Apesar de não acreditar no Pai Natal, não deixo de ter desejos para 2004. Basicamente, espero que o mundo se torne num local um pouco melhor ou, pelo menos, que aumentem as perspectivas de ele um dia melhorar. Penso que a humanidade ainda não
É por tudo isto que os meus desejos para 2004 passam pela alteração da política ambiental do meu país. Envergonha-me a inexistência de uma estratégia ambiental séria e concertada. Embaraça-me verificar que tem de ser a União Europeia a propor (quase impor) medidas de conservação do ambiente marinho. Citando um deputado europeu, Paulo Casaca: “a decisão [da abertura consentida da ZEE de Portugal] é totalmente contrária aos princípios da precaução, ignora os princípios de direito internacional da salvaguarda das ZEE (...), tem muitos aspectos de controlo virtualmente impossível e, acima de tudo, representa uma brutal negação do princípio que esteve na base da formulação nacional da Estratégia dos Oceanos (...)”. O mesmo eurodeputado cita Martin Fragueiro (Associação de Armadores de Barcos de Pesca de Marin, Vigo) para considerar que é uma ilusão pensar que os espanhóis estivessem assim tão interessados nas nossas águas porque “não têm recursos que justifiquem a operação”. Se estavam ou não, já nem é muito importante, mas, agora, podem!
O meu desejo é que os nossos governantes entendam que é necessário conhecer para explorar sustentadamente; explorar recursos sem os conhecer é uma atitude típica dos países do terceiro mundo em que o desespero dita as regras. Pior ainda, é ter indicações que os recursos estão severamente explorados e continuar a tentar explorá-los da mesma forma. Humilhante, é ter de ser a Comissão Europeia a empurrar o governo Português para proteger os recursos do seu próprio país.
A nível global, os meus desejos passam pela ratificação do Protocolo de Kyoto. Não irá resolver todos os nossos problemas, mas uma assinatura da Rússia naquele Protocolo poderácatapultar o mundo para um patamar mais arejado. Volto a repetir, não resolve todos os problemas, mas dá-nos esperança e... estamos a precisar tanto. Penso que, associadas à ratificação do Protocolo de Kyoto, irão surgir algumas medidas locais, mas de longo alcance, incluindo o investimento sério e concertado em energias alternativas. Têm-se visto algumas medidas muito interessantes, nomeadamente em Londres onde já há autocarros experimentais movidos a água. Imagine-se isto multiplicado por todos os países do mundo
Apoiemo-nos nos exemplos positivos e não nos agarremos a formas populistas de fazer política. Os nossos filhos merecem um mundo muito melhor do que aquele que nos preparamos para lhes deixar.
Nota: as citações do eurodeputado Paulo Casaca foram retiradas do seu artigo “Oceanos: estratégia ou folclore?” publicado no Jornal Correio da Horta e escrito em 9/12/2003. Mais informação sobre o plano de recuperação da qualidade do ar em Nova Deli, por exemplo, em http://www.ccities.doe.gov/pdfs/03partner_awards.pdf.
Publicado na coluna "Casa-Alugada"