É tão óbvio que maltratar os cientistas é danoso para a Sociedade que o Estado Francês, através do seu novo Governo, cedeu às pretensões dos investigadores. Cerca de 1500 novas vagas irão ser criadas nos quadros das instituições de pesquisa e universidades. Com este passo, espera-se que acabem parte dos contratos a prazo e se dignifique a carreira de investigador. Esta é a situação em França, que espera assim, em simultâneo, acalmar a ira dos investigadores e reduzir o seu fluxo em direcção aos Estados Unidos (
Em Portugal o quadro é um pouco diferente. A investigação efectuada pelos investigadores mais jovens faz-se através de bolsas e não se vislumbra o final desta tendência. Bolsas e mais bolsas, foi a forma encontrada pelo Estado Português para financiar a investigação. Hoje já não é apenas a investigação, é também todo o pessoal técnico
Um recém-licenciado em biologia marinha dificilmente terá emprego na iniciativa privada. Por um lado é demasiado especializado para a maioria dos empregos e, por outro, não possui as qualificações básicas para poder exercer a sua actividade nas profissões mais óbvias. Exemplifiquemos: um biólogo marinho deveria estar apto a conduzir uma embarcação ou a mergulhar, mas a Universidade não o qualifica para isso, portanto, todos os empregos relacionados
Por outro lado, nenhuma empresa irá empregar biólogos-marinhos recém-licenciados sem experiência. Na melhor das hipóteses podem-nos empregar a recibos verdes.
Resta-lhes o ensino ou a investigação. Para o ensino não servem porque as Universidades não lhes dão as cadeiras ditas “pedagógicas”. Terão de tirar um curso específico, chamado de “formação de formadores” e que é uma mina para extorquir dinheiro à Comissão Europeia. Toda a gente sabe... Com a tal “formação de formadores” poderão dar aulas no ensino privado ou semi-privado,
Por fim, temos a investigação. As instituições de investigação não têm dinheiro e têm falta de recursos humanos, os humanos têm falta de emprego. Como o Estado tem falta de investigadores criou um estatuto de bolseiro que mais não é do que uma forma de explorar mão de obra barata. Um bolseiro ganha 12 meses por ano, não tem contrato superior a três anos (sendo a média de um ano), tem uma segurança social desonesta (desconta
Na área da biologia-marinha a situação é suficientemente desesperada para que as pessoas aceitem esta condição de subemprego. No entanto, na área das engenharias ou medicina não é assim. Há outras soluções, que passam pelo emprego na iniciativa privada ou a emigração. Agora, digam-me o que escolherá um potencial investigador nestas áreas: trabalhar para o Estado ou optar pelas alternativas? Seria preciso ter muito “amor à camisola”.
Recentemente, uma força partidária apresentou uma proposta no Parlamento para que o estatuto do bolseiro fosse alterado. Talvez por a proposta ser do Partido Comunista, a maioria já afirmou que irá apresentar uma proposta própria... lá para Setembro. Assim, Portugal não vai lá... O Governo, por sua vez, anunciou a criação de 5000 novos lugares de investigadores, novos financiamentos para as instituições de investigação e um estímulo especial para que os melhores cientistas internacionais possam equacionar a hipótese de se instalarem em Portugal. Tanto as ideias do Partido Comunista
Outro problema é a “forma”. Será que irão adoptar a forma das bolsas ou a forma dos contratos honestos? Caso se opte pelos contratos honestos relembro que deverá ser feita uma avaliação séria e regular da actuação dos investigadores. Não podemos cair novamente no exagero de não avaliar os quadros da função pública. Isso iria inevitavelmente criar mais “tachos”
Notas: alguns dos factos mencionados foram consultados no jornal “Público” (http://jornal.publico.pt/publico/2004/04/09/Ciencias/H03.html ehttp://ultimahora.publico.pt/shownews.asp?id=1191970&idCanal=12).
Publicado na coluna "Casa-Alugada"
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