segunda-feira, 16 de outubro de 2006

A Realidade da Educação Ambiental

“O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu no final do século XX e designa o progresso económico integrado com o equilíbrio ecológico e com a preservação da qualidade de vida das populações humanas a nível global” (adaptado de Wikipédia). É praticamente unânime que apenas as sociedades assentes nos princípios inerentes ao desenvolvimento sustentável terão a capacidade de singrar a longo prazo. Para que seja possível viver nesse equilíbrio entre a ambição do homem e as limitações naturais é necessário que a informação sobre os valores e boas práticas ambientais circule. É exactamente neste ponto que a educação ambiental tem um papel determinante.

Estive recentemente na Ilha da Madeira, no Concelho de Santana, a assistir a uma reunião do projecto REIA MAC - Rede de Núcleos de Recursos de Educação e Informação Ambiental da Macaronésia (financiado pelo fundo europeu Interreg III B). Nessa ocasião, tive a sorte de assistir a diversas palestras tendo como pano de fundo a temática da educação ambiental podendo verificar que esta disciplina é muito mais complexa e abrangente que a simples disponibilização de informação. A educação ambiental deve informar da diversidade de interacções para que dinamizadores e população busquem as soluções, e muitas vezes das próprias perguntas, para os problemas eco-sociais (mais detalhes em www.aspea.org).

Na mesma reunião conheci uma série de pessoas e iniciativas que tentam incutir os bons comportamentos ambientais nas populações da Macaronésia (isto é: Açores, Madeira e Canárias) e disseminar o conhecimento sobre o mundo natural.

Portugal, enquanto país, tem andando pelo mundo da educação ambiental sem uma estratégia definida, saltitando entre pequenas iniciativas razoavelmente informadas e imbuídas de um espírito voluntarista admirável. A Estratégia é importante para que se possam definir objectivos gerais, metodologias e, periodicamente, se possa proceder à avaliação dos resultados. Nos Açores, felizmente, o panorama é razoavelmente diferente. Não há ainda uma estratégia formal, mas há uma linha condutora que tem incentivado o aparecimento de estruturas de educação ambiental e tem promovido a relação entre estas e as populações locais. Foi desta forma que nasceram as infra-estruturas de informação e educação ambiental dos Açores (centros de interpretação ambiental e ecotecas). Praticamente todas as ilhas têm, pelo menos, uma destas infra-estruturas. O centro cultural e ambiental da ilha do Corvo fechará em breve o anel do Arquipélago.

Agora, na Madeira, aprendi que não basta criar as estruturas. Numa muito interessante intervenção da Professora Helena Barracosa, verifiquei que, a nível nacional, grande parte destas estruturas sofrem de males endógenos. Por exemplo, faltam meios de acesso para os portadores de deficiência, meios de segurança, não há coerência ambiental, as actividades são pouco diferenciadas, há pouca participação, há pouca implicação dos docentes, as actividades não estão orientadas também para a população adulta, não há avaliação dos equipamentos ou actividades, as equipes educativas das ecotecas e centros de interpretação não têm estabilidade profissional, não têm a formação adequada, são muito instáveis e são constituídas por poucos elementos, há uma forte sazonalidade nas acções ficando os centros sub-utilizados e com falta de manutenção, os modelos de gestão são pouco ágeis, sendo incapazes de gerar fundos ou concorrer a projectos e estão demasiado dependentes de vontades políticas, falta a divulgação dos equipamentos e não há funcionamento em rede. Tenho a esperança e a sensação que a situação nos Açores é melhor. No entanto, talvez devido à juventude da rede açoriana, falta fazer a sua avaliação. É necessário fazer uma caracterização das estruturas, verificar os pontos fracos e fortes e, por exemplo, criar as metodologias adequadas para que a passagem da mensagem seja mais eficiente e interessante.

Uma das máximas do desenvolvimento sustentável e do ambientalismo em geral, que tenta ser transmitido através da educação ambiental, é “pensar globalmente, agir localmente”. Com esta frase simples, chama-se a atenção para a importância de todo o cidadão ser pró-activo e agir de acordo com a sua consciência, mas tendo em vista o bem-estar global pensado a longo prazo. Assim, assuntos delicados como a paz, o aquecimento global, a globalização do comércio e dos comportamentos, a fome, os direitos do homem e da criança, entre outros, têm que estar na nossa agenda quotidiana. Não podemos esconder a cabeça na areia e pensar que é um problema dos outros. Está no nosso mundo, logo é um problema nosso!

Na época da informação áudio-visual há dois documentários essenciais para quem se quiser manter informado sobre esta temática. “O Pesadelo de Darwin” e “Uma Verdade Inconveniente” são dois documentos instrutivos e didácticos a ver urgentemente. Não são filmes para crianças (principalmente o primeiro) e, advirto, que não irá ficar nada bem disposto. A realidade tem destas coisas…

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