sexta-feira, 18 de junho de 2010

Realmente…

Há colunistas, também neste jornal, que utilizam uma técnica abrasiva e vil que denominaria de “atiro para ser conhecido”. Com a aplicação desta técnica, não há informação, justificação, um rasgo de justiça, uma ideia original ou, sequer, um laivo de honestidade. Cegamente, atira-se em todas as direcções, até porque algum há-de acertar. Esta técnica tem a única vantagem de empurrar os visados para uma resposta e, assim, ganhar visibilidade e protagonismo. Há diversas figuras nacionais que utilizam esta técnica, mas, tipicamente, são líderes de pequenos partidos de oposição, sem crédito e sem qualquer mérito. Falam apenas para introduzir ruído e obter dividendos fáceis, estéreis, inconsequentes e perecíveis. A sua argumentação, invariavelmente, passa pela utilização de chavões populistas e apelam, de forma velada, à xenofobia. Talvez por desde tenra idade ter vivido em terra que não era a minha de nascença, noto a xenofobia à légua.
Apenas em termos de brincadeira assumida, por vezes, escrevo sobre assuntos que não domino. De resto, escrevo e publico artigos sobre ambiente, paisagem, conservação da natureza, mar e mergulho. Acontece também dissertar sobre temas culturais e sociais, mas apenas com a superficialidade de um interessado que contempla, sem me aventurar no conselho ou crítica, excepto quando informado. Pergunto, oiço, contraponho e, apenas depois, tento estabelecer as minhas conclusões e, se justificável, partilho-as.
O Ambiente dos Açores está em óptimas condições. Mas para se poder falar de Ambiente há que definir Ambiente. Para além de uma data comemorativa, o Ambiente inclui as condições atmosféricas, oceanográficas, geológicas, biológicas e ecológicas. Se o bom estado ambiental existir poder-se-á, eventualmente, usufruir do mesmo. Ou seja, há dois passos sucessivos e não transponíveis. Primeiro, bom estado ambiental e, posteriormente, o usufruto do mesmo. Centros de Interpretação, trilhos, bares, restaurantes, e outros, são muito importantes até porque permitem o usufruto e a recolha de mais-valias económicas e sociais, mas, para existirem, a primeira componente tem que ser salvaguardada. Portanto, quem quiser escrever sobre ambiente, por favor, comece de início, pelo Ambiente.
Através de diversas classificações nacionais e internacionais, o Ambiente dos Açores está certificado como possuindo uma enorme qualidade. Não sendo exaustivo, deixo apenas as classificações que dependeram da actuação do departamento de Ambiente que dirijo: Reservas da Biosfera, Áreas Ramsar, Áreas Marinhas Protegidas da OSPAR, Quality Coast e, admirem-se os menos informados, Praia de Ouro para a Praia de Porto Pim, na Ilha do Faial.
Para obter estas classificações há um trabalho de bastidores, aparentemente invisível (principalmente para quem não quer ver…), que analisa cada indústria potencialmente poluidora, monitoriza diversas variáveis ambientais e, sempre que necessário, actua. É por esta razão que, no Porto da Horta, todos os dias (não é uma crónica a cada quinzena…) mergulhadores saem para o mar e recolhem uma alga involuntariamente introduzida no nosso porto. Se esta alga se expandir, estaremos perante o maior desastre ambiental jamais ocorrido nas nossas águas.
Porque estamos conscientes que os verdadeiros problemas ambientais das nossas ilhas não são edifícios, temos lutado permanentemente contra a proliferação dos organismos invasores, pela boa gestão dos resíduos e pela salubridade da água de consumo. Entre as diferentes técnicas utilizadas, e é apenas uma delas, utilizamos a educação ambiental. E entre as diferentes técnicas utilizadas para a educação ambiental, lá está, a interpretação com os desejados edifícios e o betão associado que alguns arquitectos anseiam. Mas esse não é o Ambiente. O Ambiente é o que lhe está subjacente, é muito mais vasto e, diga-se, muito mais importante e permanente.
Entre as diferentes técnicas de educação ambiental contam-se a promoção das actividades escolares e, sem admiração, os Açores têm o maior nível de implementação de eco-escolas a nível nacional. Para além disso, dinamizamos acções em grande parte dos eventos dos Açores. Veja-se agora o caso da Feira do Mundo Rural do Faial, com o nosso Eco-Pavilhão.
Na Ilha do Faial há um subdepartamento chamado Parque Natural de Ilha do Faial. Este núcleo é constituído por trinta jovens e menos jovens que, dedicadamente, melhoram as condições ambientais do Faial. Através de acções no terreno estão a fazer (não são palavras escritas, estão mesmo a fazer!) a limpeza de flora invasora e a replantação de flora natural no Monte da Guia, Morro de Castelo Branco, Vulcão dos Capelinhos e Caldeira. Dinamizaram, em conjunto com as Freguesias, a limpeza das orlas costeiras e foram muito mais além. Estão a preparar o modelo do Parque Natural de Ilha dos Açores e não se admite que um cronista, sem qualquer pergunta fazer, ponha o trabalho deste grupo em causa. Não é fácil manter-se o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos em funcionamento, com toda a sua complexidade tecnológica, e, ao mesmo tempo, criar as valências que irão ser apresentadas nos próximos dias. Pergunte-se antes de escrever. Se não retirar o veneno dos dedos, pelo menos permite que não façamos figuras tristes ao errar completamente.
Alguns cronistas não querem saber, mas o Faial tem dos mais elevados índices de exportação de resíduos do país. Isso não significa que tudo esteja pronto, mas, como alguns cronistas deveriam saber se perguntassem antes de atirarem maldosas calúnias para a imprensa faialense, há um projecto em elaboração para requalificação do aterro controlado da Praia do Norte. E, alegre-se cronista do betão, haverá um investimento associado de seis milhões de euros!
Da minha casa olho para o Canal e vejo um porto em construção, barcos à vela e canoas encimadas pelo ponto mais alto de Portugal. Eu sou um privilegiado por viver nesta terra e, como tal, trabalho muito para a preservação e para a melhoria das condições ambientais, em primeira linha na componente da existência do bem ambiental e da sua qualidade, mas também, assumidamente em segundo plano, na sua vertente de contemplação e usufruto. Oxalá, outros, de forma crítica e participativa, percebam o mesmo já que, para alguns, a sua existência implica não morderem a própria língua...

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