiro vice-presidente, Frans Timmermans, nasceu o Pacto Ecológico Europeu. O
Pacto Ecológico Europeu é a primeira das seis prioridades da ação da Comissão
Europeia para a atual legislatura que começou em 2019 e terminará em 2024.
O Pacto Ecológico Europeu, que
aconselho a leitura pela simplicidade e objetividade, deu o mote para um
conjunto de estratégias, legislação e ação de que começamos apenas ainda a
vislumbrar o início. Apenas para dar uma ideia da complexidade e potencial, refiro
que há onze áreas de diálogo com os interessados abertas na internet para
recolher opiniões e sondar tendências. Estas áreas incluem temas como “Aumentar
a ambição climática” ou “Acelerar a transição e o acesso à energia limpa em
parceria com a África”.
Comprovando a sua transparência, por
muito que os extremistas, os populistas e os decisores pouco competentes digam o contrário, a
Comissão Europeia tem sempre linhas abertas para recolher opiniões e informar
sobre todos os passos que dá. Ilustrando mais uma vez, todos os dias da semana
a Comissão Europeia, pelas 12 horas de Bruxelas, dá uma conferência de imprensa
em que, durante cerca de uma hora, esclarece com jornalistas todos os tópicos
pertinentes. Perguntas incómodas, como a invasão da Crimeia, o autoritarismo na
Hungria e o paradoxo entre o desrespeito pelos direitos humanos na China e as
relações comerciais deste país com a União Europeia, são respondidas por
responsáveis da Comissão. Qualquer pessoa pode assistir, basta googlar: “ebs
live site:europa.eu” (sem as aspas).
A dissertação sobre a transparência
afastou-me do tema. As minhas desculpas, mas revolta-me a falta de honestidade
sobre a ação da Comissão. Esta instituição tem muitos defeitos, mas a falta de
transparência não é um deles.
Estava eu então a referir-me às onze
áreas de diálogo relativas à concretização do Pacto Ecológico Europeu. Duas
dessas áreas tiveram nos últimos dias avanços importantes. Foram apresentadas
as estratégias relativas à biodiversidade e à alimentação sustentável. O nome
completo de cada uma delas é: “Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030 -
Trazer a natureza de volta às nossas vidas” e “Do Prado ao Prato” ou na sua
forma híper simplificada “B2030” e “F2F”.
Não há qualquer dúvida que ambas são
muitíssimo importantes e o apelo da Comissão Europeia é, na realidade, simples:
“tudo o que for feito a partir de agora deve estar em consonância com estas
duas estratégias”.
Imagine-se que alguém dizia que
queria reduzir em 20% o volume de fertilizantes e em 50% os pesticidas que são
utilizados na agricultura. E que tal aumentar as áreas das zonas formalmente
protegidas até 30% do território? Poderíamos pensar que esse alguém estava fora
do seu perfeito juízo, certo? No entanto, é mesmo isso que está mencionado na página
7 da F2F e na página 4 da B2030! São compromissos internos à própria Comissão e
progressivamente vertidos em propostas de legislação, mas que, em breve, se
estarão a alastrar por toda a União Europeia e mais além. Assim, por exemplo, a
renovação da Política Agrícola comum sofrerá três alterações para se poder
conformar com as estratégias e, outro exemplo, em Portugal, o Ministro do Mar,
Ricardo Serrão Santos já confirmou ser solidário com 30% de mar classificado
como área marinha protegida na União Europeia.
Podemos pensar, erradamente, que o
cuidado com a natureza é uma leveza romântica da alma humana. Nada mais longe
da verdade. A natureza fornece serviços aos seres humanos contabilizados em 40
biliões de euros por ano ou, posto de outra forma, mais de metade do produto
interno bruto do planeta depende do ambiente. Não é uma questão esotérica,
representa dinheiro.
A ambição destas duas estratégias é
elevada, mas é a solução para termos esperança no futuro. Estas duas
estratégias representam a resposta do mundo civilizado às gerações vindouras,
aos nossos filhos e netos. Com estas duas estratégias, e com a sua aplicação no
terreno, poderemos afirmar que fizemos, com esforço real, o que estava ao nosso
alcance.
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