Naqueles dias em que tudo parece correr francamente mal, ponho-me a pensar com os meus botões: “o que poderá piorar este cenário?” Faço esse ensaio para verificar que “ainda podia ser pior” e que na realidade “tenho muita sorte em ter tido apenas sete azares consecutivos”. Claro que, invariavelmente, cai-me em cima mais um inesperado infortúnio.
Por diversas razões que não interessam para o caso, a semana das eleições regionais, incluindo as eleições regionais, não me correu de feição. Dificilmente poderia ter sido pior... Após o primeiro azar, dei por mim a pensar, “Não está mal de todo, repara que, por exemplo, o José Decq Mota ainda podia perder as eleições”. Não tinha ainda equacionado este terrível desígnio por completo quando o José Decq Mota não foi eleito! Ai, ai...
Enfim, só vos digo que as coisas continuaram numa sequência terrível, em que nada parecia correr bem. Até que... Fez-se luz! Em vez de equacionar pela negativa, resolvi rever todos os azares e interpretá-los pela positiva. Ou seja, por exemplo, o José Decq Mota não foi “não eleito”. Na realidade, ele ganhou um curto período de merecido descanso! Espero que tenha paciência para se candidatar à vereação da Câmara Municipal da Horta nas próximas eleições autárquicas. Eu preciso da sua voz crítica, incisiva, cooperativa e, principalmente, inteligente.
Na verdade, todos os factos podem ser vistos com uma perspectiva pessimista ou optimista, basta estar disponível. A interpretação é subjectiva e dependente de cada um. De tal forma isto é verdade que o facto de um cronista da cidade da Horta me ter comparado a uma “carpideira” pode ser depreciativo, ou não. Depreciativo porque eu, um homem honesto e viril (q.b.), ser comparado com uma mulher que é paga para chorar e gritar pelos mortos que não são os seus, não é muito prestigiante. Mas, por outro lado, posso pensar que foi um elogio porque significa que o tal cronista tinha apreciado a minha intervenção de tal forma que resolveu responder. Reagiu a algo que lhe parecia mal e traduziu-o por palavras escritas. Não posso dizer se ele tinha razão ou não, deixo isso à análise de cada um. Eu argumentei, ele argumentou e pronto.
Numa sociedade em que a razão e a opinião estão esquecidas, o facto de eu ter escrito algo suficientemente estimulante para outro responder já é motivador. Está alguém do outro lado. Alguém lê! É óptimo saber isso porque já julgava tudo perdido. Já via toda a gente agarrada ao telecomando, ou a lutar por ele, para poder ficar um pouco mais adormecido num zapping hipnótico. Mas afinal, não! Estou maravilhado.
Em relação ao tema de fundo, que tinha suscitado a intervenção e a resposta, tenho a dizer que não deve ser importante. Não que eu pense que não é importante, mas se não há mais gente a reagir ao findar do “Telégrafo”, enquanto nome de um diário faialense, é porque não deve ser importante. Numa ilha com apenas meio milhar de anos post colonização humana, uma das poucas instituições centenárias chega ao fim... Para mim é triste e, caso não se importem, irei “prantear” um pouco mais (o que é diferente de “carpir”), mas, como todos os outros azares de uma semana terrível, o desaparecimento do título “Telégrafo” deve ter um lado positivo. Eu é que ainda não descobri qual... Deixem-me acrescentar, em abono da verdade, que o “Incentivo” está, enquanto jornal, muito melhor que o “Telégrafo”. Escusavam era de lhe ter mudado o nome...
Aproveitando a onda de lamúrias, então aí vão mais umas: Não entendo porque autorizaram a abertura de uma loja de doces ali mesmo ao lado das Escolas Preparatória e Secundária da Horta? Será que os responsáveis não sabem que os doces fazem mal, especialmente, aos adolescentes? Também não consigo vislumbrar o lado positivo dos agentes da PSP de serviço a fumarem no Largo do Infante, durante o horário das aulas. Porque se dá tolerância de ponto a todos os funcionários regionais para irem ver um jogo de futebol? Já estou a ver as senhoras de meia idade a exigir tolerância de ponto para ver a telenovela da tarde!
Será que o problema é meu, por não estar disponível para compreender o lado positivo, ou será que estas coisas não têm mesmo “ponta por onde se lhe pegue”? Contra contingências inalteráveis da vida não vale a pena lutar, é melhor manter uma certa dose de “boa onda”, polvilhada de um pouco de humor e enfrentar a realidade com um sorriso nos lábios. Já em relação às inúmeras incongruências quotidianas, fruto do laxismo, incompetência, desonestidade ou irreflexão de quem é responsável, é nosso dever enquanto cidadãos chamar a atenção e, caso seja necessário, denunciá-las activamente.