segunda-feira, 8 de junho de 2009
O Senhor Embaixador
Poucas são as pessoas que podem “beber água em todas as fontes” como este embaixador faz. Nos portos desse mundo, por onde passou, sempre fez questão de deixar algo muito mais valioso que as divisas que não tem, nem precisa. Também fez sempre questão de trazer qualquer coisa, mas, desenganem-se, nunca para proveito próprio. No próprio instante em que recebia informações, músicas e tradições, através da rádio, de imediato partilhava o que aprendia. É nobre o nosso Embaixador Genuíno.
Como todas as pessoas verdadeiras, líder da sua arte, Genuíno Madruga viu-se rodeado de outras pessoas de bem que, abnegadamente, fazem a extensão da sua missão, amplificando a sua voz e os seus actos. A equipa de apoio, que inclui jornalistas, radioamadores, escuteiros, familiares e amigos, usa todo o tempo livre para, em todo o arquipélago dos Açores, transmitir a emoção da grande aventura e dar a conhecer as regiões visitadas pelo velejador. A cadeia de rádios que, semanalmente, retransmite os detalhes das culturas visitadas por Genuíno Madruga serve também para unir as ilhas do Arquipélago. Com mote nas viagens de circum-navegação, são feitos outros relatos, seguidas outras aventuras e partilhadas ainda mais experiências. A distância que o Genuíno percorre é proporcional aquela que encurta nas nossas ilhas e a prova que o mar muitas vezes é sinónimo de união e não de isolamento.
No currículo deste embaixador contam-se como pontos altos ter sido o primeiro açoriano a dar a volta ao mundo em solitário, o primeiro português a passar o Cabo Horn (Chile) de Este para Oeste (contra o sentido natural) e o décimo cidadão do planeta a ser reconhecido por o fazer. No entanto, a essência do currículo está nas palestras, reuniões e confraternizações em que vai participando ou motivando. O melhor que os portugueses das descobertas tiveram está condensado, como que destilado, em Genuíno Madruga. Assim, apesar de parecer impossível, continua a dar-nos novos mundos.
É desta forma que o “aristocrata dos tempos modernos” dá o exemplo para que os nossos filhos percebam que há muito mais e muito melhor planeta para além dos vícios que os rodeiam. A sua permanente aventura, para além da inspiração que nos trás, é motivadora de acções positivas e altruístas.
Senhor Embaixador Genuíno Madruga, que os bons ventos vos continuem a levar para muitos sítios de onde nos continue a enviar História e estórias.
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Os Desafios Ambientais em 2009
Convém termos presente que a situação ambiental nos Açores é muito melhor que na maioria do Planeta Terra. Há locais em que a guerra, a fome, a miséria, a falta de educação e outros factores colocam a natureza sob pressão. É impossível dizer a quem tem frio que não pode cortar o último arbusto e é muito complicado tentar transmitir a importância e o determinismo das alterações climáticas a quem não sabe ler. Ou seja, apenas num contexto de privilégio cultural, social e económico é possível chamar a atenção sobre os problemas ambientais, por mais catastróficos que sejam. E são.
Por sorte, nos Açores o clima social é o adequado para pensarmos e debelarmos a maioria dos problemas ambientais de que padecemos e para pensarmos como podemos contribuir para a manutenção e melhoria da nossa qualidade ambiental. Para o fazer, o melhor é começar por identificar os problemas. Em vários relatórios e outros documentos há algumas mazelas que são referidas recorrentemente. Entre elas: a inadequada gestão da água e a dos resíduos, a perda da floresta natural e o decrescimento dos recursos marinhos vivos renováveis.
Em relação aos recursos marinhos, de facto, estamos tão preocupados que iniciámos e mantemos um contencioso europeu sobre esta matéria. É uma luta que está a ser travada ao mais alto nível e ao cidadão em geral cabe a tarefa de pressionar para que a normalidade volte ao sector das pescas açorianas. Não é possível manter-se a abertura generalizada das águas em volta da ZEE dos Açores. É má gestão e a responsabilidade, até por ter reiteradamente avisado, não é da Região Autónoma.
No que se refere à gestão dos resíduos, apesar de alguns esforços mais ou menos concertados, o certo é que continuam a imperar soluções que não garantem a valorização da maior parte deles ou a salubridade do depositado. Recentemente, após muito tempo de trabalho conjunto, intenso e alargado, o Governo publicou legislação que articula as soluções para as diferentes ilhas e atribui responsabilidades. Assim, o Governo dos Açores decidiu instalar as soluções para as chamadas “ilhas da Coesão”. Nos próximos anos serão construídos diversos centros de processamento, transferência e valorização orgânica por compostagem. Os dois primeiros grupos de centros servem para triar e remeter para destino final adequado cerca de 1/3 dos resíduos. Um terceiro grupo serve para transformar a matéria orgânica em composto. Este composto poderá servir como aditivo para os solos. Pensa-se conseguir, desta forma, tratar a maioria dos resíduos. O restante deverá ser depositado em aterro ou valorizado energeticamente. Isso poderá acontecer endogenamente, em cada ilha, ou numa ilha em que esteja disponível uma destas soluções. Em paralelo, é imprescindível que o cidadão dos Açores mude o seu comportamento em relação aos resíduos. Teremos, obrigatoriamente, de fazer um esforço na redução dos resíduos produzidos, com inteligência reutilizar o que for possível e participar nas iniciativas da autarquia para separar o lixo logo à partida.
Quanto à gestão da água nos Açores, o maior problema reside provavelmente numa má estratégia estabelecida no passado. Arrotear as terras de floresta de altitude, especialmente as ocupadas com turfeiras, pode ter sido um erro que agora estamos a pagar. É que esta flora tem a importante capacidade de absorver água no período de chuvas e disponibilizá-la, lentamente, no período de seca. Evidentemente, estamos perante uma infeliz conjunção de factores que, ao referido arroteamento, junta níveis mínimos de precipitação e um aumento na qualidade de vida e, em consequência, do consumo. Portanto, a curto prazo será necessário que cada um de nós utilize a água com a parcimónia possível e que se recuperem largas manchas de flora natural. Aliás, se tivermos em atenção que, entre as mais de mil espécies de flora existentes nos Açores, apenas 30% cá estavam no momento da colonização (as restantes foram trazidas pelos humanos), temos uma razoável indicação da pressão a que estão sujeitas as plantas dos Açores. Para além da difícil gestão da água, há outros serviços ambientais que estão em perigo e que beneficiarão com a promoção da flora natural dos Açores, como a retenção de solos, a protecção de arribas e a manutenção de espécies superiores (garantindo as cadeias tróficas).
O Arquipélago dos Açores é um oásis em termos ambientais. Não temos grandes problemas de poluição, é possível que as alterações climáticas não venham a ter um grande impacto directo e os recursos estão razoavelmente preservados. No entanto, as nossas mais-valias são a plena consciência dos problemas que temos e possuirmos recursos humanos, tecnológicos e financeiros para os resolver. Caberá a cada um de nós, dentro das nossas possibilidades, contribuir para um mundo em sintonia com a nossa capacidade de carga ambiental.