Tive a honra de participar na apresentação do Parque Natural Regional do Corvo a convite da Secretaria Regional do Ambiente e do Mar dos Açores e em representação do Director do DOP. Este Parque Regional começa na porção terrestre da Ilha e estende-se, mar adentro, até formar um rectângulo que envolve o limite de três milhas à costa. Evidentemente que, por si só, a conservação ambiental de uma ilha e do seu mar é uma iniciativa de louvar. No caso da ilha do Corvo aliam-se duas variáveis que apontam para a necessidade de uma classificação urgente: ambiente ainda bem conservado, mas sensível e vulnerável. Isto não significa que não se possa continuar a explorar, mas sim que a exploração tem de decorrer a um nível adequado aos recursos existentes.
Acontece que eu cresci a mergulhar nas águas da ilha do Corvo. Desde os 9 anos que passei as férias grandes no Grupo Ocidental dos Açores e, também por isso, tenho uma ligação afectiva profunda a esta ilha. Melhor do que eu, os próprios Corvinos sabem ser necessário conservar o património natural que os rodeia. Desde 1999 que os pescadores resolveram declarar uma área como Reserva Voluntária. Passou a não haver pesca no chamado Caneiro dos Meros. Graças a isso, a empresa local de mergulho pode continuar a vender, com garantia, imersões com meros de mais de 20 quilos.
Sabendo que os Corvinos entendem a importância e o potencial da protecção das suas águas, não estranhei que a apresentação tenha contado com mais de 10% da população, apesar de ter decorrido durante o dia e a horas de trabalho. Os Corvinos querem saber quais são os planos e querem participar activamente no seu aperfeiçoamento. Durante uma hora e meia, ouviram o que o Director Regional do Ambiente e restantes técnicos tinham a dizer. Alguns optaram por colocar de imediato algumas perguntas ou observações. Outros esperaram pelo pós-reunião para, em maior intimidade, exporem as suas questões e críticas.
Mesmo depois de terminar a cerimónia, continuava a sentir um nervoso miudinho. Depois de 25 anos a mergulhar naquelas águas, ficava dado o maior passo para a sua conservação efectiva…
Para além do Corvo, há, nos Açores, outras áreas marinhas protegidas. A saber: Caldeirinhas (Faial), Fajã de Santo Cristo e Ilhéu do Topo (São Jorge), Baía de Angra (na Ilha Terceira protegida por razões arqueológicas), Ilhéu de Vila Franca do Campo (São Miguel), quatro baías em Santa Maria e o Banco das Formigas. Nestas áreas é urgente fazer alguns retoques de longo alcance. Por exemplo, há que enquadrar as Caldeirinhas e restantes sítios Natura 2000 do Canal (Baixa do Sul e Ilhéus da Madalena) numa unidade maior. Isto já está planeado e é importante avançar com a apresentação pública do Parque Marinho do Canal Faial-Pico. Para o Banco das Formigas (onde está incluído o Recife Dollabarat) é necessário especificar os regulamentos, tal como preconizado na legislação que declarou a área marinha protegida. Os habitats e espécies encontrados na coroa deste banco têm uma beleza “de cortar a respiração” e o desrespeito a que frequentemente se assiste das medidas de protecção é um verdadeiro crime de lesa património.
Mas a conservação do ambiente marinho dos Açores, nas profundidades mergulháveis, não pode ficar por aqui. É necessário e urgente classificar e, acima de tudo, proteger eficazmente, áreas em todas as ilhas. Para quando uma gestão eficiente da costa Nordeste nas Flores, da costa das Lajes no Pico ou dos ilhéus da Praia e de Baixo e da Restinga na Graciosa, da costa das Quatro Ribeiras na Ilha Terceira, da Caloura em São Miguel, ou da Pedrinha em Santa Maria? Para além das razões puramente ambientais, este conjunto de iniciativas garantiria o futuro de soluções económicas mais variadas, nomeadamente através do mergulho.
Em termos gerais, a criação do Parque Natural Regional da Ilha do Corvo representa o meio do percurso. Ainda é preciso “nadar” mais um pouco até termos um ambiente marinho protegido, mas estamos no bom caminho. Parabéns à Secretaria Regional do Ambiente e do Mar por estar a pegar com enorme delicadeza e bom senso em temas que, noutros locais, deram azo a climas de pré-ruptura social.
Publicado na coluna "Casa-Alugada"
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