Consultei os dados da lota de pesca dos Açores e verifiquei que o preço por quilo de mero na região é vendido a 7 euros em 2004 (http://www.lotacor.pt/). Isto significa que um mero de bom porte valia cerca de 140 euros para a pesca. Se este animal for caçado e vendido directamente aos restaurantes deverá valer, mais ou menos, o mesmo. “Mais” porque não há descontos (visto que não há facturas), mas “menos” porque o preço do restaurante tem de ser mais baixo, senão iriam comprá-lo legalmente à lota, claro está! Portanto, o balanço final deve ser razoavelmente o mesmo no que respeita ao benefício para o apanhador.
Mas, este mesmo animal, quanto vale para o turismo subaquático? Falei com os operadores de turismo dos Açores que têm mergulhos orientados, particularmente para este recurso. Eles são a NautiCorvo do Corvo, o Centro de Mergulho do Hotel Ocidental nas Flores e o Centro Náutico da Graciosa da Graciosa. O primeiro caso é particularmente paradigmático. Os pescadores do Corvo decidiram, por sugestão dos operadores turísticos, declarar uma zona como reserva voluntária, para não capturarem estes animais. Mas terá sido um bom negócio? E funciona? Irei tentar responder a todas estas perguntas.
O preço por mergulho nestas áreas é de cerca de 25 euros por pessoa. Varia muito por ilha o número de mergulhos, mas, sem sair da realidade, pode-se afirmar que o número de visitantes por mero anda entre as 50 e as 250 pessoas. Ou seja, há um lucro bruto entre 1250 e 6250 euros por mero. Fazendo a média, temos que cada quilo de mero vale 187 euros nestas ilhas! Para além disto, temos que pensar que as pessoas que vêm aos Açores ver os meros gastam dinheiro em transportes, hotéis e alimentação. Resumindo, um bom negócio para estas pequenas comunidades.
Apesar de não terem um local “reservado”, as empresas das Flores e da Graciosa encontraram locais não explorados pela pesca onde têm habituado os animais à presença não extractiva do homem. São os chamados secret spot do mergulho. No Corvo, o sucesso da Reserva Voluntária é tão grande e tão apaixonado que, e passo a transcrever uma citação do pescador David Câmara à RTP-Açores, “aquilo é nosso, para que se possa dizer que no Corvo temos alguma coisa para mostrar às nossas visitas!” Claro que neste momento, não passa pela cabeça de ninguém pescar e, muito menos, caçar naquele sítio. Anualmente, o Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores promove uma campanha de mergulho naquela área, por forma a monitorizar a saúde ambiental. O resultado mais importante é que, sim, os meros continuam lá. Para além disso, esta área começa a apresentar uma riqueza biológica como poucos locais nos Açores, e sem paralelo a nível nacional. É como se a riqueza existente ao nível das espécies bentónicas se tivesse propagado às restantes espécies que aqui encontram um pequeno refúgio. Esta última afirmação não é nada científica, mas é o que eu sinto e já lá mergulho desde 1988.
Nestas contas de somar, feitas em cima do joelho, podemos ainda pensar numa outra componente. Quanto é que o Estado (ou seja “nós”) ganhamos com os meros? Se o mero for pescado furtivamente nós não ganhamos nada. Não há facturas e, portanto, não se desconta. Se for pescado legalmente, e porque o pescador paga 17.5% de diversas taxas, este animal animal rende-nos cerca de 25 euros e é um óptimo pitéu. Por outro lado, o operador turístico paga 15 por cento de IVA nos Açores, portanto, se este animal for utilizado para o turismo subaquático rende-nos, por ano, 560 euros! Não pode servir para alimento do corpo, mas serve para alimento do espírito e ainda dá dinheiro!
Publicado na coluna "Casa-Alugada"
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